Folhear um álbum fotográfico é como atravessar um portal. A cada virar de página, não apenas imagens surgem, mas sensações, cheiros, risos que pareciam esquecidos. É memória em papel, colada com cuidado ou encaixada com precisão entre plásticos protetores. O álbum fotográfico — físico, palpável — guarda mais que fotografias: ele preserva gestos, afetos e silêncios.
No campo técnico, os álbuns surgem como extensão do processo fotográfico, organizando e protegendo imagens contra o tempo. Ainda hoje, são feitos com papel acid-free (livre de ácido), o que evita o amarelamento e a deterioração das fotos. Há álbuns artesanais, costurados à mão, e outros que seguem linhas modernas com tecnologia de impressão fotográfica digital diretamente nas páginas. Em todos, porém, há um ponto comum: são construções narrativas da vida.
O fotógrafo e curador espanhol Joan Fontcuberta afirma que “a fotografia não mostra o que vemos, mas o que queremos ver”. E o álbum é a mais clara expressão desse filtro afetivo. Selecionar o que entra em suas páginas é também selecionar aquilo que escolhemos lembrar. O que se inclui — e o que se exclui — conta uma história silenciosa sobre quem fomos, quem somos ou quem gostaríamos de ter sido.
Susan Sontag, em seu ensaio “Sobre a Fotografia”, reflete sobre como as imagens moldam nossa forma de compreender o passado: “As fotografias criam uma duplicação do mundo, e a experiência fotográfica é, frequentemente, uma forma de recusar a vivência direta”. O álbum, nesse sentido, reconcilia essas dimensões: permite reviver o passado e, ao mesmo tempo, perceber o quanto ele já nos escapou.
Na era das nuvens e feeds infinitos, o álbum fotográfico materializa aquilo que corre o risco de se dissolver na imensidão digital. É antídoto contra a efemeridade. E, paradoxalmente, mesmo sendo um objeto estático, é profundamente vivo. Porque cada vez que o abrimos, ele muda: não as imagens, mas os olhos que as veem. A fotografia não envelhece sozinha — ela envelhece com a gente.
Assim, o álbum fotográfico permanece como um relicário do tempo, um lugar onde o ontem repousa com delicadeza. Um abrigo para os fragmentos que resistem à passagem. Um testemunho de que, por um instante, estivemos ali — inteiros, mesmo que imperfeitos, capturados em luz e sombra.
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