Pode causar estranheza olhar estas fotos em que minha avó Martha Renner Schöll e suas filhas Magda e Márcia vestiam calças compridas ou “Slacks”, na década de 40, já que nessa época, usar calças era algo exclusivo para os homens. O uso desta vestimenta pelas mulheres era aceito com certas restrições, somente para atividades como cavalgar e andar de bicicleta, ou ainda, como proteção para serviços de jardinagem e plantação. Na verdade, o uso da calça pelas mulheres teve início durante a Segunda Guerra Mundial, quando as mulheres tiveram que ir trabalhar nas fábricas e usavam como uniforme.

Mas atrizes como Marlene Dietrich, Greta Garbo e Katherine Hepburn já eram fotografadas usando calças e apareciam nas revistas alemãs Burda e Der Spiegel, que meu avô Frederico Schöll sempre comprava para agradar a vó Martha, porque ela adorava moda.

E minha vó rapidamente corria até o centro da cidade para comprar fazendas e levava na sua fiel costureira, Dona Olga Mikilita, moradora da Rua Alagoas, no bairro do Portão. Dona Olga copiava os modelos das revistas sem dificuldades. Assim, vó Martha introduziu a calça no seu vestuário e das filhas já naquela época, muito antes de todas as mulheres curitibanas, surpreendendo a todos.

Somente na década de 1960, as calças femininas foram introduzidas para uso social e se tornaram finalmente um item de vestuário essencial para as mulheres. Considerando o clima de Curitiba, trouxe muito conforto.

Vó Martha, sempre à frente do seu tempo, era muito antenada e consciente da moda e não tinha receio de parecer ousada perante outras mulheres da sociedade. E meu avô, um alemão bonitão, ocupado em empreender e tantas coisas mais importantes, dava ‘asas’ para minha avó vestir e ser o que ela quisesse.

Vó Martha também foi das primeiras mulheres que dirigiram na cidade e tinha seu próprio carro, um Karman-Guia vermelho com capota branca (saia e blusa). E fumava cigarros Hollywood.

Vô Frederico Schöll sempre foi um homem elegante como podemos constatar na foto abaixo, sentado no jardim de sua casa, no bairro do Portão. Terno claro, sem gravata, camisa branca, sapato bicolor. Sofisticado e despojado, ao lado das filhas com 10 anos e 8 anos, ambas de calças compridas, ainda na década de 40.

Meus avós souberam ser elegantes com uma pitada de ousadia para os padrões da época, na Curitiba de outrora.

Na outra foto (abaixo), Vó Martha Schöll e as filhas Magda Schöll e Márcia Schöll usando calças. Ano 1948.

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

André Lopes