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28/03/2024



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O Doutor voltou!

 O Doutor voltou!

Era a medicina aplicada com os recursos que se tinha…

A menina da foto é minha tia María Thereza Mader Romanó, hoje com 90 anos, na foto com cinco. A ano é 1937 e o local é a Ilha do Mel. Tio Adolpho Romanó tinha uma casa de veraneio na Ilha.

Havia também um Hotel perto da Fortaleza, de madeira: Hotel Balneário Ilha do Mel.

Por volta dos anos 30 este hotel foi arrendado do antigo dono, Teodoro Doubek, para alguns senhores que, juntos, formaram uma sociedade: Clube Balneário Ilha do Mel.

De forma a atrair a vinda dos turistas, a sociedade adquiriu uma grande lancha batizada “Ilha do Mel”, até com piso superior, que passou a transitar levando os turistas até a ilha.

E na chegada, ali no trapiche, já tinha um caminhãozinho adaptado jardineira, que transportava as pessoas até o hotel.

O caminhãozinho é o mesmo da foto. Era velho e enguiçava com frequência, mas ajudava muito.

Veio parar ali porque em época anterior, serviu para trazer material de construção para a instalação do Rádio Farol, perto da Fortaleza.

Depois a Sociedade resolveu comprá-lo, para o conforto dos hóspedes.

Como todos sabem, na Ilha do Mel não é permitido transitar nenhum veículo motorizado como motos e carros. Só bicicletas e à pé. Mas naqueles anos 30 era. Ou nem se pensava em leis para isso.

 

Verso da foto mostrando a data

 

O interessante é que quatro anos antes desta foto, o meu Avô, Dante Romanó, ficou doente, com uma tuberculose óssea no ombro ou Osteomielite Óssea, que é tipo um tumor no osso ou algo que corrói o osso.

Bom, ele era cirurgião aqui em Curitiba e professor de Técnica Operatória na Universidade. Então, além da dor insuportável, não podia mais operar os pacientes e ensinar os alunos.

Resolveu fazer a cirurgia nele mesmo para tentar a cura.

Depois de muito estudar o seu próprio caso, se preparou e deu todas as orientações ao seu auxiliar, que foi quem operou, seguindo suas rígidas orientações.

E conforme os preceitos que ele mesmo apregoava para o restabelecimento dos seus pacientes, mudou-se temporariamente para a Ilha do Mel.

Lá, na residência do seu irmão e na companhia somente da esposa e da filha Thereza, de um ano, permaneceu por uns meses.

Contam que encomendou uma cadeirinha de madeira e palha para a filha ter um local para sentar.

E ali, naquele lugar, encontrou ar fresco com qualidades importantes, o sol moderado e os benefícios da água do mar, tão benéfica para a cicatrização por ser rica em iodo, sódio, magnésio, potássio, zinco e silício.

E minha vó Cylá fazia a assepssia diária do local operado, retirando todo o pus que se formava e chegava a alcançar o osso.

Lembrando que não existiam antibióticos nessa época. A penicilina foi descoberta em 1929 mas somente 12 anos após é que passou a ser liberada para uso humano.

E dia após dia meu avô aguentava firme a dor e suportava as limpezas criteriosas feitas pela esposa Cylá.

E aos poucos foi fechando e secando.

Com muita higiene, cuidado, alimentação, sol, repouso e relaxamento, que o barulho das ondas proporcionava.

E um dia se sentiu pronto para voltar.

Os nativos locais, que o viram na chegada, tão pálido e abatido, tinham certeza que aquele homem iria morrer ali. Mal podiam acreditar que estivesse tão disposto e corado

E ao retornar a casa em Curitiba, o próprio barbeiro que cortou o seu cabelo dias após a cirurgia e o tinha amparado após um súbito desmaio na barbearia , não acreditava no que seus olhos viam:

– O Doutor estava de volta!!!

 

Leia outras colunas da Karin Romanó aqui.

5 Comentários

  • Ótimo texto” o doutor voltou”

  • Karin,

    Seus textos são pílulas de vida.! Toda vez que escreve sobre o Dr. Dante, lembro-me do meu avô (também médico). Obrigado e bom final de semana!

  • Adorei conhecer essa história e saber mais sobre métodos terapêuticos antigos!

  • Muito bom Assim as pessoas entendem como era a cura antes dos antibióticos

  • Belo trabalho. Meu pai passou a lua de mel na ilha do mesmo nome, na década de 40.

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