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24/04/2024



Sem Categoria

“Os Banshees de Inisherin”, de forma madura e sem exageros, discute a solidão

 “Os Banshees de Inisherin”, de forma madura e sem exageros, discute a solidão

Todos nós, ou talvez, a maioria de nós, refletimos em um determinado momento da vida o quão passageira ela é. Também refletimos sobre a morte. Quando formos, o que deixaremos, qual será o nosso legado? Pois bem, o indicado em 9 categorias ao Oscar 2023, “Os Banshees de Inisherin”, traz essa discussão em determinado momento em suas muitas camadas de filme. Aparentemente simples, poucos personagens, poucos cenários e um conflito teoricamente “comum”. No entanto, o longa-metragem surpreende em muitos aspectos.

Acompanhamos em uma ilha no litoral da Irlanda em 1923, a ex-amizade de Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson). Uma comédia dramática, que faz jus ao gênero cinematográfico. No início do filme, é inevitável não soltar algumas risadas que desencadeiam por conta dos diálogos e piadas sutis. Começamos conhecendo Pádraic e toda a sua simplicidade, um homem ingênuo, simpático até demais, beirando ao famoso “bobão”, ou como falam no filme “chato”. Pádraic é tão otimista, que vê até otimismo na solidão. O personagem tenta entender o que houve com sua amizade com Colm, já que o velho amigo, afirmou que precisa cortar laços.

Com o avançar da história e busca da resolução do motivo pela qual Colm já não queria mais ser amigo de Pádraic, acompanhamos a evolução dos personagens e, diante de acontecimentos, a mudança dos mesmos. Colm é violinista, gosta de ler e quer deixar algo para o mundo quando for. Se interessa por arte, poesia e acha que Pádraic o faz perder seu tempo. É um filme sobre amizade, relações humanas, sobre egoísmo, sobre o desencadeamento das repercussões diante nossas ações, sobre orgulho, mas principalmente, sobre solidão. Não raro acompanhamos personagens secundários igualmente abalados mentalmente pela calmaria de suas vidas.

Em 1923, ano que se situa a história do filme, houve uma Guerra Civil na Irlanda e esse fato histórico é trazido para a narrativa. Os personagens da ilha conseguem ver as bombas e acontecimentos da guerra com apenas um mar os separando. O roteiro, de forma brilhante, faz uma metáfora comparando a Guerra Civil com a amizade dos dois ex-amigos que, no decorrer do filme, mais parece uma guerra mesmo. De riso leve no início do filme para as lágrimas ao final. Impressionante a condução e evolução da história.

Somos apresentados, sem dúvidas, a fotografia mais linda dos filmes dessa temporada de premiação, uma pena não ter sido indicado ao Oscar. Parece quadro. As cores, os enquadramentos, bem como, movimentação de câmera. Mas não só, além do roteiro que envolve a evolução de forma madura e concisa de seus personagens, diálogos bem construídos e uma história inédita, a trilha sonora e sonorização encaixam perfeitamente contribuindo e, muito, para a experiência do espectador. Assista no cinema. Caso não dê, assista em casa com som de verdade.

Falar de Os Banshees de Inisherin, e não falar de Colin Farrell, seria um ultraje. Merecidamente indicado na categoria de Melhor Ator, o trabalho realizado entrega um homem franzino, de pouco conhecimento, com um sotaque arrastado, sobrancelhas tão expressivas que dizem exatamente o que precisa ser dito. Bem como não dá pra deixar de mencionar o trabalho do Berry Keoghan como ator coadjuvante. O longa, que é dirigido e roteirizado por Martin McDonagh, traz um cenário melancólico, com humor, com tristeza e desespero. Ele se desenvolve em um sentimento de tensão que nos faz perguntar: “o que vai acontecer agora?”. De novo, são muitas camadas para realmente compreendermos a situação entre os dois ex-amigos.

Banshees de Inisherin está indicado em 9 categorias no Oscar 2023, dentre elas: Melhor Filme, Melhor Direção para Martin McDonagh, Melhor Ator para Colin Farrell, 2 indicações de Melhor Ator Coadjuvante para Brendan Gleeson e Berry Keoghan, Melhor Atriz Coadjuvante para Kerry Condon, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora e Melhor Edição. A cerimônia acontece dia 12 de março e o filme, altamente recomendado aqui, entra nos cinemas nacionais em 2 de fevereiro. Lindo, sensível, roteiro brilhante e tocante.

 

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