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23/04/2024



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Succession é uma das melhores séries da atualidade. E isso não é discutível

 Succession é uma das melhores séries da atualidade. E isso não é discutível

Foucault já dizia que, na verdade, “discursos” em uma sociedade, partem de uma linguagem, comportamento e valores, que são relações baseadas em poder e, portanto, aprisionam os outros sujeitos. A verdade é que as relações de poder são temáticas em diversos campos de estudo, como em estudos de gênero, em estudos da psicologia e outros. Mas uma boa aula mesmo para entendermos essa argumentação e pensarmos sobre, são as 4 temporadas de Succession, série da HBO Max que se encaminha para o final de sua última temporada. Com episódios chegando semanalmente, atualmente, estamos no 4º episódio da 4ª temporada.

 

O que faz de Succession esse alarde todo? Sim, todos estão falando da série nas redes sociais, em todos os lugares. Por qual motivo, afinal, ela é tão boa? Até porque já tivemos outra série (considerada por muitos, uma das melhores já feitas) que retrata relações de poder em seus inúmeros formatos que incluem abuso, traição e desconfiança em uma família, como em Família Soprano. O que Succession tem de novo? Na série vencedora de prêmios, acompanhamos a saga familiar de pessoas absurdamente ricas (família com o sobrenome Roy, donos do quinto maior conglomerado de mídia do mundo, a Waystar Royco, que inclui cruzeiro, parques de diversão e muito mais. Quase uma Disney.) querendo passar um por cima do outro, tomar os negócios da família e permanecer cada vez mais milionários.

 

O fator principal da trama, como bem já diz o nome da série, é a sucessão do império, do pai Logan Roy, o patriarca de 80 anos, por um dos seus 4 filhos. Kendall (Jeremy Strong), o segundo filho do clã, Connor (Alan Ruck), o filho mais velho que vive fora da realidade e sonha em ser presidente dos EUA. Roman (Kiera Kulkin) é o irmão ostentador e mais sentimental dentre todos, até que chegamos em Siobhan (Sarah Snook), ou Shiv, a única mulher e a menina dos olhos de Logan, mas que acaba tendo sua participação negligenciada nos negócios da família.

 

O grande diferencial aqui, definitivamente, é o roteiro com inúmeras camadas e bem construído, a construção de seus personagens ao longo das temporadas, os pontos de virada que são trazidos na história, bem como, a qualidade bizarra do elenco. Muita gente já me falou que não conseguiu passar do 3º episódio da primeira temporada, que achou a série “parada” ou “lenta”. Bom, o que a maioria talvez não saiba e não tenha paciência para perceber, é que essa dinâmica de construção é bem comum nas grandes séries da HBO. A primeira temporada apresenta lentamente os personagens, e ela é muito importante para o espectador, para prestarmos atenção nessa primeira entrega. Ela também nos dá o início de um arco narrativo que aumentará e ganhará ainda mais força ao longo das temporadas que virão. Então quer dizer que quando produzem uma primeira temporada já sabem que terão mais temporadas? Sim e não. Isso varia. Mas quando o roteiro é bom, dificilmente ficará em uma única temporada, ainda mais se tratando de HBO, como é o caso de Succession, House of the Dragon, The White Lotus e outros exemplos.

 

Mas se todos da série são arrogantes, prepotentes e usam do dinheiro para se mostrarem superiores com todos ao seu redor, se mesmo no arco familiar, vemos personagens cruéis e interesseiros, porque afinal, gostamos tanto de Succession? A série, do showrunner Jesse Armstrong, traz, como comentei, a construção de um roteiro multifacetado, em que várias leituras são possíveis. Dá margem para assistir e refletir de uma forma, reassistir e refletir de outra forma. Nada é simples, raso e banal em Succession. Algo muito interessante na trama gira em torno da complexidade que são as relações familiares. Afinal, porque todos são tão infelizes, mas permanecem voltando para esse meio seio familiar, para o mesmo local. Cada personagem carrega uma complexidade em si, sentimentos dúbios, altos e baixos, fragilidade e firmeza em seus atos e decisões.

 

O pai, Logan Roy, em sua tamanha frieza nos traz dúvidas de seus sentimentos com os filhos. Principalmente, ao analisarmos a sua relação com o 2º filho mais velho, o protagonista da série, Kendall Roy. No início da primeira temporada o direcionamento ao espectador é entender que o mesmo será o sucessor do império. Mas nada é tão simples assim, e percebemos as nuances e relação entre pai e filho mudar ao longo das 4 temporadas. Não é à toa que existem inúmeras referências à história de Édipo Rei, de Sófocles, que é uma peça central no conceito de Complexo de Édipo criado por Freud. Succession é tão bem escrita que em vários diálogos é possível perceber referências e mais referências. Seja com parábolas bíblicas (como a do filho pródigo, com as brigas infinitas entre Logan e Kendall), no sacrifício de Abraão do filho Isaac (quando Logan precisa escolher quem irá “sacrificar”) e muito mais!

 

Assistir Succession é um prato cheio para nos levar para muitas teorias e caminhos possíveis de pensamento. Um deles é relacionar com as teorias sobre retórica, onde os gregos lá atrás construíram complicadas teorias da retórica mesmo antes de a ciência da estética ou a temática “arte” ter sido desenvolvida. Mas a retórica basicamente é a ciência da linguagem e da comunicação. Estuda os fins, métodos e efeitos do discurso. O diálogo, a troca e o som sincronizado no cinema, coloca a retórica em domínio sobre a plateia, de longe. Assim como Succession, que por meio de texto, nos dominam e nos colocam absolutamente em estado de reflexão.

 

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