Nestes tempos de cinismo e desconcerto geopolítico, é preciso lembrar que não se brinca impunemente com o poder simbólico. Existem limites para o pragmatismo.
Por Sheila Leirner *
Notícia de presente
Este ano celebra-se a Temporada Brasil-França.
Seu objetivo de estreitar os laços entre os dois países parece legítimo, à primeira vista.
No entanto, além da recepção oficial no Palácio do Eliseu, dois momentos fortes, inscritos nesse contexto, causam perplexidade: a homenagem solene que a Academia Francesa prestou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o título de doutor honoris causa concedido hoje, dia 6, pela Universidade francesa.
A Academia raramente oferece sua tribuna a chefes de Estado estrangeiros, exceto em casos de clara excepcionalidade.
Qual é a “excepcionalidade” de Lula e o que está por trás desse tributo, sugerido pelo escritor Amin Maalouf?
Maalouf, conhecido por seu engajamento e parti pris no diálogo entre culturas, pode ter visto aí um gesto simbólico de troca.
Ou, talvez, a possibilidade de se alinhar ao discurso oficial francês de “pluralismo cultural” – ainda que isso desagrade os europeus, críticos ao atual governo brasileiro, para os quais o incômodo não é ideológico; é simples apelo à coerência ética.
Do ponto de vista da cultura e da língua, das quais a Academia é guardiã, Lula nada representa: não é escritor nem notável orador. Tem o costume de empregar palavras erradas como “genocídio”, por exemplo.
Deveria receber do secretário da instituição, ao contrário, aulas de lexicologia.
Embora se apresente como defensor da democracia e da justiça social, os discursos de Lula continuam beirando o revisionismo e não raro contradizem os valores que proclama.
Em 2024, ao comparar ações de defesa de Israel ao Holocausto, Lula cruzou uma linha grave.
A declaração foi repudiada por democracias ocidentais e comunidades judaicas no mundo todo.
Desde então, tornou-se oficialmente persona non grata no Estado hebreu.
Há pouco, recebeu nota de repúdio do Grupo Parlamentar Brasil-Israel, assinada pelo senador Celso Viana.
Além disso, seu histórico, manchado por escândalos de corrupção, torna inapropriada sua glorificação.
As condenações podem ter sido anuladas por razões processuais, mas os efeitos do mensalão e da Lava Jato permanecem vivos.
No Brasil, sua reputação está longe de ser unânime.
Na política externa, há ambiguidades, simpatias perigosas e oportunismo.
Enquanto lidera o chamado Sul Global, com discurso antiocidental inerente ao “clube”, Lula flerta com regimes autoritários como Rússia, China, Irã e Venezuela.
Adota posições que, em nome de uma suposta “multipolaridade”, contribuem mais para a erosão do Ocidente democrático do que para a paz e a justiça internacional.
Em tribuna no jornal Libération, dia 3, professores impugnam o título de doutor honoris causa: “Desde o início da guerra na Ucrânia, Lula tem equiparado o agressor ao agredido. E há menos de um mês esteve presente no desfile militar na Praça Vermelha, ao lado de Xi Jinping e Putin, que comparava a guerra contra a Ucrânia à luta contra o nazismo”.
Também incomodam suas ligações políticas, na França.
Jean-Luc Mélenchon, líder da extrema esquerda, figura “islamoesquerdista” marcada por posições antissemitas, foi visitá-lo na prisão.
Anne Hidalgo o homenageou com a cidadania parisiense em 2020 e, em troca, Lula deixou-se usar – assim como Dilma Rousseff – em evento eleitoreiro da prefeita.
Nas celebrações de amizade entre dois países, os tributos são aos Estados, e não aos indivíduos que os representam.
O governo de Emmanuel Macron é marcado por cálculo e pragmatismo, não por convicção ideológica.
Sua homenagem provavelmente não é a Lula em si, mas ao que ele representa num tabuleiro de xadrez internacional cada vez mais desorientado: um interlocutor-chave em fóruns como o G-20 e o Brics.
A França quer ser “terceira via”, mantendo presença em regiões onde a voz do Ocidente é contestada, desde a retirada dos Estados Unidos.
Ao homenageá-lo, Macron se comporta de acordo com os princípios clássicos da Realpolitik.
O presidente francês é ambivalente: critica o imperialismo russo e mantém relações com líderes autoritários como Xi Jinping, Narendra Modi e até com o novo homem forte de Damasco, Ahmed al-Shara. Macron – que se opôs ao acordo Mercosul/União Europeia – tenta, agora, manter o diálogo com o Brasil, peça-chave na América Latina.
Há diferença, porém, entre dialogar com lideranças opostas e exaltá-las em nome de valores que elas não encarnam.
Cortesia não deve ser confundida com reverência.
Nestes tempos de cinismo e desconcerto geopolítico, é preciso lembrar que não se brinca impunemente com o poder simbólico. Existem limites para o pragmatismo.
Quando a Academia ou a Universidade de uma nação como a França – berço dos Direitos Humanos nascidos da razão iluminista, cujo modelo cultural respeita a ética pública – presta tributo oficial a um líder de trajetória marcada como a de Lula, ela transmite uma mensagem equívoca: a de que ele possa alegar “vitória moral”.
Ora, a Temporada Brasil-França não deve ser uma vulgar ferramenta do soft power.
Os valores culturais deixariam de ser críticos para tornarem-se meios de conivência.
Uma frase atribuída a Albert Camus diz: “Não caminhemos atrás das potências. Caminhemos com os que sofrem”.
Nas circunstâncias atuais, glorificar Lula é inverter o sentido desta marcha.
** Opinião por Sheila Leirner – Jornalista, escritora, crítica de arte, foi curadora-geral da 18ª e da 19ª Bienais de São Paulo.
Porta Retrato
Fabrício Fumagalli e Chica Accioly
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Toni e Mari Menzel – comemorando suas Bodas de Esmeralda – 40 anos de casados. Parabéns ao casal querido e amigo.
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Fábio Di Visconti-Cortez e Mara Cordeiro estiveram na Casa Cor São Paulo, que está sendo realizada no Jóquei Club Paulista.
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Regina Baumle está apoiando a reeleição de João Carlos Ribeiro a presidente do Graciosa Country Club, que acontece no próximo dia 16.
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A artista plástica Eliane Prolik está preparando uma grande exposição retrospectiva em homenagem a artista plástica, já falecida, Helena Wong, que deverá ser inaugurada no próximo ano. Vamos aguardar!
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O ator Brad Pitt e Petra Costa se unem em documentário sobre a ascensão evangélica na política.
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O Lucca Café concorre mais uma vez nesse ano do Prêmio Bom Gourmet 2025. Link oficial já está disponibilizado no site do bomGourmet https://bomgourmet.com/premiobomgourmet/indicacao/ – Indicações vão até o próximo dia 16. O Lucca concorre nas categorias: Cafeteria, Padaria, Confeitaria e Para ir com um turista. Vote já!
Pais corujas
Alexandre e Paula Curi eufóricos com o feito da filha caçula Júlia, que conclui mais uma fase de seu curso no colégio.
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O casal João Lellis e Yasmini Rebello realizará movimentada festa infantil no Buffet 4 Kids em comemoração aos 7 anos da filha Emilly.
Três loiras
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Palavras de Bolso
“A fase é ideal para dar amor, não importando se este amor será recíproco ou não. O simples fato de doar e irradiar afeto lhe será suficiente e lhe permitirá sentir enorme satisfação!”
Aniversariando nessa segunda-feira
Luciana Jabur, Alessandro Constantini, Wilson Figueiredo Fortes, Rejane Marie Esteves – Londrina, Alberto de Carvalho Seixas, Marcos Almeida Muniz, Kazuko Tsukakoshi, Maria Izabel Ramos Wosgrau – Ponta Grossa, Lúcio Di Pino Neto, Thereza Elizabeth Bettega Castor, Luiz Antônio Martins de Oliveira, Diana Sade Hauer Mugiatti, João Bettega Fontana, Cleide Costenaro, Ana Lúcia Lacerda Michelotto, Tatiana Ramos, Juliana Macedo Ribas, Antônio Carlos Dias Filho – Tosinho, Nilson José Lubre, Maria Aparecida Falcão Pinto, Gustavo Küerten – Santa Catarina, Fátima Bernardes – RJ, Clarice Fátima Farfus dos Santos, Lúcia Ramos Pinheiro, Teresinha Elache, Aelmídio do Sá Ribas, Marilene Carraro, Marcos Antônio César, João Rafael Iensen, Luciene Brizolla Cofresi e Deborah Lavigne.
Foto: Diana Sade Hauer Mugiatti recebe cumprimentos nessa segunda-feira, dia de seu aniversário.
• Hoje de comemora o Dia da Artilharia e o Dia da Raça.
• Cole Porter nasceu em 9 de junho de 1893.
• O beato José de Anchieta faleceu em 9 de junho de 1597.
• Hoje se comemora o Dia do Tenista.
• Há 30 anos, no dia 9 de junho de 1995 era inaugurado o Victoria Villa Hotel.
Aniversariando nessa terça-feira
Adriana Cordeiro, Lucca Gonçalves, Ione Ramos Alves, Larissa Dorneles, Margit Fany Leão, Thereza Cristina Araújo Bittencourt, Helda Procopiak, Joaquim Penido Monteiro, Mariana Cristina Rucker Curi, Manoel Bernardo Macedo Munhoz, Gilberto Guimarães Monastier, Carlos Madalosso Filho, Sebastião Rodrigues de Souza Júnior, Arnaldo Ferreira Leite Soares – SP, Lúcia Bonkoski, Roberto Chaves, Simone Molinari, Romualdo Rymza Neto, Pérsio Abilhoa, Fabiano Campelo, Simone Nejm, Lenita de Oliveira Kruger e Luiz Rigattieri.
Foto: Simone Nejm é a aniversariante de destaque dessa terça-feira. Parabéns!
• Hoje se comemora o Dia Nacional de Lisboa, Dia da Artilharia e o Dia da Raça.
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