Imerso em uma crise que vem minando seu espaço na política, o PSDB tenta se reposicionar e chega à sua convenção nacional nesta quinta-feira (5), com a expectativa de autorizar a união com o Podemos.
O movimento, liderado pelo presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, e pelo deputado federal Aécio Neves (MG) tem como objetivo garantir a sobrevivência da legenda e reforçar o PSDB como uma força de centro, distante tanto do lulopetismo quanto do bolsonarismo.
As tratativas com a legenda comandada pela deputada federal Renata Abreu (SP) ganharam força após negociações frustradas com o PSD de Gilberto Kassab, que tentou absorver o PSDB em uma incorporação a toque de caixa amplamente rejeitada por lideranças históricas.
Em meio a essas conversas, que já se arrastam há meses, o PSDB sofreu duas baixas importantes: Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, e Raquel Lyra, governadora de Pernambuco. Ambos migraram para a sigla de Kassab. Até sua saída, Leite era o principal nome do PSDB para a corrida presidencial de 2026. Agora, resta ao partido apenas um governador: Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, que não decidiu ainda se permanecerá no partido.
A fusão com o Podemos é o mais próximo de um consenso que os tucanos conseguiram chegar — e também a aposta mais viável no curto prazo. Dirigentes ouvidos pelo Estadão se mostram otimistas com a aprovação, embora admitam que há resistências pontuais.
“Penso que (a incorporação do Podemos) vai ser aprovada sem nenhum problema”, diz o líder do PSDB no Senado, Plínio Valério (AM), acrescentando que a única resistência significativa vem dos tucanos de São Paulo.
Inicialmente contrário à incorporação, o senador conta que mudou de posição: “Acho que a gente precisa buscar uma saída. Lá atrás, eu preferia o PSDB sozinho, deixando que o povo decidisse se a gente morre ou não. Mas acabei sendo convencido de que é uma boa alternativa”.
Para o senador, PSDB e Podemos são pequenos, mas juntos formariam um partido de porte médio. Plínio, no entanto, admite que a realidade local pesou na sua decisão: “Levei em conta meu Estado, o Amazonas. Preciso de tempo de TV, meu eleitorado é urbano”.
Questionado sobre as resistências à aprovação, José Aníbal, presidente do PSDB paulistano, minimiza o impasse: “Não há nada que não possa ser resolvido”. Já Paulo Serra, ex-prefeito de Santo André e atual presidente estadual do partido, acredita que a votação será tranquila. Segundo ele, as críticas partem de uma moção apresentada em maio por militantes históricos do PSDB, que defendem a preservação do nome, número e símbolo do tucano. Entre os signatários da moção estão Mário Covas Neto, ex-vereador na capital e filho do ex-governador Mário Covas; o próprio José Aníbal; os ex-prefeitos Francisco Carlos (Guaratinguetá) e Rodrigo Maia (Monte Mor); além de Goro Hama, ex-deputado estadual e ex-presidente da CDHU.
“Há um certo saudosismo na moção, que a gente respeita, mas isso será tema de debate, porque queremos criar um novo movimento político para quadros que hoje estão órfãos de uma força mais centralizada”, afirma o ex-prefeito, que é favorável à incorporação e não vê a manifestação de parte da militância como um sinal de resistência, mas sim uma preocupação em preservar o legado do PSDB.
“Não consigo identificar uma resistência conceitual, especialmente tendo em vista que é necessário um movimento político para garantir a sobrevivência não só do PSDB, mas também de alternativas partidárias para quem quer fugir dos dois extremos.”
Mário Covas Neto, conhecido como Zuzinha, diz que a saída de Eduardo Leite desestimula a incorporação, já que o principal objetivo era ampliar a capilaridade nacional de uma possível candidatura dele ao Planalto. Para o ex-vereador, um partido pode ter sucesso eleitoral independentemente de seu tamanho, desde que apresente um candidato e um discurso que correspondam às expectativas do eleitor naquela eleição.
“Veja o exemplo de Collor e Bolsonaro. Ambos foram candidatos por partidos pequenos e que desapareceram após a eleição”, diz Zuzinha, que também admite não saber se há consenso para aprovar a incorporação na quinta-feira. “Acho que a tendência era francamente favorável até a saída do Eduardo Leite. Agora não sei dizer.”
Executivas vão definir detalhes como nome e estatuto
A convenção desta quinta acontece de forma semipresencial na sede do partido, em Brasília. Participam os membros do Diretório Nacional, delegados estaduais, distritais e parlamentares. Além de decidir sobre a fusão ou incorporação com o Podemos, a reunião vai delegar poderes à Comissão Executiva Nacional para cuidar dos trâmites necessários junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também serão discutidas mudanças no estatuto e no programa do partido.
“Nós vamos aprovar a incorporação e delegar à Executiva do PSDB a definição dos detalhes de governança, estatuto e demais ajustes em reunião com a Executiva do Podemos”, explica o deputado federal Aécio Neves, um dos entusiastas do casamento com o Podemos.
“Quem fará os últimos movimentos serão as executivas dos dois partidos, já autorizadas pelas suas respectivas convenções. A convenção é um ato formal necessário, determinado pela Justiça Eleitoral e previsto em nosso estatuto. A ideia é sairmos na quinta-feira prontos para bater o martelo e assinar a certidão de casamento.”
O edital de convocação do partido fala em proposta de “fusão ou incorporação”, mas lideranças tucanas dizem que as tratativas são pela incorporação do Podemos ao PSDB, em razão de ser o instrumento jurídico mais ágil do que a fusão.
A fusão acontece quando duas ou mais siglas se unem para formar um novo partido. Nesse processo, elas elaboram um novo estatuto e programa partidário, que precisam da aprovação de suas executivas nacionais. Em seguida, elegem uma nova direção, responsável pelo registro da nova legenda.
Já na incorporação, o partido a ser incorporado decide, por meio de seu órgão nacional, adotar o estatuto e o programa do partido incorporador. Em seguida, ocorre uma reunião conjunta entre ambas as siglas para selar a união e eleger um novo órgão de direção nacional. Com isso, o partido incorporado deixa de existir, enquanto o partido incorporador permanece, explica o especialista.
Publicamente, tucanos e integrantes do Podemos falam em fusão, ressaltando que, na prática, será mesmo uma união entre os partidos. Eles pretendem, por exemplo, mudar o nome da legenda, promover ajustes no estatuto e estabelecer um rodízio na presidência.
Após incorporação, PSDB mira federação com Republicanos ou MDB
Estudo encomendado pelo Podemos e obtido pelo Estadão aponta que, em caso de fusão, o novo partido teria um Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) de cerca de R$ 380 milhões, tornando-se o sétimo maior do País, à frente do Republicanos. Já o fundo partidário chegaria a R$ 90 milhões, ocupando a quinta posição entre as legendas e superando PSD, Republicanos e MDB.
A pesquisa também revela que a fusão entre Podemos e PSDB formaria a quinta maior força partidária nas Câmaras Municipais. Em número de prefeitos, a nova sigla contaria com 400 chefes de Executivo e ultrapassaria PT, PSB e PDT. Em população, isso representa 16 milhões de brasileiros governadores. No Congresso, se não houver desfiliações, o partido teria uma bancada de 30 deputados e 7 senadores.
Segundo Aécio, a fusão ou incorporação dará musculatura ao PSDB para estudar novos passos, como uma federação com o Republicanos ou o MDB.
“Mas tudo isso segue uma lógica, que não é a de atender à cláusula de desempenho. O que me faz estar envolvido e mergulhado nisso é construir um partido capaz de apresentar ao Brasil um projeto que não esteja ligado a nenhum dos extremos, porque todos os outros partidos, sem exceção, de alguma forma estão vinculados ao governo”, diz Aécio.
“Eu acho que o Brasil está cansado de tantos partidos pragmáticos que vivem e sobrevivem em busca do fundo eleitoral. Queremos encontrar um caminho no centro, longe desses governos, porque o Brasil não se resume a esses dois pensamentos absolutamente atrasados e superficiais que polarizaram a política nacional.”
(Foto: Kiko Scartezini/PSDB)
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