O Paris Saint-Germain já teve o brilho de estrelas brasileiras como Raí, Ronaldinho Gaúcho e, mais recentemente, Neymar, que formou um trio de craques galácticos com Mbappé e Messi. Também teve Ibrahimovic, Beckham e Thiago Silva, por exemplo.
Hoje, no entanto, após uma mudança radical da diretoria na estratégia de contratações, é uma equipe renovada, sem badalação, formada por muitos jovens jogadores, que vai tentar conquistar pela primeira vez a Champions League, na final contra a Inter de Milão, neste sábado às 16h (de Brasília), em Munique, na Alemanha.
Um PSG que começou a temporada longe dos holofotes. E agora, com bom futebol coletivo, sob o comando do técnico espanhol Luis Enrique, chegou à decisão da Champions League pela segunda vez na história do clube. O atual elenco tem média de idade de apenas 23 anos.
“A equipe hoje é a estrela. Nós temos jovens jogadores, mas jogadores de grande qualidade e confiança. Hoje nós temos um time muito forte, que joga junto, que luta junto, não só dentro de campo, mas também fora. O ambiente é magnífico”, afirmou o presidente do PSG, o catari Nasser Al Khelaifi.
A explicação para essa mudança de rumo na política de reforços passa pela administração do QSI (Qatar Sports Investments), fundo ligado ao Governo do Catar, que se tornou dono majoritário do PSG em 2011. De acordo com o jornalista francês José Barroso, repórter do jornal L’Équipe, o país do Oriente Médio tinha outros objetivos com o investimento no clube francês, não apenas os resultados esportivos.
“Eles mudaram agora por dois motivos. O primeiro é que isso não poderia acontecer antes da Copa do Mundo de 2022, porque era uma Copa de imagem para o Catar, era necessário contratar grandes estrelas para tornar o PSG conhecido. Hoje o clube é um sucesso para o Catar, uma marca conhecida internacionalmente, e isso só foi possível porque eles contrataram Neymar, Mbappé, Messi. E o segundo motivo é porque não funcionou esportivamente”, disse o jornalista.
No comando da equipe há duas temporadas, o técnico espanhol Luis Enrique tem papel importante nessa renovação da equipe. Quando ele chegou a Paris em julho de 2023, teve conversas com Nasser e o diretor esportivo, o português Luís Campos, para alinhar o perfil de contratações e saída de atletas. Foi justamente neste momento que Neymar deixou o PSG após seis temporadas.
O atacante brasileiro ainda é a contratação mais cara da história do futebol. Em 2017, o clube francês pagou 222 milhões de euros (R$ 1,4 bilhão, na cotação atual) para tirá-lo do Barcelona. No ano seguinte a Neymar, o PSG torrou 180 milhões de euros para trazer Kylian Mbappé do Mônaco.
O meia italiano Marco Verratti, outro que era titular absoluto, também saiu na mesma época, após 11 anos no clube. Mbappé ainda permaneceu mais uma temporada, em negociações de renovação de contrato, mas acabou indo para o Real Madrid de graça.
Luis Enrique nunca falou abertamente sobre os nomes de jogadores com quem decidiu não contar mais na equipe, mas já deixou evidente que fez suas escolhas.
“Nós escolhemos esse perfil de jogadores, para mostrar que jogamos de maneira atrativa para nossos torcedores, e de ganhar. Porque eu considero que com essa equipe tenho mais possibilidades de ganhar”, explicou o treinador, em entrevista coletiva.
No time atual do Paris Saint-Germain, muitos atletas se valorizaram e ganharam espaço em suas seleções nacionais, após o bom desempenho no PSG.
O principal jovem destaque é Désiré Doué, de 19 anos, que fez gols e teve participação importante nas vitórias sobre o Liverpool, nas oitavas de final, e Aston Villa, nas quartas de final da Champions League. Contratado nesta temporada junto ao modesto Rennes por 50 milhões de euros, o garoto já disse ter Neymar como inspiração. Também podemos citar outro atacante francês: Barcola, de 22 anos, comprado por 45 milhões de euros do Lyon. Os portugueses João Neves (60 milhões de euros do Benfica), de 20 anos, e Nuno Mendes, 22. Além de Zaire-Emery, de 19 anos, e o zagueiro brasileiro Lucas Beraldo, de 21 anos.
Ou seja, ao invés de trazer superestrelas do mundo da bola gastando centenas de milhões de euros, o PSG apostou em nomes menos badalados e jovens para compor o elenco atual.
Capitão e ídolo do PSG, o zagueiro brasileiro Marquinhos é o mais experiente da equipe, e tem apenas 31 anos. O atacante francês Dembélé, de 28 anos, assumiu a camisa 10 e se tornou o artilheiro do time na temporada, com 33 gols em 48 jogos disputados. Também se destacam nomes como Donnarumma (26 anos), Hakimi (26 anos) e Kvaratskhelia, este último de 24 anos, contratado em janeiro deste ano junto ao Napoli. O atacante hoje é o atleta com maior valor de mercado do clube, 80 milhões de euros (R$ 500 milhões). Um dos que mais cresceram com a saída dos medalhões é o meio-campista português Vitinha, de 25 anos.
“Estamos muito bem, estamos com um grande coletivo. Todos atacam e todos defendem, e quando é assim fica muito mais fácil. Acho que foi o que toda a gente reconheceu nos últimos jogos, nomeadamente contra o Liverpool. E é importante continuar assim, porque isso pode nos levar muito longe”, disse Vitinha.
Em 2024-25, o PSG gastou mais de 239 milhões de euros (R$ 1,56 bilhão) em contratações, pouco mais do que a quantia gasta apenas em Neymar sete anos antes. Em 2023-24, foram 454 milhões de euros torrados em reforços pelo clube francês.
A mudança da política de contratações, e o trabalho do técnico espanhol Luis Enrique, são amplamente aprovados pelos torcedores parisienses. Em conversa com alguns deles ao redor do estádio Parque dos Príncipes, é possível perceber o sentimento de felicidade e euforia com a possibilidade próxima, enfim, de realizar o sonho do título inédito da Champions.
“O Luis Enrique tirou todas as estrelas. Até jogadores como o Neymar, ele decidiu mandar embora. E hoje vemos o resultado positivo com os jovens”, disse um deles, vestindo camiseta dos Ultras, a principal torcida organizada do PSG. “Francamente, menos estrelas, mais coesão. Mais coesão, mais coletivo. E o coletivo faz a vitória. As estrelas brasileiras, como o Neymar, são muito festeiras. Ele fez bem ao PSG, mas não soube fazer o coletivo”, acrescentou outro torcedor parisiense. “Eu acho que o PSG deste ano está muito mais forte do que nos anos anteriores. Mostra que não precisamos de grandes estrelas, como Mbappé, Neymar e Messi. É uma equipe que joga em cima de sua coletividade, e não de suas individualidades”, finalizou.
A um passo de ser campeão da Champions, o PSG começou mal e quase foi eliminado ainda na primeira fase da competição, que estreou novo formato nesta temporada. Depois de duas vitórias, um empate e três derrotas, a equipe estava na 25ª posição no início de 2025, após seis de oito rodadas. Porém, conseguiu dois triunfos na sequência e se recuperou.
Virou contra o Manchester City uma partida que perdia por 2 a 0 e acabou 4 a 2. Depois, ganhou do Stuttgart, terminou a primeira fase em 15º lugar e avançou entre os 24 classificados. No mata-mata, passou por Brest na repescagem, nas oitavas de final eliminou nos pênaltis o Liverpool, que tinha a melhor campanha. Nas quartas, venceu o Aston Villa, e na semifinal ganhou duas vezes do Arsenal.
O resultado final deste sábado em Munique definirá o lugar na história desse novo Paris Saint-Germain. Mas, com seu estilo de jogo e comando, este PSG de Luís Enrique já deixou a sua marca e algumas lições.
(Foto: PSG)
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