Por Isabella Honório
A última quarta-feira (14), cinza e gelada, não foi apenas mais um dia de mau-humor e meia molhada para os curitibanos – também foi dia de comemorar o aniversário de 98 anos do nosso vampiro, Dalton Trevisan. Os apreciadores da sua literatura e de toda a mística que o envolve repararam que o contista não vive mais na casa branca e charmosa da esquina das ruas Amintas de Barros e Ubaldino do Amaral, e faz um tempo que não aparece uma foto (tirada contra a sua vontade, claro) caminhando nas calçadas do centro da cidade com a cabeça baixa e uma sacola na mão. Compreensível.
O que anda por aí são seus contos. Entre as publicações da revista literária Joaquim, na qual era editor nos anos 1940, e a sua Antologia Pessoal, que saiu pela editora Record neste ano, o maior escritor brasileiro vivo deixou nas páginas o gosto de sangue do ambiente urbano da Curitiba do século 20, violenta e, surpreendentemente, cheia de erotismo. A linguagem própria do autor não subestima quem vai ler seus textos – realismo puro, sem medo de mostrar o lado mais feio do ser humano. É com esse jeitinho com as palavras que Dalton prende os olhos do leitor nas páginas e os do resto do país na capital paranaense.
Ah, e não dá para fazer uma matéria de aniversário sem aquela biografia básica. Dalton Jérson Trevisan, nasceu em 1925, se formou em Direito na Universidade Federal do Paraná, mas depois de alguns anos largou o oficio. Publicou seu primeiro livro, Sonata ao Luar, em 1945 e o segundo, Sete Anos de Pastor no ano seguinte na Joaquim. Mas o negócio começou a ficar sério mesmo no final da década de 1950. Sua obra A Guerra Conjugal, de 1969, virou o filme de mesmo nome na mão do diretor Joaquim Pedro de Andrade em 1975. Dalton é ganhador dos prêmios Camões, Machado de Assis e Oceanos. Agora vamos ao que importa – um rápido guia pelas obras do vampirão.
1959 – Novelas Nada Exemplares
O livro “oficial” de estreia que firmou Dalton Trevisan no cenário da literatura nacional. Aqui já é possível perceber a personalidade do autor e o tom que seus textos vão seguir dali para frente. Uma boa para começar.
1965 – O Vampiro de Curitiba
Um clássico irresistível. O conto que dá nome à publicação aparece logo nas primeiras páginas. A leitura é leve, mas os temas um pouco densos. Quem diria que existem tantas formas de se ter um relacionamento conturbado. As ruas escondem segredos e o tom de mistério paira no ar, perfeito para quem tem mania de observador calado – não é a toa que deu o apelido à Dalton.
1977 – A Trombeta do Anjo Vingador
Os 19 contos mostram o amadurecimento de Trevisan como escritor e a repetição dos seus temas preferidos. A sinopse oficial do livro descreve o conteúdo como “próximo da haicai”.
1980s – A Polaquinha
Como não parar para ler o único romance de Dalton Trevisan? Aqui, a escolha da personagem principal é óbvia – uma jovem curitibana que trabalha em um hospital e estuda, mas também se prostitui para conseguir pagar as contas. Entre um caso e outro, a narrativa é fragmentada – claro que o espírito do conto não deixaria de assombrar esse romance.
1990s – Em Busca de Curitiba Perdida
Não dá para deixar de lado a coletânea de contos sobre a capital paranaense. Os cenários e a cultura passam pelas lentes grossas de Trevisan, com seu humor baixo-astral e ironia afiada.
2000 – 111 Ais
Esse rende uma leitura gostosa. Tudo pequeninho – são 111 minicontos em um livro de bolso da queridinha L&PM Pocket. A edição ainda conta com ilustrações para os textos selecionados, que, inclusive, não têm título.
2014 – O Beijo na Nuca
Os 48 contos da coletânea, que marca a 46ª publicação do autor, são mais poético, como é possível ver em um dos primeiros contos, Sinbad. Depois de tantas décadas, fica clara a intimidade de Trevisan com a escrita – como não poderia ser diferente.
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(Foto: Reprodução)
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Um genio