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luiz da silva colunista hojepr

A norma exige, mas a “empatia” sobressai

30/08/2024

Dificuldade de concentração e produção, sentimento de desvalorização e incapacidade. Baixo entusiasmo, questionamento envolvendo vontade de viver e de produzir. O que esses sinais e sintomas podem indicar? Estamos quinzenalmente abordando temas sobre saúde mental em nossas vidas particulares e em nosso cotidiano no trabalho, mas hoje gostaria de tratar com vocês, caros leitores, algo que impacta diretamente nessas duas áreas de nossas vidas (pessoal e profissional).

Uma grande perda particular, de um ente querido, um grande amigo, um parceiro ou parceira, com certeza é uma das maiores dores que uma pessoa pode sentir e não raras vezes esse processo de luto pode durar muito mais do que imaginamos.

Eu, por exemplo, conheço muito bem uma pessoa que não conseguiu sair do processo do luto, que já dura mais de 20 anos. Sim, 20 anos que essa pessoa vive sofrendo com a ausência e saudade da outra e que de forma muito nociva, tem impactado diretamente no estilo de vida que vem levando e nas relações com familiares, amigos mais próximos e companheiros de trabalho.

Essa é uma situação tão comum, que em 2022, o luto prolongado passou a ser considerado um transtorno mental na nova versão do manual de diagnósticos de transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria (APA) e na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A perda de alguém ou de alguma coisa que esteja atrelado a um vínculo de afeto, pode levar ao processo do luto. Entretanto, em determinados casos, esse processo pode durar muito tempo e acaba influenciando diretamente em todas as áreas da vida dessa pessoa. Retomar a vida funcional, como era antes da grande perda, é algo “tido” como impossível para quem está nesse delicado momento.

A indignação, falta de compreensão da situação que levou a perda ou a não aceitação de que aquilo de fato aconteceu, por qualquer motivo que seja, independente de religião ou crença, são fatores que podem contribuir diretamente para o prolongamento desse processo do luto. Mas quando isso está acontecendo no ambiente de trabalho, como agir? Ou melhor, como identificar? Afinal, os sintomas do luto prolongado podem ser facilmente confundidos com depressão ou outro transtorno mental ligado diretamente as emoções.

É comum que essa pessoa se torne mais quieta, que se isole e que perca a vontade de eventos sociais. É como se estivesse vivendo no automático, agindo muitas vezes sem pensar e “perdida” na rotina de suas atividades. Exatamente nesse viés, novamente reforço sobre a importância dos líderes e gestores estarem sempre atentos aos sinais de seus colaboradores.

Muito mais do que uma prática, deve ser prioridade de gestão a empresa estar cercada de pessoas que possam lidar com essas situações, não só de forma reativa, mas principalmente de forma preventiva e assertiva. A avaliação psicossocial, já prevista na Norma Regulamentadora NR 17 – Ergonomia, já aborda de forma clara a importância dessa preocupação e traz em seu texto a ferramenta de avaliação para que todo empresário possa ter uma visão sistematizada e por meio de indicadores, da situação do ambiente de trabalho, quando o assunto é saúde mental.

O assunto tem tamanha seriedade e não por caso, recentemente tornou essa  avaliação obrigatória também na documentação de saúde ocupacional das empresas. Como falamos na última coluna, a Norma Regulamentadora NR 01 sofreu uma alteração passando a exigir a avaliação dos riscos psicossociais já no PGR, juntamente com os riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. A Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego, de n.º 1.419 de 27 de agosto de 2024, já foi publicada no Diário Oficial da União no dia 28 de agosto de 2024, iniciando aí o prazo de 09 (nove) meses para adequação de todas as empresas.

É com base no resultado da avaliação psicossocial que as empresas terão um norte de que tipo de trabalho precisa ser realizado. Em que pese agora seja obrigatório, incentivo fortemente que você empresário, promova trabalhos em prol do bem estar da saúde emocional de seus colaboradores. Traga profissionais para falar sobre assuntos relacionados à saúde emocional, estruture workshops, forneça aos seus colaboradores um espaço para ele descarregar, desabafar suas emoções. Tenha programas em prol do desenvolvimento e preservação da saúde emocional e mental de sua equipe.

Uma sugestão para lidar com esses casos envolvendo o luto ou qualquer outra questão emocional é a estruturação de Programas de Assistência ao Empregado (PAE), que é quando a empresa fornece suporte psicológico, aconselhamento e orientação para os funcionários e seus familiares. Muitos PAEs também incluem serviços de saúde mental, como terapia e suporte para lidar com estresse e ansiedade. A formação de parcerias com clínicas ou cursos de graduação em psicologia é uma excelente alternativa e pode ser desenvolvido sem custo financeiro direto pela empresa promotora.

Workshops e treinamentos sobre saúde mental ajudam a educar os funcionários e líderes sobre a importância da temática  e direcionam atitudes que visam instigar o reconhecimento dos sinais de uma equipe adoecida emocionalmente, bem como oferecer suporte e ações aptas a comprovar a adequação da empresa com a nova exigência normativa e assegurar o bem estar do time.

Políticas de trabalho flexíveis, ainda mais quando detectado alguma situação mais grave sobre o quadro de saúde emocional dos colaboradores, ao exemplo do luto, são medidas fantásticas para a preservação do bem estar psicológico, como por exemplo, a possibilidade de trabalho remoto ou horários alternativos (respeitando o contrato de trabalho) de forma a ajudar os funcionários a equilibrarem melhor suas responsabilidades pessoais e profissionais, reduzindo o estresse e aumentando significativamente seus resultados.

Lembre-se que a “dor emocional” é peculiar a cada pessoa e só ela sabe o tamanho do sofrimento que está sendo superar a perda de alguém muito próximo ou o enfrentamento de qualquer que seja o transtorno mental. O nosso papel enquanto empresário é fornecer condições de trabalho possíveis para que essa pessoa possa se recuperar e voltar a performar como antes. Muito mais do que os resultados que se espera de um profissional saudável no ambiente de trabalho, a empatia pelo ser humano é de longe um dos princípios mais louváveis de uma organização.

O assunto é tão sério que virou obrigatório. Sendo obrigatório, as empresas que deixarem de se adequar e estruturar toda a gestão (documental) dos riscos psicossociais vão enfrentar diversos problemas, que irão além dos organizacionais, mas principalmente administrativos (multas) e judiciais. A norma exige, mas a empatia pelo ser humano é o que realmente evidenciara o nível de gestão da empresa.

Enquanto for só pela obrigação o risco continuará. Pense nisso…

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