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ENTREVISTA – ALEXANDRE KNOPFHOLZ, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DO PARANÁ

ENTREVISTA | Alexandre Knopfholz: “Temos que lembrar o passado para evitar a repetição dos erros”

27/09/2024
alexandre

Em entrevista exclusiva ao HojePR, o advogado e presidente da Federação Israelita do Paraná, Alexandre Knopfholz, fez uma avaliação dos conflitos que estão ocorrendo no Oriente Médio, manifestou a preocupação do impacto que eles causam e revelou como a Federação tem atuado para proteger a comunidade judaica no Brasil . “Dados recentes da Confederação Israelita do Brasil revelam um aumento alarmante de quase 600% nas denúncias de antissemitismo no país desde o início do conflito deflagrado pelo Hamas no dia 7 de outubro de 2023”, destacou ele. “Nossa aposta é na via civilizatória e passa pelo caminho da informação: lembrar o passado para evitar a repetição dos erros”, completou.

 

Como o senhor avalia o impacto global dos conflitos no Oriente Médio na comunidade judaica aqui no Brasil, especialmente em Curitiba?

Lamentavelmente, a comunidade judaica, de um modo geral, tem sido muito afetada em razão dos conflitos no Oriente Médio. Dados recentes da Confederação Israelita do Brasil revelam um aumento alarmante de quase 600% nas denúncias de antissemitismo no país desde o início do conflito deflagrado pelo Hamas no dia 7 de outubro de 2023. No Paraná, tivemos registro de ofensas nos comércios e também casos nas escolas, como o desenho de suásticas nas carteiras de estudantes que são parte da comunidade judaica. Esse cenário é fruto de uma visão distorcida que atribui aos judeus a responsabilidade por decisões tomadas pelo Estado de Israel em resposta a ataques abertos por terroristas. O governo de Israel, como qualquer governo, de qualquer país, pode ser criticado por suas ações; o que não pode acontecer – e vem acontecendo – é o ódio aos judeus enquanto povo.

O aumento de casos de antissemitismo tem sido registrado também no Paraná? Que resposta a Federação Israelita do Paraná, como representante da comunidade judaica, tem dado?

Sim, os episódios que relatei acima ocorreram no Paraná. Nossa resposta tem sido um investimento de tempo e empenho no combate ao antissemitismo. O Paraná tornou-se o oitavo estado brasileiro a aderir à Definição de Antissemitismo da Aliança Internacional para a Recordação do Holocausto (IHRA). O governador Ratinho Júnior assinou o Termo de Adesão no dia 26 de agosto, durante uma cerimônia realizada no Palácio Iguaçu, em Curitiba, que contou com a presença de autoridades e representantes da comunidade judaica, dentre os quais o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg. Vemos essa assinatura como um esforço do governo para conter o discurso de ódio que vem se disseminando. Além disso, temos promovido reuniões com diversos líderes da sociedade civil, governantes, parlamentares e órgãos de segurança pública. Finalmente, temos pedido a instauração de vários procedimentos criminais contra aqueles que ofendem a comunidade ou seus integrantes.

É possível estabelecer uma diferença entre o conflito geopolítico e a vivência da comunidade judaica no Brasil?

Traço um paralelo com um sentimento que os brasileiros conhecem bem, que é a tomada da parte pelo todo. Fora do nosso território há quem pense que todo brasileiro gosta de samba, joga futebol e compactua com a corrupção. Sabemos que não é assim. Do mesmo modo, os judeus mundo afora não têm um pensamento uníssono em relação às respostas do Estado de Israel ao terrorismo. Nos cinco continentes os judeus são diversos: tem diferentes biotipos, modos diversos de seguir e até de não seguir a religião. Ou seja, não é cabível classificar todos num bloco único. O elemento que une toda a comunidade judaica do mundo é sua história, marcada por milênios de preconceito e perseguição. Em pleno século 21, é tempo reafirmar as lições da história para eliminar definitivamente o antissemitismo.

Como a Federação tem atuado para proteger a comunidade?

Nossa aposta é na via civilizatória e passa pelo caminho da informação: lembrar o passado para evitar a repetição dos erros. A disseminação da Definição de Antissemitismo da Aliança Internacional para a Recordação do Holocausto (IHRA), já mencionada, é uma dessas medidas. Há também no Brasil todo o reforço do Movimento Pin For Peace, com depoimentos de vítimas do conflito em curso. Estamos abertos a levar informações a escolas, universidades, entidades civis. Enfim, a espaços que permitam a multiplicação do conhecimento para combater a desinformação e o preconceito que embasam o antissemitismo.

Como atuar para elevar o respeito à diversidade religiosa?

O respeito à diversidade – não apenas religiosa – é fundamental. Ele só pode ser desenvolvido a partir da formação e da informação. Por isso buscamos, prioritariamente, espaços para levar nossa mensagem contra o antissemitismo às instituições acadêmicas.

A legislação tem um papel no combate ao antissemitismo. Como fazer isso de modo mais eficaz?

O Código Penal estabelece pena de 1 a 3 anos de prisão para crimes de ódio, além de multas para injúrias baseadas em elementos de etnia, origem, religião, cor, raça, idade. Essa aversão manifestada hoje tem comprovação mais fácil, graças aos meios digitais. Infelizmente, as redes sociais são o canal mais fácil para a incitação ao ódio e à violência. Por isso, mais uma vez fica evidente que o trabalho não pode ser apenas punitivo. É preciso investir na cidadania. Nesse sentido, o sistema legal também tem contribuições a dar. Exemplo disso é a Lei 14.938/2024, que estabelece o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto no Brasil. A lei foi sancionada em julho deste ano e a data passará a ser oficialmente comemorada a cada 16 de abril, em referência à data da morte do diplomata brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas, que lutou para salvar pessoas ameaçadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Nunca podemos perder de vista esse extermínio promovido pelo nazismo, que tirou a vida 6 milhões de judeus, além de opositores políticos, ciganos, homossexuais, pessoas com deficiência e outras minorias.

Aproveitando essa menção às plataformas digitais: são aliadas ou entraves no combate ao antissemitismo?

A maior parte dos ataques antissemitas são feitos on-line, propagados em aplicativos de comunicação e/ou páginas de internet. O alcance cada vez mais amplo das redes sociais tem aberto espaço para discursos de ódio e para a incitação de crimes. Apesar de aspectos benéficos quando bem empregadas, as redes sociais desafiam a promoção da paz em três eixos principais. Primeiro porque abrem espaço para mensagens de células nazistas, de indivíduos ou grupos movidos pelo antissemitismo em particular e pelo ódio em geral. Segundo porque as redes tomam um tempo que antes de seu advento poderia ser dedicado à leitura, ao estudo, à informação, ao conhecimento e ao diálogo. Em terceiro lugar porque esse conjunto faz com que coloquemos em xeque o valor da liberdade de expressão, importante pilar da democracia.

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