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EDITORIAL

Vice de Cristina Graeml é acusado de estelionato e apropriação indébita

27/09/2024
cristina

“A mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta”. A célebre frase do imperador romano Júlio César é frequentemente usada na política e configura, sempre, a necessidade de se aliar a prática ao discurso. É justamente aí que a jornalista Cristina Graeml escorregou. Ao se permitir andar de mãos dadas a um vice que responde a denúncias de estelionato e apropriação indébita, a candidata do PMB joga no lixo todo um discurso de moralidade e rigor adotado nos últimos anos e mostra ao eleitor que as aparências de fato enganam.

Jairo Aparecido Ferreira Filho, o vice de Cristina, foi acusado por três pessoas de estelionato, apropriação indevida de dinheiro e de compor um esquema de pirâmide financeira. A candidata do PMB se apega à retórica para defender seu companheiro de chapa. Primeiro apela para o fato de Jairo não ter sido condenado. Depois alega que não se trata de um processo criminal, apenas uma ação cível de cobrança contra seu vice. Por fim, estranhamente à uma jornalista, ameaça a imprensa que divulgou o caso com processos de calúnia e difamação por considerar que trazer luz aos fatos é meramente uma calúnia.

Parece pouco na ótica da candidata, mas trata-se de um processo cível, ao qual o HojePR teve acesso, para obter a reparação indenizatória dos danos causados através de infrações penais em ação movida por uma idosa que teria confiado a Jairo as economias de uma vida, com a promessa de que, nas mãos do vice de Cristina, esse dinheiro, R$ 400 mil, se multiplicaria em investimentos que ele tomaria conta. Segundo a denúncia, faz dois anos que a idosa não vê um tostão de rendimentos, nem tampouco a cor desse dinheiro todo.

O que importa, no entanto, é que não pega bem uma candidata pretender disputar uma prefeitura do porte de Curitiba carregando a tiracolo um vice com, como se diz no jargão policial, uma “capivara” dessa magnitude.

Vale citar que não se tratam de denúncias antigas. Ao contrário. O processo dos R$ 400 mil, que os advogados da idosa pedem mais de R$ 1 milhão para ressarci-la dos prejuízos, é de setembro de 2023, sendo a carta precatória recebida pelo TJPR em agosto de 2024. O vice de Cristina ainda não foi citado no processo e, portanto, não se manifestou nos autos. Também não constituiu, até o momento, advogado. Parece que, ao invés de se defender das acusações, tanto ele quanto Cristina preferem atacar e ameaçar a imprensa que tornou as denúncias conhecidas.

Na ação, que tramita na 3ª Vara Cível da Comarca de São Bernardo dos Campos, pelo TJSP, os advogados da idosa acusam Jairo de ser frio e calculista. “Tal situação foi provocada única e exclusivamente pela ação do requerido, que de forma fria e calculista, percebendo a fragilidade da requerente nos contatos iniciais, viu a possibilidade de aplicar um golpe sob alegação mentirosa de que os rendimentos que seriam percebidos a partir do investimento seriam extremamente vantajosos para a mesma”, diz um trecho do processo.

Cristina Graeml se esquiva sempre que é questionada pela imprensa sobre o processo que seu vice responde. Sugere a repórteres que busquem informações diretamente com Jairo, como se a escolha do suposto investigado para ser seu vice na disputa pela Prefeitura de Curitiba não tivesse partido dela.

A nove dias da eleição, a situação de Cristina é constrangedora. Uma saída para ela seria a troca do vice. De acordo com uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é permitido “que o partido, a federação ou a coligação substituam candidatos que tiveram o registro indeferido, cancelado ou cassado, ou, ainda, que renunciaram ou faleceram após o termo final do prazo do registro (15 de agosto). A escolha da substituta ou do substituto, bem como o pedido de registro, devem ser feitos até 10 dias contados do fato que deu origem à substituição”. Basta, portanto, que Jairo renuncie à candidatura, algo que provavelmente não irá acontecer.

O fato é que, ao fim e ao cabo, Cristina e seus assessores não tomaram o mínimo cuidado de levantar a folha corrida do seu vice. Um erro semelhante ao do ex-senador Osmar Dias, quando, já no meio da corrida eleitoral pelo governo do Paraná em 2006, descobriu que seu vice, o ex-prefeito de Toledo Derli Donin, respondia a diversas ações criminais. Essa constrangedora companhia lhe custou a eleição, vencida por Roberto Requião por pouco mais de 10 mil votos de diferença. Erros de amadores, é bem verdade, mas Curitiba não deve cair nas mãos de amadores.

(Imagem: Cristina Graeml e seu vice, Jairo Filho. Divulgação)

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