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Crônica de uma obsessão automotiva (Parte 1)

04/10/2024

Quando criança, nos anos 60, minhas referências automotivas eram bem restritas: havia um Chevrolet Fleetmaster 1947, fuscas e Opalas do lado paterno e Mercedes, VW Variant, VWTL, Ford Galaxie e Ford Corcel do lado materno. Desde cedo já sabia diferenciá-los e atentava para cada detalhe. Aprendi a dirigir muito cedo e com apenas 5 anos em 1969, já ficava na ponta do banco do fusca me esticando para ver o que tinha na frente. O terreno da casa de meus avós era gigante, ocupava quase a quadra inteira e havia ruas pavimentadas lá dentro. No início eu só ia para frente e para trás. Treinava diariamente sob a supervisão do meu pai, até que um dia fazia os trechos sem supervisão chegando às vezes até 40km/h! Hoje imagino a paciência de meus avós, com aquele barulho do fusca indo de uma lado para o outro centenas e centenas de vezes…

A partir dos meus sete anos ia com meu pai junto com meus irmãos para estradas de terra na periferia de Curitiba onde revezávamos e íamos nos aprimorando na direção. Chegar a 60 km/h era uma façanha e tanto. Quando não havia a chance de guiar era permitido que eu acelerasse e passasse as marchas podendo chegar até 80 km/h. Coisa bizarra um guri em um fusca, acelerando e passando as marchas do banco do passageiro. Enfim eu ia aprendendo cada vez mais e assimilando as noções de velocidade e distância. Já para meu pai era a experiência de um Fusca automático!

Foi no Chevrolet Fleetmaster que aprendi a posição das marchas na alavanca do volante. Depois pratiquei no Opala, no Galaxie 500 1969 e finalmente no Ltd Landau 1973. Meu avô me deixava ligar, tirá-lo da garagem e o posicionar de fronte a porta da casa. Eu curtia cada momento e já sabia todas as diferenças de acabamento entre o Galaxie 500 e o mais novo membro da família.

Cada carro era uma experiência única de aprendizado, com seus cheiros característicos, ruídos e peculiaridades até que um dia, com 12 ou 13 anos fomos para Morretes com um caminhão baú da empresa, o Mercedes 608D, o famoso Mercedinho. Para minha surpresa, meu tio disse: neste trecho guia você, entre Porto de Cima e quase até chegar em Morretes. Foi sensacional.

Dirigir sem carteira nos anos 70 desde que você não cometesse nenhuma asneira no volante era normal, mas é claro, tive a sorte de nunca ser abordado por um “Peru” (assim era chamado os guardas de moto, por uma propaganda de peru de Natal da Sadia).

Tudo relacionados aos carros era de meu interesse. Lia os manuais diversas e diversas vezes. Era um prazer. Abria o capô, verificava os motores e checava tudo. Uma vez em 1978 tive que levar um funcionário até Colombo e voltar sozinho. Era um VW Passsat LS, 4 portas, preto. Resolvi, em uma reta dar uma acelerada brusca, em segunda marcha. Pisei fundo de uma vez e o cabo do acelerador rompeu ficando o carro em marcha lenta. Parei no acostamento, abri o capo e analisei a situação. Vi que poderia deixar o carro acelerado atuando na mola do carburador, mas precisava de um arame para esticar a mola e deixar ela presa em uma rotação compatível para chegar em casa. Por sorte havia uma caderneta no porta-luvas, com espiral. Com isso consegui ajustar o carburador e seguir até em casa com o carro acelerado, podendo passar as marchas normalmente e dosando a embreagem para o carro não morrer ou arrancar muito depressa nos sinais.

Quando completei 15 anos meus avós precisavam ir a Caiobá. Meu avô não dirigia mais em estrada e fui convocado a levá-los com o Ltd Landau. Ele foi sentado na frente comigo e eu que já era bem alto na época passei sem problemas por dois postos da Polícia Rodoviária Federal. Para mim, um marco histórico.

Continua…

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