Por Daniela Amaral
Eles haviam partido o seu coração em tantos pedaços, que apenas o que restava era pó no lugar do órgão que um dia pulsara vivido dentro do seu peito. Paralisada pela dor e pelo terror da maldade humana, sentou-se no chão e imaginou que chorava copiosamente, até que percebeu que não havia lágrimas em seus olhos. Tudo o que tinha naquele momento era um grito de dor abafado dentro de si. Algo que dizia que ela não podia e não devia estar ali. Diante de todo aquele horror, tentou esquecer e apagar de uma vez por todas as memórias de tudo o que havia passado. Contudo, com o tempo percebeu que no lugar onde um dia habitou um coração cheio de vida e pulsante, crescia algo que lhe comia as entranhas, alimentado pelo ódio dentro de si. No início sentiu asco de si própria e depois, prazer. Dali em diante dentro dela habitava algo novo muito maior do que acreditava ter sido um tolo amor, ali crescia como uma erva daninha uma força que a ensinava a apreciar o escuro. Vingança! Pensava ela. Certa de que o tecido do ódio era feito da mesma matéria-prima do amor, contaminada a pobre alma, agora oca, vazia de si mesma, sorria feliz com a morbidez da situação.
Houve um dia que por um instante um feixe de luz atravessou o seu peito e ela ouviu: Corra! Fuja para longe! Lute! Não se destrua com o amargor de tudo o que já se foi.
Porém, em meio ao lodo da obscuridade, onde ela se banhava de forma plena e serena, acreditando que a única coisa que lhe pertencia e que ninguém podia lhe tirar era o rancor, ela se perdeu. Não havia mais salvação, seu destino era ser apenas um rosto nas sombras, um fantasma que assombrava a vaga lembrança daqueles que um dia transformaram o seu coração em pó.
Texto objetivo, direto e provocativo. Daniela sabe envolver e convidar os leitores para ótimos passeios imaginativos. Criativa. Bom demais!