Desde o fim das eleições municipais, um grupo que reúne militares da reserva, políticos, empresários e representantes do agronegócio começou a discutir com mais afinco uma candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2026. A ideia é quebrar a polarização entre a esquerda e a direita e construir uma frente de apoio em torno do ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo (MDB), visto hoje como um político de centro no espectro político.
O MDB tem três ministérios no governo Lula – Planejamento, Transportes e Cidades. Mesmo assim, ainda não decidiu se apoiará o projeto de reeleição do presidente ou lançará uma “terceira via” ao Palácio do Planalto.
Embora o nome mais cotado para o cenário de chapa própria seja o do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) – também mencionado para vice de Lula –, uma ala do partido defende a candidatura de Aldo.
Até meados de julho, o ex-ministro comandava a Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo. Deixou o cargo para entrar na campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e chegou até mesmo a ser citado para vice na chapa, mas as negociações não avançaram.
Após ser reeleito, Nunes defendeu o apoio do MDB à eventual candidatura ao Planalto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu padrinho político. O episódio provocou contrariedade na cúpula do MDB e reação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que espera derrubar sua inelegibilidade para entrar na disputa.
Um dos maiores apoiadores de Aldo nas fileiras do MDB, atualmente, é o ex-ministro da Secretaria de Governo Carlos Marun, amigo do ex-presidente Michel Temer.
Integrantes da Sociedade Rural Brasileira, sindicalistas e militares reformados, a exemplo do almirante Flávio Rocha – que foi ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos no governo Bolsonaro – também compõem o grupo que se debruça sobre uma candidatura de centro para 2026.
Os recentes elogios feitos por Bolsonaro a Aldo jogaram luz sobre essas articulações políticas. O ex-presidente disse que Aldo era “um cara fantástico”. Afirmou, ainda, que gostaria de contar com ele para ser “ministro da Amazônia”.
A portas fechadas, Bolsonaro também disse que ficaria muito feliz em ter Aldo como vice de sua chapa. O problema é que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou o ex-presidente inelegível até 2030 e, para que possa concorrer, ele terá de derrubar essa sentença, hipótese considerada improvável.
O movimento para transformar o ex-comunista em candidato à sucessão de Lula não conta, porém, com o incentivo de Bolsonaro. Ao contrário: de acordo com seus aliados, só serve para causar indisposição entre os dois.
“Eu acho que, na eleição de 2026, nós devemos repetir a dose e ter uma candidatura própria. Aldo é uma ótima alternativa de centro: tem trabalho, ideias e projeto e vou defender o nome dele no partido”, afirmou Carlos Marun.
Na campanha de 2022, o MDB lançou Simone Tebet à Presidência e Aldo disputou o Senado pelo PDT. Os dois foram derrotados. Simone apoiou Lula no segundo turno e, depois, assumiu o Ministério do Planejamento.
Questionado se não haveria constrangimento por parte do MDB em não fechar nova aliança com o PT para 2026, tendo hoje três ministérios, Marun respondeu que a parceria de dois anos atrás ocorreu em nome da governabilidade.
“Mas o partido também tem lideranças próximas do outro lado da moeda”, argumentou ele, numa referência a Bolsonaro. “Então, acho que avançar pelo centro pode ser a melhor solução.”
Com tradição na esquerda, Aldo foi ministro da Secretaria de Coordenação Política no primeiro governo de Lula e, depois, titular do Esporte, da Ciência e Tecnologia e da Defesa na gestão de Dilma Rousseff. Deputado federal por seis mandatos pelo PC do B, ele chegou a presidir a Câmara dos Deputados de 2005 a 2007. Dez anos depois, ao deixar o PC do B, foi para o PSB. Passou, ainda, pelo Solidariedade e PDT até retornar ao MDB, partido ao qual já foi filiado nos anos 80.
A plataforma em discussão pelo grupo que planeja uma candidatura de centro para 2026, tendo Aldo como referência, trata da liberação das fronteiras energética, mineral e agrícola.
“Isso garante a poupança que o Brasil precisa para financiar o seu desenvolvimento. Nós queremos uma agenda que coloque o Brasil na rota do crescimento econômico e tecnológico”, disse o ex-deputado Cândido Vaccarezza, um dos integrantes do grupo. “A questão não é só cortar os juros, mas, sim, explorar nossas reservas”, emendou Vaccarezza, que foi líder dos governos Lula e Dilma e se desfiliou do PT em 2016.
Aldo não fala sobre pretensões eleitorais. “Não estou pensando nisso. Minha missão política é mais do pregador do que propriamente do candidato. A terceira via já está muito engarrafada”, desconversa o ex-ministro. “Hoje, tenho feito palestras e viagens para falar do meu livro”, conta ele, numa alusão ao recém-lançado ‘Amazônia, a Maldição das Tordesilhas – 500 anos de Cobiça Internacional’.
O presidente do MDB, Baleia Rossi, disse, por sua vez, que o partido não está tratando agora da sucessão de Lula. “Temos todo carinho e respeito por Aldo, mas candidatura própria ou apoio nós só vamos discutir mesmo a partir do segundo semestre de 2025″, garantiu o deputado.
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