São tantas as formas de arte e tão rica a imaginação dos artistas, que fico encantada, cada vez que mergulho nesse universo. Na semana passada, falando sobre retrato, mencionei Vivian Maier e, a partir da compreensão do tamanho da importância da arte para a vida dessa pessoa, fiquei curiosa e resolvi seguir mais um pouquinho nesse caminho.
Vivian viveu sempre com poucos recursos, mas imensa paixão pela fotografia, de tal forma que deixou mais de cem mil negativos por revelar. Mesmo sem conhecer a evolução do seu próprio trabalho e nem pensar em compartilhar sua obra com as pessoas, Vivian viveu, inicialmente, fotografando com uma câmera muito simples, uma Kodak Brownie, de pouquíssimos recursos, só exercitando seu olhar, atenta ao mundo das ruas, onde viviam as pessoas comuns. Nascida em 1926, só em 1952 adquiriu uma Rolleiflex. Nos seus horários de folga, como babá, saia para olhar e capturar o mundo a sua volta. Além de seus autorretratos, de que já falamos na coluna anterior, em viagens que fez, fotografou sempre as pessoas em seu cotidiano. Fez documentários caseiros e gravações de áudio. Fico imaginando que, um dia, ela quisesse ver o que havia documentado. Como não tinha dinheiro, guardou os negativos em depósitos que, por não pode arcar com as despesas, lá ficaram ao “Deus dará” até que, para sorte nossa, foram casualmente encontrados, adquiridos e mais tarde revelados por alguém que se interessava por história. Hoje, o material é catalogado pelo próprio John Maloof, que o encontrou e que, mais tarde, seguiu em busca de juntar o que se imagina ser noventa por cento de sua produção.
Vivian afirmou: “Bem, suponho que nada deve durar para sempre. Temos que arar espaço para outras pessoas. É uma roda. Você entra, você tem que ir até o fim. E então alguém tem a mesma oportunidade de ir até o fim e assim por diante”. Vivian passou a maior parte da sua juventude na França. Filha de mãe francesa e pai austríaco, no entanto, nasceu no Bronx. Considera-se que tenha se dedicado à fotografia por cinco décadas.
Outras mulheres, como a mexicana Graciela Iturbide (1942), e a americana Helen Levitt (1913-1909) seguiram esse mesmo interesse pelas pessoas e pela vida do cotidiano. Sobre Levitt, David Levi Strauss a descreveu como sendo “a mais celebrada e menos conhecida fotógrafa de seu tempo”, mas, diferentemente de Vivian, ela já teve escola, e mostrou seu trabalho em galerias. Vivian foi realmente uma pessoa rara, e talvez nunca possamos verdadeiramente compreendê-la. Eu, de minha parte, vou buscar mais informação sobre seu trabalho e sua curiosa vida.
Nesse estranho mundo das artes, onde cada criador possui sonhos, caminhos e formas de expressão únicas, às vezes, como nesse caso de Vivien Maier, o produto do trabalho e as histórias sobre a vida do artista, nos prendem, de tal forma, que é impossível nos desvencilhar das amarras da curiosidade sobre o que possa levar alguém a produzir tanto! E sem se preocupar com o resultado! Poderia ser pela mera paixão de observar?
(Ilustração de abertura: Foto de Vivian Dorothy Maier – Canadá – sem data.)
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