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TITTON-CABECA-COLUNA

Inspiração

03/12/2024
inspiração

Tenho observado, nas oportunidades que tenho de ver meu neto desenhar, que a sua “inspiração” vem de seu mundo vivido: das pessoas que conhece, dos animais ou monstros das histórias que aprende ou dos filmes que assiste e que lhe causam forte impressão, ou dos livros que leem para ele ou, ainda, de histórias que são inventadas por seus pais. Esse rico universo vivido vai aos poucos construindo seu próprio universo de criações, transformadas por seu jovem a ávido espírito, sempre aberto para o novo.

"Fera do mar" - obra de João Eduardo Dias Titton - Florianópolis - novembro de 2023.
“Fera do mar” – obra de João Eduardo Dias Titton – Florianópolis – novembro de 2023.

Pedro tem seis anos, desenha bastante com caneta esferográfica e, mais raramente, com lápis de cor. Esta semana foi seu aniversário e, entre outras coisas, o presenteei com uma caixa de ”bugigangas” que continha: lápis usado (já pequeno), borracha, apontador, grampeador e seus grampos, e dois potinhos de glitter, que ele ainda não conhecia. Não preciso dizer que, dentre os presentes, a tal caixa foi o que mais atraiu seu interesse e ao qual se dedicou a explorar por mais tempo.

“A Fera do mar”, dentre os filmes que teve oportunidade de assistir em sua, ainda, curta vida, foi o que mais o impressionou e foi o tema da sua festa de 5 anos, para a qual ajudou seu pai a construir uma réplica da fera em tridimensional. A peça ficou decorando o espaço no dia da comemoração. Desde então piratas, navios piratas, peixes e outros animais marinhos foram, aos poucos, ocupando o lugar dos dinossauros – que embora ainda sejam assunto de suas brincadeiras, desenhos e leituras, com seus nomes por mim impronunciáveis, mas que Pedro conhece e identifica a todos sem o menor constrangimento – em sua biblioteca e caixas de brinquedos.

"Navios piratas" - Origame - Pedro de Borba Titton- Curitiba - abril de 2023.
“Navios piratas” – Origame – Pedro de Borba Titton- Curitiba – abril de 2023.

Navios de papel ou navios de madeira ou navios feitos de lego – que antes gostava de juntar as peças diversas e criar seus próprios brinquedos inventados – estão, aos poucos, dando lugar ao exercício de seguir o manual e fazer o que é proposto pelo produto em sua embalagem, vão ocupando os espaços de brincar. Fico observando, nas oportunidades que tenho de visitá-los, a facilidade com que transita entre as ferramentas (de verdade) como pregos martelo que já usa com certa destreza, e o mundo da imaginação, inspiração e realidades que o levam aos desenhos ou outras produções. Não existe ruptura. A mim, parece que fazem parte de um mesmo universo: o das ocupações da criança em sua vida cotidiana e brincadeiras diárias.

Semana passada, em uma de minhas visitas, fomos, as avós, convidadas a visitar a escola do Pedro para contar histórias ou a nossa própria história, para as crianças de sua turma. No meu dia, resolvi levar, emprestado, um livro que escrevi e ilustrei inspirada por ocasião da morte de minha mãe e dedicado ao Pedro quando de seu nascimento. Levei, também, algumas pequenas esculturas, de minha autoria, emprestadas da casa da família, para que as crianças pudessem manusear. A escola, de pedagogia Waldorf, traz sempre a família para dentro do universo das crianças, então, no meu dia, tivemos uma tranquila e rica experiência, quando, sentados em círculo, após ser levada a uma cadeira especial pelas mãos do neto, trocamos ideias sobre alguns processos artísticos. Além dos meus, tivemos a contribuição de uma das crianças, a Nina (cujo pai é pai ceramista), que já produz obras no torno. A menina aproveitou a oportunidade para dividir com os amigos, e comigo, a magia do processo de “levantar” um pote a partir de uma bolina de argila, façanha conseguida por meio do movimento giratório do torno.

"Pais na brincadeira"- Manoela de Borba Titton e João no apoio à compreensão do manual Lego com Pedro - Florianópolis - novembro 2024.
“Pais na brincadeira”- Manoela de Borba Titton e João no apoio à compreensão do manual Lego com Pedro – Florianópolis – novembro 2024.

Em um mundo em que se espera que pessoas criativas possam solucionar questões em diferentes circunstâncias e num tempo em constante transformação, a “Inspiração” é muito bem-vinda, esta que é fruto de uma vida rica em experiências vividas, gerando uma dinâmica de criação e recriação. O filósofo já nos dizia que uma obra se completa, quando a partir dela se cria uma outra.

(Ilustração de abertura: “tres momentos” – Pedro de Borba Titton – Florianópolis – novembro de 2024.)

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