Até 40% das terras do planeta estão degradadas, segundo estudo da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD). O órgão estima que a situação afeta metade da humanidade, com reflexos mais severos sobre quem habita áreas de maior pobreza e comunidades rurais. Um dos efeitos do processo é a redução da produtividade global de alimentos e, em contrapartida, um aumento no preço da comida de até 30%, em 2040.
A degradação terrestre é o tema da 16ª Conferência das Partes (COP16) da UNCCD, que começou nesta semana e vai até 10 de dezembro, em Riad, na Arábia Saudita. A discussão é sobre como proteger e restaurar a terra, e construir soluções para enfrentar efeitos da mudança climática e das frequentes crises hídricas.
Neste ano, por exemplo, houve secas severas na América Latina, na Europa e África. Em média, 55 milhões de pessoas são afetadas diretamente por fenômenos do tipo todos os anos, sem contar o impacto sobre a criação de rebanhos e plantações. Na contabilidade dos prejuízos entram perdas de biodiversidade, da fertilidade do solo e a insegurança alimentar.
Uma das novidades da cúpula é o lançamento do Observatório Internacional de Resiliência à Seca. A plataforma será alimentada por Inteligência Artificial (IA) e vai permitir que governos de todo o mundo visualizem e analisem dados e indicadores sobre falta de chuvas. Com isso, as autoridades podem planejar e adotar medidas de mitigação.
Década de restauração
A COP 16 acontece na semana em que se comemora o Dia Mundial do Solo (5 de dezembro) e faz parte da programação da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, instituída em 2021. O período é um alerta sobre a urgência em interromper e reverter a perda e a degradação de ecossistemas em todo o mundo, terrestres e aquáticos.
Solo e água do Paraná
A proteção do solo e da água também foi objeto de discussão na Assembleia Legislativa do Paraná. Em uma audiência pública da Frente Parlamentar Municipalistas, especialistas e pesquisadores traçaram um panorama sobre as riquezas naturais do Estado, ressaltando a crescente perda de nascentes, que que causa um déficit na alimentação de bacias hídricas, e a pressão do mercado para a ampliar a produtividade das lavouras, que pode estressar a fertilidade da terra.
Reuso da água
A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou uma proposição que inclui o reuso da água entre os fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos. O texto determina que a qualidade deve ser compatível com a finalidade de uso. A matéria, que teve origem no Senado, sofreu algumas alterações. Uma das mudanças foi para garantir que o reuso seja de água não potável. A proposta tramita em caráter conclusivo e será analisada pelas comissões de Desenvolvimento Urbano; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se aprovadas pelos deputados, as novas medidas são inseridas na Lei de Gestão de Recursos Hídricos.
Desacordo plástico (I)
Não houve consenso para a criação de um tratado internacional para regular a produção e conter a poluição provocada pelo plástico. A discussão para tentar finalizar um texto foi realizada na Coreia do Sul e envolveu mais de 3.300 delegados, representando 170 nações e 440 observadores de organizações não governamentais. Foi a última das cinco conferências do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC) que ocorrem desde 2022 para tentar fechar um acordo global.
Desacordo plástico (II)
A discussão foi liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), mas os objetivos para a formalização de um tratado não foram alcançados. As principais metas eram: limitar a produção, estabelecer meios de gestão de plásticos e produtos químicos perigosos e a criação de mecanismos para o financiamento para a implementação do tratado nos países em desenvolvimento. Como era esperado, países que são grandes produtores de petróleo foram acusados de atrapalhar as negociações.
Vacas de baixa emissão
O uso do Bovaer, um ingrediente alimentar desenvolvido pela Elanco Animal Health para reduzir a emissão de metano em rebanhos leiteiros, causou polêmica na Europa nesta semana após a empresa dinamarquesa de laticínios Arla Foods anunciar testes do produto. As redes sociais foram inundadas de vídeos acusando o suplemento de ser um potencial causador de doenças, como câncer e infertilidade. As críticas foram refutadas por diversos especialistas. Um dos argumentos é de que o aditivo já foi aprovado pela agência americana FDA (Food and Drug Administration). As análises demonstraram a capacidade de reduzir as emissões de metano por vacas leiteiras em até 30%.
Foto: Parsing Eye/Unsplash
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