Com o tema “Brutal Eficiência”, a palestra do empresário Eike Batista foi a cereja do bolo de um evento ocorrido na sede Associação Comercial do Paraná (ACP). A estapafúrdia iniciativa de trazer um ex-presidiário para falar com empresários paranaenses partiu do Instituto Democracia e Liberdade (IDL), presidido por Edson José Ramon, ex-presidente da próprio ACP.
Levando em conta a derrocada dos negócios de Eike Batista, o nome escolhido por ele para sua palestra chega a ser engraçado. Dono de uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões, Eike promovia uma imagem de empresário visionário, com planos ambiciosos para transformar o Brasil em um polo industrial global.
Em 2013, no entanto, o mercado percebeu a maneira nada republicana de conduzir seus negócios e perdeu a confiança em Eike, duvidando das projeções de lucro de suas empresas, especialmente a OGX. A empresa não conseguiu cumprir promessas de produção de petróleo, levando ao colapso dos negócios do empresário e, consequentemente, à falência, destruindo quase toda a sua fortuna.
Não se sabe quanto o IDL gastou para bancar essa excêntrica ideia. No entanto, há farto material na imprensa mostrando que Eike cobra em torno de R$ 50 mil por participante para divulgar seus novos projetos, entre eles a produção de uma espécie de “supercana”.
O presidente do IDL, Edson José Ramon, comemorou a bizarra presença do ex-morador do presídio Bangu 9 na sede da ACP. “Trata-se de uma honra para o IDL, que recebe empresários e representantes de diversos setores da sociedade. Eike Batista está aqui para compartilhar sua trajetória e seus projetos, trazendo à tona a história de um grande empreendedor”, disse ele, esquecendo de mencionar os US$ 16,5 milhões em propina que Eike pagou ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, em troca de benefícios para seus negócios.
As acusações contra Eike Batista, o palestrante trazido a Curitiba pelo IDL, são robustas. Segundo as investigações da Operação Lava Jato, Eike praticou lavagem de dinheiro, fraudes contábeis e manipulação de ações de suas empresas, enganando investidores. O colapso das suas empresas, pautadas por falta de transparência e corrupção, afetou milhares de empregos e projetos no Brasil.
Por esses crimes, o empresário falido, que essa semana veio mostrar aos paranaenses a sua “brutal eficiência”, foi condenado a 30 anos de prisão. Esse passado obscuro, no entanto, não foi suficiente para Deggerone, Ramon e mais um punhado de empresários que se acotovelaram para tirar fotografias nos salões da ACP, evitarem o vexame de financiar a vinda de Eike Batista a Curitiba. Um vexame que envergonha a classe empresarial do Paraná.