O nosso país tropical, terra originária de povos indígenas, foi tomado pela cultura dos colonizadores, que trouxeram os costumas das terras frias de onde vieram. Uma delas, que veio com a fé cristã, foi a comemoração do nascimento do Menino Jesus que, de alguma maneira, se juntou ao personagem do Papai Noel, com seu trenó puxado por renas, que entrava pelas chaminés para deixar presentes para as crianças boazinhas. Da mesma forma, a Árvore de Natal. Junto com essas tradições que alegremente aceitamos e adotamos, vieram os presépios, os brinquedos a serem entregues, inicialmente, na manhã do dia 25 de dezembro, após a ceia de Natal depois da tradicional Missa do Galo.
O nascimento comemorado é o de Jesus, que veio ao mundo num estábulo, em Belém, na Judéia, por seus pais não terem encontrado lugar em hospedarias devido ao recenseamento que estava acontecendo por ordem do império Romano. Seu nascimento, indicado aos reis magos pela estrela, os levou até o local onde se encontrava o menino Jesus. Já os pastores foram avisados, pelos anjos, do nascimento do Messias. Assim, com essas figuras, nasceu o primeiro presépio como o conhecemos hoje, criado ao vivo por São Francisco de Assis (1181-1226), na cidade de Greccio, Itália, a 70km de Assis, em 1223, após ter feito viagem à Terra Santa e ter ficado muito impressionado. Consta que quis mostrar a simplicidade e humildade da ocasião, quando, pela primeira vez, estiveram presentes no cenário de nascimento, o burro e o boi, assim como a manjedoura com palha, que teria sido o primeiro berço de Jesus.
Na nossa infância, as igrejas e muitas famílias montavam belos presépios. Mas o que nos encantava mais era o da família Seleme, nossos amigos que, sobre um longo móvel de madeira escura, na sala de visitas, montavam um lindo presépio com lago de espelho, chão de pedrinhas e areia, ponte, grama, barba de bode, carneirinhos pastando e patinhos nadando, além do tradicional conjunto da família sagrada. Os reis magos só eram colocados no presépio, mais tarde.
Papai Noel e seus presentes vieram inspirados por São Nicolau de Mira, um bispo que viveu entre os séculos III e IV, onde hoje é a Turquia. Consta que, sendo de família rica e tendo ficado órfão muito cedo, dedicou-se a cuidar dos pobres, especialmente crianças e jovens. O Papai Noel, como o conhecemos hoje, foi criado nos Estados Unidos pelo cartunista Thomas H. Nast em 1863, também considerado o pai do cartoon americano. O “bom velhinho” teve outras histórias em países europeus, quando presenteava as crianças boazinhas e castigava as desobedientes. Naqueles tempos não se ganhava presentes todos os dias. Era preciso esperar o Natal para ganhar os tão sonhados e merecidos presentes, ou o presente.
A árvore de Natal tem origem mais controversa. Desde sempre festejada por povos pagãos como símbolos de fartura e proteção contra os maus espíritos, as árvores sempre foram importantes. O pinheiro, enfeitado com velas para comemorar o solstício de inverno, celebrava a vitória da luz sobre as trevas. Mais tarde, na Alemanha, era enfeitado com maças e nozes e, assim por diante, foi sendo adotado e decorado com brinquedos de madeira e outros adornos por diversos povos. Hoje, com as bolas de vidro, criadas por um vidraceiro de Lauscha, na Alemanha, em 1847, as árvores de Natal, os “pinheirinhos”, como são chamados pelos curitibanos, tomaram conta das casas e dos estabelecimentos comerciais pelo mundo. As crianças sempre se encantam com o momento de abrir as caixas onde são guardados os enfeites da árvore. Lembro-me das caixas de papelão amareladas, com as divisórias, onde eram cuidadosamente guardados, de um ano para o outro, e do perfume do cedro… que sinto até hoje. Havia pinhas, estrelas e outros frágeis enfeites de vidro de outros formatos, que muitas vezes, na montagem, caiam e se quebravam, para tristeza nossa.
O ser humano busca sempre símbolos e comemorações para marcar sua vida, conquistas e história e é na arte que encontra formas muito ricas de registrar e de tornar eternos esses momentos, histórias e fatos. Entre eles, a Missa do Galo – assim nomeada em alusão à ave que representa o canto ao raiar da aurora, anunciando a alegria do novo dia –, a generosidade do Papai Noel, a simplicidade do presépio onde nasceu Jesus. Todos esses símbolos nos iluminam e ensejam nosso agradecimento pelas benesses recebidas no ano que se encerra, bem como a esperança para o novo ano que se aproxima. Com arte, beleza e alegria, o nascimento de Jesus, é comemorado nas festas, a cada final de ano.
[Ilustração de abertura: “Feliz Velho Papai Noel” (detalhe) – Thomas H. Nast -1863 – Creative Commons; “Papai Noel com elfos”- Norman Rockwell – 1922 – Museu Norman Rockwell.]
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