As paredes de um ocre suave. Os janelões em grandes esquadrias envidraçadas. Os pisos em pedras graníticas. As escadas com granitos e corrimões lapidados. Os salões e refeitórios em pisos de tacos e madeiras. A pequena capela com vitrais coloridos. A biblioteca iluminando as mesas e livros e o salão social pleno de moradores silenciosos. Lá fora, a quadra poliesportiva ainda tinha atletas se exercitando. Poucos gritos.
Uma silenciosa alegria espargira-se por todos os recantos do edifício. Ao entorno, o burburinho, o grasnar, silvar, o assovio das aves, dos demais pássaros e até o rugido triste dos felinos enjaulados no Passeio Público pareciam unir-se a uma contida alegria. A CEU (Casa do Estudante Universitário) tinha elegido um dos seus como novo governador do Estado do Paraná. Primeira vez na história. José Richa!
Noticiavam as rádios e TVs. Seu governo iniciava-se com um alento de ventos esperançosos e democráticos.
A ditadura estava ficando para trás. Mesmo que um general equino ainda no Palácio do Planalto estivesse. Pensávamos! Haveria uma amplificação de sonhos realizáveis. Se não atendidos, éramos, ao menos, ouvidos com atenção! Iniciávamos uma caminhada esperançosa e saudável. Aquele outrora, pobre turcão interiorano, de voz rouca e aveludada, gestos de beduíno fraterno, estava a acolher-nos, a todos, sobre os seus novos tapetes e sob o arco de sua tenda de Grão Vizir. Em caravana, sairíamos do deserto. José Richa nos faria seguir uma estrela.
De seu Mosaico ideológico partidário aglutinou progressistas e conservadores competentes. A exemplo de Horacio Raccanello, Claus Germer, Gilda Poli, Belmiro Valverde Jobim Castor, Erasmo Garanhão, Fernando Ghignone, etc… mas, sobretudo na Casa Civil: Otto Bracarense Costa.
No decorrer dos meses, em nosso fictício Rio Nilo, o fluxo das águas límpidas e tranquilas conduziam naus e nautas para portos serenos, porém, no refluxo dos contrários, as águas turbulentas e poluídas se fizeram sentir com enorme intensidade.
Ventos fortes e tempestades vindas do planalto brasiliense e motins dentre conservadores tripulantes da burocracia estatal paranaense, foram minando e asfixiando o governador José Richa. Sua ala progressista de governo teve que retroceder. Quase asfixiado, já na UTI política, Richa substituiu Otto Bracarense Costa por Euclides Scalco.
Foi um ato de maestria. De transmutação alquimista! Este assume a Casa Civil como um mago pleno de qualidades farmacêuticas.
Restaura e revive o governador e seu governo. Desta parceria, que será vitoriosa, ambos elegerão, tempos depois, um sociólogo presidente da República.
Imaginando-me um retratista na caravana de Saint Hilaire, por estas terras das Araucárias, eu à época, ainda sem cair do meu cavalo, registrei neste cartoon em branco e preto. Um instante no qual reverencio a memória de José Richa e Euclides Scalco, que muito bem serviram ao Paraná e ao Brasil. Suas ausências são enormes!
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