Todos nós sabemos que a década de 1980 foi a mais criativa e promissora para o rock brasileiro. E também polêmica. E se existe alguém polêmico no rock brasileiro, esse alguém é João Luiz Woerdenbag Filho, conhecido como Lobão. Em 1987 lançou seu quarto álbum, Vida Bandida, Após passar um tempo preso, onde compôs uma boa parte do álbum, uniu-se ao produtor e guitarrista Marcelo Sussekind para lançar essa pérola. Vendeu mais de 350.000 de cópias na época. Um marco no rock nacional.
Vida Bandida, a faixa-título, é uma explosão de energia e atitude, simbolizando o espírito rebelde do álbum. A letra exalta a vida fora dos padrões convencionais, com sarcasmo e honestidade. Os riffs de guitarra e o vocal carregado de emoção tornam esta música um dos grandes destaques do álbum. “Chutou, A cara do cara caído, traiu, Traiu seu melhor, seu melhor amigo, Bateu, corrente, soco inglês e canivete, E o jornal não para de mandar, Elogios na primeira página.”
Da Natureza Dos Lobos traz uma reflexão mais existencial, usando metáforas para explorar a natureza humana e o instinto de sobrevivência. A canção possui arranjos sofisticados, que combinam momentos de intensidade com passagens mais calmas.
Nem Bem Nem Mal tem uma levada descontraída. A canção explora as nuances entre o certo e o errado. A letra filosófica é embalada por uma melodia extraordinária, com arranjos que flertam com o pop-rock. O destaque é o sax de Zé Luis.
Soldier Lips tem um tom mais experimental, com uma base instrumental que mistura rock e blues. A letra, cantada em inglês, adiciona um toque cosmopolita ao álbum e mostra a versatilidade do Lobão.
Girassóis Da Noite é uma das faixas mais poéticas do álbum, Combina lirismo melancólico com uma melodia suave e envolvente. É uma canção que convida à contemplação, tanto pela beleza de sua construção quanto pela profundidade de sua mensagem.
Esse Mundo Que Eu Vivo apresenta um tom mais crítico, Lobão reflete sobre as dificuldades e absurdos da sociedade moderna. A melodia traz uma pegada intensa e quase agressiva, que reforça a mensagem da letra, em um dos momentos mais diretos do álbum. “Penso em tudo, Até em revoluções, Nos verões pela cidade, Eu assisto as evoluções, Nas escolas desta vida, Nas quadras, nas concentrações, Eu sei que tudo é possível, É nesse mundo que eu vivo.”
Vida Louca Vida é uma das faixas mais emblemáticas do álbum. Uma versão mais poderosa daquela do Cazuza. Lobão imprime sua identidade na interpretação, transformando a canção em um hino sobre a intensidade da vida e suas contradições. “Vida Louca Vida! Vida Breve! Já que eu não posso te levar, Quero que você me leve, Vida Louca Vida! Vida Imensa! Ninguém vai nos perdoar, Nosso crime não compensa.”
Tudo Veludo é uma faixa leve e com um quê de sarcasmo, A canção contrasta com o tom mais denso do álbum. A letra é descontraída e a melodia traz um frescor, funcionando como um respiro no meio de temas mais pesados.
Com um título provocativo, Blá, Blá, Blá… Eu Te Amo (Rádio Blá) mistura humor e crítica às dinâmicas superficiais das relações modernas. A batida é sensacional, e o refrão é marcante, mostrando a capacidade de Lobão, com os parceiros Arnaldo Brandão e Tavinho Paes, de criar canções ao mesmo tempo acessíveis e reflexivas. Anteriormente foi gravada pela banda Hanói Hanói.“Uma noite ela me disse: Quero me apaixonar, Como quem pede desculpas pra si mesmo, A paixão não tem nada a ver com a vontade, Quando bate é o alarme de um louco desejo.”
O encerramento do álbum com Chorando No Campo se destaca por seu arranjo minimalista, que privilegia a melodia e a voz. A interpretação de Lobão é profundamente emocional. O uso de harmonia simples e a progressão melódica envolvente criam uma atmosfera que envolve e transporta quase como se fosse uma experiência pessoal compartilhada. A letra é carregada de imagens bucólicas e sensações melancólicas, remetendo a momentos de contemplação e saudade.
Vida Bandida é um trabalho multifacetado, que captura diferentes aspectos da arte e da persona de Lobão. O álbum combina rebeldia, lirismo e experimentação, tornando-se uma obra essencial do rock brasileiro. Do bom e velho rock’n’roll.
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