O volume de dinheiro que trafega no futebol é surreal.
Se bem gerido, traz benesses e, consequentemente, mais aportes e mais investimentos. Se mal gerido, alimenta uma série de pessoas que estão ali, na porta de todo clube, ávidos por um negócio mal feito ou por uma chance de fazer com que o negócio tenha o viés que lhes beneficiem.
Acompanhei nesses últimos dias dois casos envolvendo atletas de clube aqui da capital paranaense. Não vou fazer nenhum juízo quanto à lisura de ambos os casos.
No primeiro caso o atleta transferiu-se para clube brasileiro. Atleta novo, menos de 25 anos. Lhe foi proposta renovação por vezes. Nunca aceita pelo staff. Até que chegou o dia em que a negociação teria que ser feita, por valores abaixo do mercado (considerando condição técnica, idade, posição do atleta), pois o clube poderia, à luz da legislação, deixar de obter qualquer benefício financeiro.
No dia li, em rede social, publicação de “coach” do atleta. Nela o profissional dizia que a escolha foi a mais acertada. Deveria se desprezar o clube pois nunca lhe dariam o valor que merece. Deveria apenas seguir o seu caminho, pensando apenas em si. Achei também, no mínimo peculiar, que o trabalho tenha sido feito com a ciência dos representantes desse atleta.
Vi também que, no mesmo clube, outro atleta foi vendido e, menos de 30 dias após a venda, revendido por valor quase 10 vezes superior. Muitos milhões de euros a mais. O problema não está nessa revenda. O problema está na primeira negociação que permitiu a primeira compra por valores abaixo do que o atleta vale para o mercado. Quais foram as avaliações? Por qual motivo os valores estipulados foram tão baixos? Principalmente na posição em que esse atleta atua, esses valores são ínfimos.
Conheço pessoalmente os dois atletas citados. Pessoas de bem. Com muito potencial esportivo. Ambos vindos “de baixo” e com base moral e familiar. Tenho convicção plena que nenhum dos dois foi polo ativo nas negociações que os envolveram.
As negociações foram entre seus staffs, representantes e clubes das duas pontas. Só vi que o clube “vendedor” ficou como o elo mais fraco na história. Muita gente ganhou dinheiro. Muita gente deixou de pagar mais pelo que os atletas valiam.
O prejuízo (ou a falta de maior receita) ficou com quem mais investiu para que os atletas pudessem chegar até onde chegaram.
O emaranhado de pessoas que circula o futebol, que orienta os atletas, que organiza as condições comerciais de cada indivíduo, tem que ser revisto. Pelo bem do próprio produto futebol, nova legislação precisa ser escrita. O mundo mudou, as condições mudaram. E quem sabe como operar essa “máquina” está levando muita vantagem em detrimento aos clubes.