Pular para o conteúdo
ERNANI-CABECA-COLUNA

O cocô da vitória

04/02/2025

Leio em um portal notícia que me deixa estarrecido: “Vitória fez cocô e perdeu estalecas”. Entrei em pânico, já que nunca tido ouvido falar em estalecas. Devem ser enzimas, pensei em minha estultice, necessárias para o pleno uso dos intestinos – o que será da pobre Vitória, a quem também não conheço, sem as suas estalecas?

Hoje em dia somos bombardeados com todo o tipo de terror. Nos sites aparecem doutores com as mais profundas especialidades a nos ameaçar com doenças tanto desconhecidas como dotadas de poder destrutivo semelhante ao de bombas atômicas. Você tem refluxo? Pode cruzar as mãozinhas no peito e esperar a morte chegar em breve tempo: refluxo é sinal de degradação das entranhas, contaminadas por esofagite, gastrite, estomatite e outros “ites” fatais. Apareceu mancha na unha? Prepare-se para, no mínimo, perder o dedo, senão a própria vida.

Os remédios são insólitos e definitivos como os vaticínios. “Experimente isso e sua vida sexual vai mudar”, diz outra notícia, como se soubesse tudo o quer o leitor faz ou deixa de fazer na cama. O melhor são os prazos para a cura: uma semana ou duas, nunca mais do que 30 dias. Um espanto.

Fui consultar a Dra. Tânia, especialista em generalidades, inclusive as médicas. Olhou-me com aquele olhar grave dos cientistas, baixou os óculos até a ponta do nariz e explicou com toda a calma exigida pelos doidos varridos e por varrer:

– Estaleca é a moeda do BBB e Vitória é uma das participantes do jogo. Ficou quase duas semanas sem ir aos pés (Dra. Tânia é gaúcha e usa termos exóticos). Explico melhor: sem fazer cocô!

Quase ouso exclamar também o meu alívio. Só não ouso porque quem deve ter ficado aliviada é a dita Vitória. Duas semanas e nada? E quando o trem dos intestinos começa a andar, ela perde estalecas?

Tais ocorrências levam-me a conclusões horríveis sobre minha alienação. Sou incapaz de entender o que o funcionamento das tripas tem a ver com dinheiro. A não ser que a pessoa tenha engolido uma obturação de ouro, não atino com a relação causa/consequência.

Para encarar este mundo terei de voltar aos bancos escolares. Vou escolher uma faculdade que ensine sobre escatologia, incluindo todas as formas de descartes fisiológicos. E que tenha no currículo aulas sobre programas de tevê seriais, jogos eletrônicos, loterias online, shows de cantores abjetos, gêneros musicais horripilantes e namoros de famosidades insignificantes, com o que nos atulham a cabeça 24 horas por dia.

Suponho ser a melhor maneira de superar a minha estultice e conviver com a realidade, dotado de um cérebro repleto tão somente de cocô. Mas cocô daqueles com estalecas.

Leia outras colunas do Ernani Buchmann aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *