A fotografia sempre foi mais do que um registro visual. Durante grande parte de sua história, esteve ligada ao toque: deslizando entre os dedos, sendo guardada em álbuns ou caixas, passando de mão em mão como fragmentos de um passado tangível. Roland Barthes (1984), em ‘A Câmara Clara’, descreve a fotografia como um “testemunho físico da existência”, ressaltando que a materialidade da imagem reforça sua conexão com a memória. No entanto, na era digital, essa relação mudou radicalmente.
Com a virtualização das imagens, a impressão tornou-se uma exceção. Segundo dados da Keypoint Intelligence, em 2023 foram capturadas mais de 1,6 trilhão de fotos no mundo, mas menos de 5% chegaram ao papel. Essa transição da fotografia para o ambiente digital trouxe praticidade, mas também uma fragilidade inesperada. Vilém Flusser (2002), em ‘Filosofia da Caixa Preta’, argumenta que a fotografia digital, ao se tornar um código binário, perde sua relação direta com o mundo físico, tornando-se um arquivo efêmero, sujeito ao esquecimento em servidores instáveis ou dispositivos corrompidos.
Além da preservação, a mudança na forma como interagimos com as imagens impacta nossa percepção da memória. John Berger (1972), em ‘Modos de Ver’, observa que a maneira como consumimos imagens afeta nossa relação com o tempo. Fotografias impressas convidam à contemplação; imagens digitais, por outro lado, são consumidas em um fluxo contínuo e acelerado, deslizando pelas telas sem permanência. Nesse contexto, a ausência da impressão não significa apenas a falta de um suporte físico, mas a transformação da fotografia em algo transitório. Sem toque, sem textura, sem a presença concreta de um objeto fotográfico, a memória torna-se cada vez mais dependente da tecnologia. E você, caro leitor, qual é a sua opinião sobre a impressão fotográfica?
Leia outras colunas da Jaine Vergopolem aqui.