Estamos em plena terça-feira de Carnaval, a terça-feira chamada de gorda – que os politicamente chatos não venham me acusar de nada, quem apelidou esta terça-feira de gorda não fui eu.
A rigor, hoje termina o carná, com o que entramos no profundo período de reflexão chamado pelos católicos de Quaresma. Com o passar dos anos, a tal reflexão deixou de existir e a folia seguiu acontecendo. No Recife ainda tem o Bacalhau do Batata e, na Bahia, o festerê dura quase o ano todo.
Temos muitos tipos de Carnaval no Brasil. Em primeiro lugar, o que acontece nas ruas, blocos sem aparato oficial para lhes censurar os passos. É o verdadeiro, o original.
Depois temos os carnavais de competição, aqueles de escolas de samba que concorrem ao título de campeãs – espetáculos de alta qualidade para turistas aplaudirem.
Temos os carnavais de salão, hoje quase desaparecidos, a não ser em pequenas cidades. Era o que predominava no Sul, com as pessoas girando nos salões, às vezes até no ritmo de canções exóticas: “Polka, mein schatz, oh ya”.
E sempre houve o paradoxal Carnaval de Curitiba. O primeiro bloco a se organizar por aqui, surgido nas entranhas do Coritiba Football Club, levou o nome de Não Agite, o inverso do que a Carnaval exige.
Há muitos anos, as arquibancadas eram armadas na Marechal Deodoro, em frente ao prédio que hoje abriga a redação deste portal, vimos, Fernando Ghignone, nosso publisher, e eu, um desfile em que um dos blocos tinha por nome Vai na Rolha. Deduzimos que a rolha significava determinado orifício anatômico, considerando o gesto de “crau” repetido pelos seus seis integrantes, ao repetirem o refrão “Vai na rolha, ô, vai na rolha-a”. Um assombro.
Fui crítico do Carnaval de Curitiba até o dia em que fui ameaçado. “Você tem família, tome cuidado com o que fala”. Passei a observar um silêncio obsequioso. Deixei de dar entrevistas sobre o tema, embora este ano tenha aberto exceção para participar da mesa-redonda promovida pelo Observatório da Cultura Paranaense, ao lado de Dante Mendonça e Paulo Vitola, dois carnavalescos da carteirinha.
Curitiba descobriu nichos de folia que o resto do país ignora. Temos zumbis desfilando, garibaldis e sacis, e o grito de carnaval do bar Ao Distinto Cavalheiro leva milhares à esquina da Saldanha Marinho com Visconde do Rio Branco.
Portanto, a coisa se resolveu, ainda que siga atrapalhando o trânsito no centro da cidade. O carnaval curitibano existe. Como a vitória dos aliados na 2ª Guerra, custa sangue, suor e lágrimas. Vai quem quer e não serei eu a renegar o esforço e a alegria dos outros.
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