Por Marcos Traad –
A população do planeta está em alerta constante. Com a velocidade com que as informações nos chegam, principalmente com o avanço da internet e das próprias redes sociais, notícias correm com apenas um “clic”. Tudo está na palma das mãos. Por um lado, isso é fantástico. Por outro, pode trazer transtornos com informações falsas e o que é pior: sem qualquer fundamentação teórica, agravando o problema do sectarismo e das paixões por pontos de vista individuais ou coletivos de caráter estritamente ideológico.
Nas pautas ambientais, o nível de desinformação permeia o inacreditável e os debates fluem para uma visível dissociação do real, o que interfere nas avaliações mais lúcidas, trazendo o desatino como nota principal.
Alguém duvida que uma atividade produtiva qualquer provoca algum impacto ambiental? Mesmo aquelas que são consideradas extrativistas de subsistência (vegetais, animais e minerais) e que atendem a um plano técnico de manejo racional, geram impactos. E como minimizar os impactos ao meio ambiente com as atividades econômicas para manter a população do planeta?
A nossa Terra nos oferece tudo que precisamos e, por óbvio, devemos sim preservar os recursos naturais. Porém, temos que admitir que a busca pelo melhor caminho sempre gerará debates e que temos que incentivar modelos produtivos baseados no conhecimento científico e tecnológico (sem deixar de lado o conhecimento empírico), que não nos impeça de crescer, com o máximo de garantias do menor dano. Porém, no campo prático, tem sido quase impossível conviver com as interferências apaixonadas, na sua grande maioria tecnicamente mal sustentadas, o que nos tem feito de reféns de um sistema que tende à aversão ao desenvolvimento.
Parte do problema provém da incapacidade do Estado Brasileiro em exercer a sua função de fiscalizar, cujos investimentos historicamente estão abaixo dos necessários para cobrir o território nacional. A outra parte, também relevante, é a avidez por legislar a qualquer custo, em causas que até têm importância. Mas, isso pode resultar na impossibilidade do seu cumprimento, em associação à fraca atuação de instituições desprovidas da correlata estrutura física, financeira e de recursos humanos.
Suponhamos que eu tenha sido eleito Presidente do Brasil (o que seria uma grande honra e um nobre desafio) e tenha me comprometido a ampliar significativamente, em quatro anos, a malha ferroviária do país. Será que isso é possível, mesmo havendo orçamento garantido? Pouco provável será cumprir com o compromisso. Haverá, com certeza, restrições que surgirão quando o traçado, por medidas de racionalidade de custos, por exemplo, tiver que passar por alguma unidade de conservação ou algo parecido. Entrará em cena a bandeira puramente conservacionista. As inúmeras instituições governamentais ou não, com base nacional ou não, além do próprio Ministério Público com as contestações insuperáveis, têm feito com que o debate supere a necessidade ou a racionalidade com que o assunto tem que ser tratado.
Em suma: deve haver o reconhecimento de que não se pode promover qualquer intervenção ambiental, sem o devido processo de avaliação dos seus impactos, isso é indiscutível! É necessário, no entanto, que todas as análises demandadas por qualquer empreendimento, também sejam concluídas num prazo razoável e legal, sem frustrar iniciativas do investidor e de quem precisa dos investimentos. É também importante que haja integral clareza na busca dos melhores caminhos para a mitigação de problemas, caso haja necessidade premente de realização do projeto. Isso inclui o bem estar geral da sociedade e o devido cuidado com o próprio meio biótico que será afetado. É preciso, portanto, que tenhamos instituições organizadas, com pessoal qualificado em alto nível e com o comprometimento do dever público que se sobreponha ao sonho apaixonado de sermos perfeitos a qualquer custo.
MARCOS TRAAD é graduado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Paraná. Foi Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e Professor Titular da PUCPR.