Deu-se que naquele carnaval Hermann e o amigo Magno, Deus o tenha, também conhecido como Válber, combinaram de viajar a Guarapari com as respectivas namoradas. Acampamento à beira-mar, nada mais telúrico e relaxante do que os pés nas areias monazíticas, banhos de mar e muito, digamos, aconchego acasalante.
O ônibus os deixou em uma praia deserta. Válber era proprietário de antiga barraca do glorioso Exército Nacional, rudimentar a ponto de não ter fundo, com seus ocupantes a dormir sobre a areia. Também não havia estacas necessárias para fixar a lona. Ao manusear a faca para desbastar alguns galhos que fizessem o papel de espeques, Hermann tratou de acertar a própria mão, ficando fora de combate.
O expedito parceiro resolveu a parada com o apoio de alguns aventureiros de plantão. Em minutos, as meninas já esticavam os lençóis no, digamos assim, saguão da barraca, dividido em dois ninhos pelo mastro central – palavra que aqui não deveria ser usada, em vista do ocorrido a seguir.
Magno era também o nome da loja em que a namorada do ferido Hermann havia comprado para ele uma refinada bermuda, última moda da zona sul carioca.
– Experimente a bermuda, sugeriu a moça com voz carinhosa.
Hermann, usando sua intrépida mão esquerda, tentou entrar na peça. Impossível, suas dimensões não combinavam com o usuário.
– Tire a cueca, exigiu – já com o tom de voz uns decibéis acima.
Levando ao extremo sua submissão, o namorado fez o que dele se esperava. Envergou a bermuda e tratou de completar a tarefa puxando o zíper, até urrar em desespero. O mecanismo amaldiçoado, sem respeitar as protuberâncias masculinas, investiu sobre seu instrumento de trabalho. A laceração foi significativa e dolorosa.
Outra vez ferida, a vítima clamou pelo auxílio do amigo, então exercendo seus direitos libidinosos nas plácidas águas de Guarapari.
Instado a comparecer ao, se me entendem, hospital de campanha, abriu a aba da barraca e deparou-se com a cena tétrica. Depois de se dobrar de rir, passou a gritar como um general na invasão da Normandia, com deslavada ironia e alto o bastante para que todos os circunstantes pudessem ouvir:
– Dou-me por impedido em ajudar, por se tratar de local inóspito e desagradável. Cabe à jovem prejudicada escolher entre a bermuda que traz meu sacro nome como insígnia ou o inútil ‘‘mastro’’ do seu namorado.
Ela optou por descosturar o zíper e resolveu a questão, ainda que tenham restado cicatrizes indeléveis. Enquanto as escolas de samba desfilaram nas avenidas, Hermann passou aqueles dias com o porta-estandarte recolhido, vivendo a realidade monástica de quem foi supliciado na parte mais sensível da sua anatomia.