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Morte em Mônaco

31/05/2022

A adolescência, acompanhada das inevitáveis espinhas no rosto, indicava caminhos sedutores ao rapaz. Leitor de todo tipo de leituras, as legais e, em especial, as ilegais, tinha por companhia no banheiro ninguém menos que a princesa Caroline de Mônaco, em comportado maiô, posando em alguma praia da Riviera francesa para as páginas da Revista Manchete.

 

O rapaz já se via pilotando nas ruas do principado. A primeira medida para chegar lá foi pedir de presente um carrinho de autorama. Nada semelhante às Lotus dirigidas por Jim Clark, a sua era uma carroça com motor.

 

De tanto pedir, seu pai aproveitou uma viagem a São Paulo e lhe trouxe a réplica de uma Berlineta. Foi um avanço: o conhecimento paterno lhe ensinou que a transmissão era do tipo coroa e pinhão, muito superior à transmissão tipo rosca sem fim. Aquilo prometia.

 

A Berlineta em tamanho de gente grande era um carro esportivo fabricado no Brasil sob licença da francesa Alpine. Com motores preparados para as pistas, tinha se tornado o carro-chefe da Equipe Willys de Competição e atração máxima das corridas no país. O time abrigou três pilotos que chegaram à Fórmula 1: os irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi e Luiz Pereira Bueno.

 

Na Curitiba de antanho, quis o destino que houvesse um campeonato de autorama no clube Santa Mônica. A pista era travada como a da Mônaco. O rapaz espinhento da Berlineta dirigiu como lhe disseram: acelerar nas retas, fazer as curvas com cuidado. Sair da pista era a desclassificação.

 

Para sua perplexidade, saiu a classificação com ele na pole-position. Havia atingido a glória, sentia-se desde aquele momento recebendo no dia seguinte o troféu de campeão das mãos do príncipe de Mônaco, já então seu futuro sogro.

 

Na corrida, em pista para quatro carros, deixou os outros pularem na frente. Um bateu no muro e saiu. Outro parou de funcionar. Restavam dois, ambos classificados. Era o momento de mostrar suas habilidades, exibir seus dotes para a princesa.

 

E foi assim que o desastre se repetiu: a mão acelerou, o cérebro esqueceu de avisar que a curva estava perto demais. O carro saltou da pista, bateu no muro e espatifou-se.

 

Tal qual Lorenzo Bandini, da Ferrari, na mesma década de 1960, seus sonhos de glória morreram em uma tarde de domingo, para a satisfação de Grace Kelly, que jamais imaginou sua filha vivendo ao lado de tamanho fracasso.

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