Na Faculdade de Direito, Hermann sempre foi conhecido pela presença constante, noite após noite, após jornadas difíceis de trabalho, sem faltar aulas sob hipótese alguma, a menos que se tratasse de caso amoroso.
Abre-se aqui um parêntese por exigência do editor, já que não é possível comprovar eventuais ‘jornadas difíceis de trabalho’ por parte do citado transgressor.
Seguimos, pois, a narrativa, abjurando a interrupção. Estava a turma no último ano, aula de Direito Civil, capítulo Direito das Obrigações, quando o professor surpreendeu a turma, cansada como um Martinho da Vila em busca do diploma.
– Da teoria, vocês já aprenderam o que deveria ser aprendido. Farei então uma pergunta enfocando a prática. Vamos ver quem pode resolver a questão. Implacável, decidiu:
– Hermann, você não falta aula, mas não faz perguntas, parece estar sempre distante. Já faz estágio em algum escritório, imagino. Então, trate de montar uma petição inicial, na forma oral, valendo nota, tendo como objeto uma ação de cobrança – faça a introdução, estabeleça os fundamentos e arremate com o pedido ao juiz. A partir daí irei analisar para lhe dar a nota merecida.
Hermann, mestre dos combates retóricos, não titubeou. Levantou-se e tratou de se contrapor ao descabido exame.
– Professor. Tive uma ideia melhor. O senhor faz a petição e eu analiso.