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O que foi o Batalhão Suez

21/06/2022

O Batalhão Suez foi uma unidade do Exército Brasileiro designada para integrar a força de emergência da Organização das Nações Unidas conhecida como a UNEF I (First United Nations Emergency Force). Sua vigência se deu entre o fim da Guerra do Sinai (1956) e o início da Guerra dos Seis Dias (1967). Além do Brasil também enviaram contingentes militares Canadá, Colômbia, Dinamarca, Finlândia, Índia, Indonésia, Noruega, Suécia e Iugoslávia. A força se destinava a prevenir a ocorrência de conflitos entre Egito e Israel através da ocupação e patrulhamento da fronteira do lado egípcio, cortando de norte a sul o Deserto do Sinai. É importante rememorar a história do Batalhão Suez como caso de sucesso, embora premido por problemas organizacionais em grande parte evitáveis. Seu fim trágico segue sendo uma advertência historicamente válida sobre os riscos envolvidos nos conflitos de autoridade entre civis e militares.

A rigor o Batalhão Suez nunca existiu. Formalmente tratava-se do 2º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria do Exército, sediado no Rio de Janeiro. O nome Batalhão Suez foi disseminado pela Imprensa da época, estabelecendo uma conexão entre a crise aberta pela nacionalização do Canal de Suez pelo governo egípcio, a guerra que se seguiu e a criação da força de emergência. Em termos geográficos o Batalhão serviu ao longo da fronteira entre Egito e Israel no Deserto do Sinai. Durante mais de uma década esta solução foi capaz de impedir a guerra entre ambos os países. Em termos de duração a nossa participação na Força de Emergência da ONU no Deserto do Sinai somente se pode comparar com a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) que durou de 2004 a 2017.

A unidade tinha efetivos de batalhão, cerca de 360 homens, que serviram em regime de rodízio. Ao longo de mais de uma década foram enviados cerca de 6.300 homens. Eles se dedicavam a serviços de guarda e vigilância, empregando armas portáteis, geralmente contra tentativas de ambos os lados de se infiltrar pela fronteira. Aos brasileiros coube o comando da Força em duas diferentes ocasiões, no primeiro semestre de 1964 e no ano de 1965.

O último contingente enviado em 1967 foi engolfado pelas operações militares em larga escala desencadeadas pelo Estado de Israel na Guerra dos Seis Dias em junho daquele ano. Em meados de 1967 o conflito árabe-israelense era uma possibilidade perigosa para as tropas brasileiras. Em 16 de maio o governo egípcio exigiu a retirada das tropas da UNEF, a qual operava apenas em seu território. A ONU então ordenou que seus efetivos se retirassem do território egípcio ao longo da fronteira e se concentrassem na cidade de Gaza, em preparação à saída definitiva do país. No dia 23 tal retirada já estava quase completa. Em 31 de maio, a maioria dos contingentes já havia deixado o Egito. Restavam as tropas brasileira, indiana e sueca que ainda se preparavam para a evacuação. Israel invadiu o Egito em 5 de junho de 1967, dando início à Guerra dos Seis Dias.

As forças israelenses atacaram veículos da UNEF, seus campos de repatriamento e até a sede da organização em Gaza, matando um brasileiro e 14 indianos além de deixar dezessete feridos em ambos os contingentes. Os últimos membros da força de paz das Nações Unidas só conseguiram deixar a região em 17 de junho. Anteriormente ao conflito o Ministro da Guerra teria concordado com a retirada das tropas brasileiras da região, mas a decisão foi barrada pelo Itamaraty. Segundo o Chefe do Estado-Maior do Exército o Batalhão teria permanecido na região por ordem do Governo. Um veemente Relatório por ele emitido foi desconsiderado pela liderança política, levando ao atraso na evacuação de nossas tropas do Egito.

As tropas brasileiras foram transferidas para a região de El Arish, onde permaneceram até o dia seguinte sob custódia das forças armadas de Israel. Após liberados, retornaram às instalações do campo e constataram que parte das bagagens foi saqueada. Israel justificou a ação alegando confundir as tropas da força de paz com os defensores egípcios. Os veículos da Força foram totalmente destruídos, incluindo os caminhões enviados do Brasil pela Fábrica Nacional de Motores (FNM). Também ocorreu a morte do cabo brasileiro Carlos Adalberto Ilha de Macedo. Somente no dia 12 de junho de 1967 o Batalhão Suez embarcou para retorno ao Brasil, encerrando de forma trágica uma trajetória que, até então, foi de significativa contribuição para a manutenção da paz no Oriente Médio. Não foram concedidas aos recém-chegados quaisquer honras militares.


Dennison de Oliveira é professor de História na UFPR e autor em parceria com Fabiano Luis Bueno Lopes de “Veteranos Brasileiros do Mediterrâneo: a Força Expedicionária Brasileira (1944-45) e o Batalhão Suez (1956-1967)” para baixar clique aqui.


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