Recebo mensagem de um velho amigo: “Você tem notícia do Guiña e seu desagradável caranguejo?”. Levo certo tempo para assimilar a pergunta, mas não me ocorre quem seriam tais figuras.
Talvez tenha sido uma forma carinhosa dele se referir ao ex-jogador argentino Guiñazu, ídolo do Internacional na década passada. Mas não me consta o volante de reluzente careca ter tido como colega de time um caranguejo desagradável.
Penso que poderia ser uma referência ao jornalista Ogamar Linhares Júnior, que na intimidade da família paterna atende por “Guinha”. E nada mais me ocorre.
Quanto ao caranguejo, as brumas na mente tornam-se ainda mais densas. Crustáceo de sua espécie seria desagradável se mordesse o dedo de alguém, posto que, à mesa, os caranguejos são deveras agradáveis ao paladar.
O suposto Guiña traria o bicho em uma coleira, acompanhando suas eventuais caminhadas? Seria um inusitado “pet”, passível de ser levado a uma clínica veterinária para tomar vacinas, passar por tosas e banhos?
Então me dou ao desfrute de imaginar Guiña e seu parceiro cruzando a Praça Osório, dois passos para frente, um para o lado, até sentarem no Café da Boca. O tutor pediria um pingado e pão com manteiga, para dar alguns farelos ao artrópode, que de tão domesticado seria capaz de abanar o rabinho e revirar os olhos de satisfação.
Melhor ainda, atenderia ao dono sempre que chamado de “crangejo”, supondo a origem hispânica do citado Guiña. A questão é que, embora tenha adquirido tais qualidades, ele continuava desagradável, como designado pelo tal amigo meu. Seria portador de mau hálito? Chulé? Teria o mal cheiroso hábito de soltar pum em público?
Tudo é enigmático na vida desses dois misteriosos personagens. O sujeito que me enviou a pergunta não responde ao zap. As entradas que fiz no Google deram em nada.
Bem, agora lembrei que nessa madrugada senti um repuchão no mindinho do pé esquerdo. Só falta o pré-histórico habitante dos brejos ter invadido meu quarto. O remédio é dormir com um martelinho daqueles de esmigalhar patolas embaixo do travesseiro.
Resta-me assegurar que não estou tendo alucinações. Assim, firmo a presente, cujos efeitos podem se prestar a qualquer fim. Inclusive o de encerrar esta crônica.
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