Por Marcos Traad
Os avanços tecnológicos para mitigar os impactos ambientais da atividade humana devem ser referenciais para uma nação que pretende ser considerada sustentável. O conhecimento sobre como reutilizar os diferentes compostos lipídicos (como óleos e gorduras, por exemplo) e dos derivados de petróleo é antigo. Porém, com a intensidade de utilização de produtos e subprodutos destes constituintes e a nossa falta de conhecimento para a correta destinação final dos seus resíduos, tecnologias têm sido desenvolvidas, tendo em vista a máxima: a necessidade faz a ocasião.
O óleo de cozinha usado serve como referência para entendermos os danos causados pelo seu descarte incorreto. O despejo no vaso sanitário e na própria pia da cozinha é comum. O cidadão acredita que o que vai para a rede de esgoto não causa qualquer problema. Mais ainda: ligações irregulares nos sanitários e cozinhas na rede pluvial, levam os resíduos para os rios e, numa contaminação ambiental sistêmica, chegam aos mares. É assustador: mas, apenas 1 litro de óleo pode contaminar até 20.000 litros de água. Pior, pelo acúmulo, como água e óleo não se misturam sem o uso de algum detergente, há o entupimento das redes de esgoto, cuja desobstrução aumenta os custos das operadoras, com a adição de químicos que podem causar mais poluição. Se bem que atualmente já existem produtos à base de inoculantes bacterianos que degradam a matéria orgânica com muita eficiência, sem causar qualquer impacto ambiental. É a pesquisa procurando alternativas de remediação ecologicamente adequadas. Quem sabe, em breve, o seu uso seja amplo e obrigatório?
São alarmantes e, vez por outra irreversíveis, os danos ambientais causados pelo uso intensivo dos recursos naturais e, neste caso, das fontes não renováveis como o petróleo. Para o bem de todos, também é necessário continuar buscando alternativas como solução.
Existem inúmeras reclamações dos cidadãos sobre a ocorrência de óleo nos cursos d’água, que devem ser consideradas como sinais de alerta. Contudo, não é tarefa fácil identificar a origem de um lançamento ilegal de óleo. O flagrante do ato pelos órgãos competentes é difícil e não há estrutura de fiscalização capaz disso a todo momento. Como a dificuldade de detecção da origem do problema é recorrente e causa indignação ao cidadão que faz a denúncia: o melhor caminho para evitar a sua ocorrência pode ser a informação adequada. Atividades de Educação Ambiental, por exemplo, em campanhas de orientação, são efetivas e devem ser constantes e não apenas pontuais. Tais investimentos também devem ser feitos com intensidade para o público infantil: são as gerações presentes e as futuras que devem passar a cuidar do planeta. Com o cidadão sabendo dos impactos causados pela falta de atenção à correta destinação destes constituintes, o problema com certeza pode diminuir. “Educação, conhecimento, ciência e tecnologia sempre devem ser tratadas como investimento pela sociedade. Pelos agentes públicos, principalmente aqueles que são os gestores dos recursos orçamentários, não devem ser consideradas apenas como centros de custos”.
Como na nossa “consciência”, a constatação de algum benefício com a conduta adequada sempre desperta interesse: o óleo usado tem valor comercial e há empresas que possuem logística própria para recolher o produto porta a porta, com algum benefício (por menor que seja) para quem separa. A remuneração não deveria nortear o referido ato. Afinal, temos a obrigação de cuidar bem dos recursos naturais. Mas, mesmo com o tradicional “toma lá, dá cá”, vale a conduta de separar para reciclar. Em Curitiba, a entrega de óleo residencial usado pode ser feita nas associações do Programa Ecocidadão, nos Ecopontos e nos terminais de ônibus (nos pontos do Lixo Tóxico). As orientações estão em www.curitiba.pr.gov.br.
Ficam as dicas: não custa sermos mais conscientes e educados para separar os óleos que usamos no dia a dia; façamos bons investimentos na educação das crianças, elas têm que ser vigilantes sobre as nossas ações contrárias ao bem do planeta.
MARCOS TRAAD é graduado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Paraná. Foi Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e Professor Titular da PUCPR.
Excelente artigo. Educação e Sustentabilidade Ambiental.