Por Marcos Traad
Muitas das grandes descobertas se deram por acaso, pela extrema capacidade do homem em observar os fenômenos naturais. O acaso aguça a curiosidade, a busca por algo a ser elucidado e a própria evolução do conhecimento. A descoberta da energia elétrica foi assim. Ao friccionar âmbar sobre uma pele de cordeiro, Tales de Mileto, filósofo e matemático grego, percebeu que o âmbar passava a atrair pedaços de palha e fragmentos de madeira.
De lá para cá: como seriam as nossas vidas sem essa fantástica descoberta? Inimaginável viver sem a energia elétrica. A nossa relação de dependência com ela só aumenta com o tempo. Mas, temos sido agressivos com a Terra quanto ao uso e ao abuso da energia produzida, notadamente pela forma utilizada na sua geração.
Numa simplória analogia, a manutenção da nossa vida depende de uma simples molécula de glicose. Com átomos de Carbono (6), Hidrogênio (12) e Oxigênio (6), a glicose é metabolizada pelas nossas células, perfeitas usinas de processamento, para a produção de energia. Os alimentos, com os seus nutrientes, são fontes de combustíveis com diferentes potenciais energéticos. Pelas condições atmosféricas e as constantes trocas entre os seres vivos que habitam o planeta, com a imprescindível participação do Sol, a vida se multiplica. Com isso, é óbvio que devemos refletir sobre os desafios que enfrentamos diante do esgotamento dos recursos naturais disponíveis.
Mas, como mencionado, a nossa demanda por energia elétrica parece não ter fim, e, os meios utilizados para a sua obtenção estão cada vez mais em evidência, tendo em vista os indicadores de mudanças do clima, com fortes impactos sobre a relativa situação de equilíbrio em que vivemos. A conclusão é: necessitamos mudar de paradigma quanto ao uso das fontes de energia ditas convencionais, principalmente dos combustíveis fósseis e seus derivados. Da mesma forma, mesmo com reconhecido menor impacto, incentivar a redução da dependência da energia hidroelétrica, como no caso do Brasil.
As alternativas para a busca de fontes de produção de energia, chamadas limpas, são diversas. Contudo, o crescimento mais acentuado se concentra na energia solar (fotovoltaica) e na eólica. A primeira com substancial avanço, tem possibilitado a redução das emissões de carbono e, pelo visto, trata-se de uma tendência que perdurará por muito tempo. Tendo localização privilegiada, o Brasil é considerado o país que mais recebe irradiação solar no mundo (3 mil horas/ano). A nossa vantagem competitiva é evidente e devemos ser agressivos na implementação de sistemas fotovoltaicos. Porém, como toda iniciativa que envolve o desenvolvimento tecnológico industrial, nós continuamos nos arrastando e não se vislumbra, em pouco tempo, uma forma de sermos auto suficientes no fornecimento dos componentes que precisamos. Entra em ação a China, a maior produtora mundial de componentes para usinas solares. Neste caso, a condição de competição de outros países fica de fato comprometida. É evidente também que a evolução da indústria sempre deve considerar a relação de custo e benefício, para que haja a atração de investimentos no segmento.
Destaca-se também a importância de incentivos para a produção de energia fotovoltaica nos centros urbanos, tendo em vista que, no médio prazo, o retorno do investimento é garantido. Se bem que já existem iniciativas interessantes de oferta de créditos de energia produzida em áreas rurais, que se transformam em “fazendas de produção”, sem a necessidade de qualquer investimento em infraestrutura nas residências. Com o advento dos avanços tecnológicos, aplicativos voltados a comercializar energias limpas estão entrando com bom posicionamento no mercado e representam um futuro promissor na modalidade pretendida.
Para evidenciar a importância do estímulo do poder público, cita-se o caso de Curitiba. O processo de instalação de placas fotovoltaicas no Aterro Sanitário Municipal desativado, em prédios públicos municipais e em projetos habitacionais populares está a todo vapor. Os investimentos são significativos e, metas ousadas estão sendo cumpridas. Nada melhor do que a visão prospectiva dos que administram a cidade e que pensam em bons investimentos para todos, independente de cor partidária. Mas, no geral, o poder público brasileiro vem perdendo capacidade de planejar ações de longo prazo, o que é lamentável. Mais preocupante ainda é vermos que as discussões eleitorais estão cada vez mais rasas e simplesmente voltadas a tentar resolver problemas pontuais de forma populista. A conta virá em breve. Nos resta torcer para que a decisão da sociedade que elege seja a melhor e que os governantes eleitos estejam à altura da incumbência que receberão, primando pelo futuro de todos.
MARCOS TRAAD é graduado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Paraná. Foi Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná e Professor Titular da PUCPR.
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