Duas das principais edificações do Clube Curitibano – clube social da capital paranaense com 140 anos e cerca de 30 mil associados – representam um capítulo importante da chamada arquitetura brutalista, vertente do movimento modernista brasileiro, que ganhou fôlego nas pranchetas a partir de São Paulo, nos anos 1960. Foi com o objetivo de resgatar e valorizar a história destas duas construções icônicas, construídas na unidade do bairro Água Verde, que o Departamento de Cultura do Clube convidou o arquiteto Fábio Domingos Batista e a historiadora Deborah Agulham Carvalho para escreverem o livro “Modernidade concreta: a ousadia que mudou a história do Clube Curitibano”.
A obra foi publicada pela Editora Grifo e terá lançamento oficial em 13 de outubro, no teatro da Sede Barão do Serro Azul, justamente em uma das construções analisadas no livro.
“A proposta do livro surgiu da necessidade de valorizar essa parte significativa da nossa história. Muitos associados não têm ideia da relevância dessas obras”, explica o Diretor de Cultura do Clube Curitibano, Rafael Cini Perry, idealizador do projeto. “Estabelecido que faríamos o livro, iniciamos um amplo trabalho de pesquisa. Foram analisados mais de 40 anos de atas de reuniões e revistas do Clube. Os pesquisadores também fizeram entrevistas com os arquitetos e as famílias e coletaram informações com associados.”
Toda essa pesquisa revelou muitos casos e histórias fascinantes. “Isso fez com que uma obra inicialmente documental se tornasse o relato da trajetória do desenvolvimento do Clube por meio das suas edificações.”
As obras
O Salão Social e o Pavilhão da Piscina, construídos na sede principal, no bairro Água Verde, foram concluídos no início dos anos 1970 e são considerados vanguarda na cena paranaense. Foram concebidos por profissionais renomados num período em que a arquitetura começava a dar os primeiros passos em Curitiba. O curso de arquitetura na Universidade Federal do Paraná (UFPR) havia sido criado apenas poucos anos antes, em 1962, e uma efervescência juvenil atraiu profissionais de São Paulo e Rio de Janeiro.
“As edificações do Clube Curitibano são duas verdadeiras jóias da arquitetura curitibana e impressionam pela grande tecnologia embutida. Representam o desejo de Curitiba daquela época de se mostrar tecnológica, inovadora e moderna. O que chama atenção também é que eles não eram obras públicas”, observa o autor do livro, Fábio Domingos Batista.
Para que fosse possível reconstruir a trajetória das duas edificações, a historiadora Deborah Agulham Carvalho se debruçou sobre centenas de atas das reuniões do clube e outros documentos das últimas quatro décadas. A história é contada do período que vai da década de 1920, quando foi adquirido o primeiro terreno no bairro Água Verde, até os anos 1970, quando as obras foram concluídas.
“Na época, pensar a construção de uma sede do Clube em um bairro distante do centro urbano foi uma iniciativa corajosa, pois previu, inclusive, a ampliação das atividades e a implementação de modalidades esportivas. O livro conta essa trajetória. Por exemplo, antes da construção do Salão de Festas e do Pavilhão da Piscina, a sede abrigou a Boite Encantada, a Casa do Bosque, quadras de tênis e o ginásio”, conta a historiadora.
Ousadia arquitetônica e construtiva
O projeto do Salão Azul foi elaborado em 1966 por Luiz Forte Netto, Vicente de Castro e os irmãos José Maria e Roberto Luiz Gandolfi. O edifício, de formato redondo e com uma cobertura que simula um guarda-chuva, se destaca pela ousadia arquitetônica e pelo desafio de engenharia.
Ao longo das décadas, porém, as edificações foram submetidas a obras de reforma e ampliação que descaracterizaram muitos dos traços originais. “O livro é uma forma de recuperar a história do Clube e sua evolução a partir destes edifícios que, na época, nasceram da vontade e necessidade de usar a sede do Água Verde para moldar um novo caminho, dando ênfase às atividades esportivas. E também mostrar a ousadia arquitetônica modernista”, explica Rafael Perry.
Expressões do brutalismo
Embora não exista um consenso entre os estudiosos, parte dos historiadores considera o brutalismo um estilo ou movimento que se difundiu em muitos países do mundo, como desdobramento da arquitetura modernista, entre os anos 1950 e 1970. O termo brutalismo seria uma derivação da expressão francesa betón brut, que significa concreto aparente. De fato, as características principais das construções brutalistas são a exaltação do concreto e a minimização das etapas construtivas.
“O processo construtivo é simplificado: dentro de uma forma de madeira, se coloca a armadura de aço, se preenche com concreto e espera secar. Nada mais. O brutalismo é a materialidade do edifício vinculada ao concreto”, explica o arquiteto Fábio Domingos Batista.
No Brasil, bons exemplos de edifícios brutalistas são o prédio da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (USP) e o Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro. Já em Curitiba, o brutalismo encontrou sua máxima expressão nas sedes do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, no bairro Cabral, e da Paranaprevidência, no São Francisco, além da Casa Niclewicz, projetada pelo arquiteto curitibano João Batista Vilanova Artigas.
Serviço
• Modernidade concreta: a ousadia que mudou a história do Clube Curitibano
Autoria de Fábio Domingos Batista e Deborah Agulham Carvalho
Editora Grifo, 2022.
Valor: R$ 100
Venda exclusiva no Departamento de Cultura do Curitibano. Para não sócios, entrar em contato pelo telefone (41) 99680-0376 a partir de 20/10.
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