Segundo a psicologia, o autoconhecimento é o conhecimento que temos sobre nós mesmas. Quando me conheço, tenho maior controle sobre as minhas emoções. Esse controle permite que saiba lidar melhor com a ansiedade, frustrações, surpresas e outras situações que são comuns. Uma pessoa que não tem controle, costuma tomar decisões ruins e acaba tendo diversos prejuízos.
Agora, por que isso é tão importante para as mulheres? Sabemos que ainda vivenciamos o machismo estrutural e enfrentamos diversos conflitos frequentemente. Na vida profissional ou em casa com a família, qual mulher nunca se sentiu diminuída por uma fala ou atitude? Isso ainda acontece e acredito que por mais que tenhamos conquistado nosso espaço, direitos e posicionamento no mercado de trabalho, mas ocupamos apenas 34% do número total de empreendedores, sendo que desse número, 6% das mulheres estão nas comissões administrativas e a maioria delas é herdeira, ou seja, são cargos recebidos da família, não conquistados. Infelizmente, ainda somos vistas como inferiores cognitivamente e reduzidas a nossos hormônios. De fato somos diferentes dos homens, biologicamente e anatomicamente. Costumamos ser menores, muitas vezes não tão fortes fisicamente, apesar da mulher ter um organismo muito mais resistente. Uma pesquisa do IBGE em 2020 mostrou que a expectativa feminina é 7 anos acima dos homens. Mesmo assim, as diferenças visuais e morais, acabam intimidando algumas mulheres.
Historicamente os símbolos femininos sempre foram a descrição, decência, passividade e a fragilidade, enquanto os masculinos, a virilidade, agressividade, força e ousadia. É aí que entra a importância do autoconhecimento para as mulheres. Temos sim nossas diferenças, mas temos plena capacidade de desenvolver novas habilidades fora dos padrões criados pela sociedade patriarcal. Não ter conhecimento sobre nossas qualidades e habilidades, nos deixa acuadas, com medo de ousar e se posicionar. São raras as mulheres que são ensinadas desde pequenas a serem ousadas. A mulher costuma ter uma educação diferente. Enquanto os meninos correm sem camisa, temos que nos cobrir e caminhar devagar. Os meninos são incentivados a paquerar e as meninas, precisamos esperar. Sexo no primeiro encontro ainda é tabu e podemos ser mal interpretadas ao fazermos isso, mas eles podem, afinal “é do instinto”.
Trazer essas questões geram polêmica e este é o objetivo, precisamos construir um novo pensamento. A psicologia traz o medo como uma emoção primária, ele é o que nos prepara para luta e fuga, sem ele, provavelmente não estaríamos vivas. Mas muitos dos nossos medos, não são nossos, são uma construção social. Ouvimos desde jovens o que podemos e o que não podemos fazer, quais são as nossas capacidades e o que é destinado aos homens, logo, o que sai desse padrão nos amedronta. Vejam só o exemplo das aldeias Ede do Vietnã. Tradicionalmente, são as mulheres que possuem todas as propriedades e as passam para suas filhas. Elas também devem pedir seus maridos em casamento, e eles adotam o nome de família da esposa, vivendo na casa dela. Na sociedade Mosuo, na China, as mulheres tomam a maioria das decisões de negócios e gerenciam as famílias completamente. Lá existe uma das últimas sociedades matriarcais do mundo. As mulheres podem escolher seu parceiro, mas não ficam totalmente ligadas a ele. Elas têm quantos amantes quiserem, convidando-os para encontros secretos à noite (geralmente depois que os homens passaram o dia todo abatendo porcos, enquanto elas organizavam as finanças domésticas). Imagine se fosse assim em nosso país? Se uma mulher agisse desse modo, o que poderia acontecer? Por que não acontece? Medo. Medo do julgamento, medo de como as pessoas irão receber esse tipo de comportamento. Esse medo é uma construção social.
Para que esse medo seja quebrado, para que possamos desenvolver as habilidades que ainda não conhecemos, conquistar ainda mais nosso espaço e poder ver outras mulheres seguindo esse mesmo caminho, precisamos de autoconhecimento. Ele pode ser adquirido através de terapia, processos de desenvolvimento, experimentando novas situações, conhecendo mentoras que podem servir como inspiração. Com autoconhecimento é possível adquirir autoconfiança e nos transformarmos em mulheres que conquistam, não apenas mulheres que sonham.
REFERÊNCIAS
Fernandes, Maria das Graças Melo. O corpo e a construção das desigualdades de gênero pela ciência. Physis: Revista de Saúde Coletiva [online]. 2009, v. 19, n. 4 [Acessado 19 Outubro 2022] , pp. 1051-1065. Disponível aqui e aqui.
Romanzoti, Natasha. Sociedades em que as mulheres mandam podem nos ensinar muitas coisas. Disponível aqui.
ESCOLA, Equipe Brasil. “Autoconhecimento”; Brasil Escola. Disponível em aqui. Acesso em 13 de outubro de 2022.
VAREJO S.A, Equipe. 34% dos empreendedores no Brasil são mulheres. Disponível aqui. Acesso em 18 de outubro de 2022.
ESTADÃO, Equipe. Expectativa de vida das mulheres continua acima da dos homens, diz IBGE. Disponível aqui. Acesso em 18 de outubro de 2022.