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O inacreditável país exigido pelos contestadores

08/11/2022
bolsonaro

Nove dias depois da proclamação do resultado do segundo turno, os apoiadores do atual presidente seguem em sua retórica golpista, a partir da fantasiosa versão de que houve fraude perpetrada pelo TSE.

É engraçado que os apoiadores do grotesco Bozo, eleitos para mandatos de governador, nada contestam. A fraude houve apenas na eleição para presidente.

A tal retórica foi copiada da campanha permanente do ex-presidente norte-americano, o também grotesco Donald Trump. A fundamentação é a seguinte: “Não importa que não haja provas, o importante é manter o discurso para plantar a dúvida na cabeça dos eleitores”. Como diz o chavão, “água mole em pedra dura…”

O baile segue com essa única marcha sendo executada. Lá estão eles gritando palavras de ordem na frente dos quartéis, fechando estradas, exigindo um movimento militar intempestivo e descabido.

Pretendem que o Exército saia da caserna e assuma o poder? Quem lideraria esse governo de fancaria? O ocupante de hoje, derrotado nas urnas?

As quarteladas foram comuns na história do país. A monarquia caiu vítima de uma delas. O autor daquela façanha, Deodoro da Fonseca, foi vítima da seguinte. Floriano toureou a Revolta da Armada e a Revolução Federalista, de 1893/94. Nos anos 20 do século passado elas foram tão rotineiras que Artur Bernardes governou sob estado de sítio.

Chegamos, então, ao fim das eleições fraudulentas, em sua versão antiga, em que os votos eram proferidos, não depositados. Getúlio Vargas, derrotado contra Júlio Prestes, o beneficiado, levantou suas tropas no Rio Grande do Sul e só parou quando seus cavalos beberam água na fonte do Palácio Monroe, sede do Senado Federal.

O sistema eleitoral mudou para melhor, embora o próprio Getúlio o tenha corrompido, com seu golpe do Estado Novo em 1937. Depois, nos anos 50, de novo no poder, viu estourarem protestos de toda ordem. Seus sucessores também. Café Filho foi derrubado por um golpe branco. Juscelino quase não assume por conta de subversão militar. Até que, em 1964, o golpismo venceu – graças ao histerismo da classe média, horrorizada pela república sindicalista que poderia ser implantada com as chamadas reformas de base, prometidas pelo governo João Goulart.

E, agora, o que querem? De novo uma república verde-oliva? Outra vez as prisões, a censura, as aposentadorias compulsórias, a falta de liberdade?

Talvez queiram que o Exército saia pelas estradas como fez o General Mourão Filho, conhecido como “vaca fardada”? Seria um movimento getulista às avessas? Ou pretendem reencarnar a tropa de carniceiros de Gumercindo Saraiva e subir pelo mapa brasileiro, levando consigo o degolador oficial, Adão Latorre?

Aos empresários que hoje ameaçam fechar suas empresas cabe lembrar que, há dois anos, eles foram responsáveis pela grita contra o lockdown exigido pela pandemia. Ficará melhor para suas biografias se agora cuidarem de suas empresas e do bem da população.

Outros pretendem o isolamento. Ouvi um sujeito gritar que Joinville iria se tornar “a primeira cidade isolada do país”. Será que a cidade se tornou uma ilha por decreto? Fecharam os portos para as nações inimigas e ficarão lá, como se estivessem no Forte Álamo, comandados por John Wayne?

No fundo, por trás desse movimento insano está o preconceito, a afirmação de que “Lula não me representa”, como se só quem o representa pudesse exercer a presidência da República. Bem, para 60 milhões de brasileiros, o abjeto Bolsonaro não os representa. E, até aí, morreu neves, como diriam os antigos.

Está na hora do país olhar para o futuro. Quem não estiver de acordo com o próximo governo terá quatro anos para estruturar propostas e disputar as eleições.

Importante ressaltar que a palavra “propostas” não inclui a produção desmesurada de Fake News, essa praga gerada pelas mídias sociais responsável por deturpar o sentido da democracia e que tem no gangster ianque Steve Bannon seu líder máximo, deus supremo de uma teoria supremacista que, infelizmente, impregnou muitos dos brasileiros.

Em tempo, em 26 anos de eleições estruturadas sob urnas eletrônicas, jamais apareceu um cidadão, um que fosse, a dizer que houve fraude. Milhares de pessoas trabalham em cada pleito, gente de todos os matizes, todos os partidos, todos os gêneros. Jamais alguém ofereceu uma prova de fraude.

Mas os bolsonaristas acreditam que haja uma imensa conspiração, formada por milhões de brasileiros, engajados na ideia de prejudicar seus ideais. Devem acreditar também no coelhinho da Páscoa, no Boi Tatá, no Curupira.

1 Comentário

  • Obrigada pela lucidez.
    Olhando rapidamente o cenário
    acredito que assim estafurdias e flagrantes mentiras, prosperam principalmente em dos tipos de público;
    Os inescrupulosos e manipuladores, que antevem benefícios pessoais e na enorme massa de cidadãos, fáceis de manipular, por falta de educação informação e até de recursos
    Sei que minha apreciação e muito rasa para explicar o mento que estamos vivendo, pois existem o utros fatores que também concorrem para aprofundar esta triste e lamentável sit8uação.

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