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29/04/2024

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Tutancâmon teve tumba descoberta há 100 anos: Quais os segredos do rei-menino?

 Tutancâmon teve tumba descoberta há 100 anos: Quais os segredos do rei-menino?

Foi há exatos 100 anos que a equipe do pesquisador britânico Howard Carter anunciou aquela que seria conhecida como “a maior descoberta arqueológica da história” ao se deparar com o túmulo do faraó Tutancâmon no Vale dos Reis, no sul do Egito. Um século depois, a expedição e os milhares de itens encontrados por ela ainda norteiam pesquisas e teorias, além de revelar segredos e hábitos dos antigos egípcios. Neste ano, o país africano se prepara para expor grande parte dessa coleção em um novo museu, o maior do mundo dedicado exclusivamente a uma civilização.

A descoberta de Tutancâmon trouxe, de forma inédita até então, o cenário de uma tumba faraônica praticamente intocada por mais de três milênios. Foi isso que trouxe popularidade ao faraó – e não nenhum feito associado ao seu curto reinado.

 

Centenário da escavação de Tutancâmon

Em novembro de 1922, após anos de buscas, o arqueologista britânico Howard Carter se deparou com um lance de escada enterrado enquanto trabalhava no Vale dos Reis, no Egito. Embaixo da entrada, ele encontrou a porta para a tumba de Tutancâmon, construída há mais de 3 mil anos. Nos meses seguintes, milhares de artefatos inestimáveis foram coletados na “maior descoberta da Arqueologia”.

 

 

Às margens do Rio Nilo, o Vale dos Reis é uma região no Egito onde a arqueologia descobriu muitos túmulos de faraós, mas todos, até aquele ano de 1922, haviam sido reutilizados para outros funerais posteriores, danificados pelo tempo ou saqueados pelos tesouros que guardavam.

“Até então, nenhuma tumba real no Vale dos Reis teve um contexto como aquele. Isso trouxe uma nova perspectiva, que até então não tínhamos noção, da quantidade de material e do que se encontrava nesses sepultamentos”, explica Pedro von Seehausen, egiptólogo no Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Arqueólogos encontraram 5,4 mil itens em câmara funerária

A expedição de Carter foi bancada pelo lorde britânico Carnavron e estava na sua última temporada de buscas antes de ter a verba cortada, quando o arqueólogo encontrou sob a areia uma entrada para um lance de escadas. Semanas depois, ele conseguiria finalmente espiar o interior da tumba pela primeira vez. Quando questionado sobre o que via, respondeu apenas: “Coisas maravilhosas”.

 

 

Carter demoraria dez anos para catalogar todas as 5.398 ‘coisas maravilhosas’ que encontrou enterradas com Tutancâmon. De acordo com a crença egípcia, os mortos carregam tudo o que precisam para viver no outro plano. Logo, a tumba do faraó foi abarrotada com joias, vestes, sandálias, roupas íntimas, brinquedos, tronos, utensílios, armas etc.

Apenas a “máscara da morte”, feita de ouro puro entrelaçado com lápis lazúli do Afeganistão, obsidiana (rocha constituída por um tipo de vidro vulcânico) e quartzo, tornou-se um símbolo icônico e referenciado inúmeras vezes na cultura como sinônimo do Egito Antigo. Nos últimos anos, análises apontaram ainda que uma adaga encontrada no túmulo foi forjada com uma lâmina de meteorito, o que pressupõe uma tecnologia de derretimento do ferro muito mais avançada do que se esperava para a Idade do Bronze.

O valor do que Carter encontrou é inestimável até hoje, não só pelo peso histórico de cada um dos itens, mas também pela opulência de ouro e pedras preciosas cravejadas, por exemplo, em cada uma das três camadas de seu sarcófago. Foi naquela época que o Egito começou a mudar as leis de propriedade sobre artefatos históricos achados no país.

 

 

“A lei não mudou após a descoberta, mas na mesma época em que a tumba estava sendo escavada o Egito estava sob controle colonialista e havia rivalidade entre as potências sobre quem controlava o país. Antes, quem pagava a escavação levava tudo embora”, explica o arqueólogo Thomas Stella, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).

Não à toa, o Egito hoje nacionalizou todas as antiguidades descobertas em seu território. “Nada pode sair e o que está fora vão pedir de volta. Mas não é algo simples, precisa de convencimento diplomático. A Unesco (órgão ligado às Nações Unidas) faz a mediação desse tipo de coisa, mas a tensão existe e é um assunto de política internacional”, aponta Stella.

Para Seehausen, a descoberta de Carter teve impacto direto na forma como o Ministério de Antiguidades do Egito passou a lidar com suas propriedades: “Isso serviu para ressignificar um pouco dessa questão, porque trouxe os olhos do mundo para aquele momento.”

 

Causa da morte do rei-menino envolve mistérios

Tutancâmon, também conhecido como Rei-menino ou Rei Tut, para os íntimos de uma múmia com 3 mil anos, viveu no período egípicio conhecido como Império Novo, entre 1336 e 1327 antes de Cristo. Ele assumiu o trono aos 10 anos e morreu pouco depois, com 19, o que tornou seu reinado breve e mais importante hoje do que naquela época.

Ainda não foi possível afirmar o motivo exato de sua morte precoce, mas as duas hipóteses mais difundidas até aqui são a de que o Rei Tut teria morrido de malária ou por alguma doença degenerativa dos ossos. Esta última encontra respaldo nas bengalas encontradas em sua tumba e no fato de que ele seria fruto de um incesto (o que não era incomum naquela época), além de casado com a própria meia-irmã paterna, Ankhesenamun.

 

 

“Nessa dinastia egípcia, a maioria das relações eram incestuosas Na época isso não era considerado aberração. O problema era do ponto de vista genético”, explica Stella. “O Tutancâmon era coxo e quase teve dois filhos com a irmã, mas eles morreram e, inclusive, foram enterrados juntos com o pai.”

A linhagem genética e as companhias que teve em sua tumba compõem um dos maiores mistérios que cercam até hoje a vida e a morte do Rei Tut. Nos últimos anos, arqueólogos apoiados pela tecnologia de sondagem descobriram que há uma espécie de vão na tumba de Tutancâmon, que pode tanto estar oca quanto conter o corpo mumificado da rainha Nefertiti, que alguns acreditam ser a mãe do faraó.

Há duas entradas, uma em cada canto da tumba, Elas levam a outras salas que nunca foram abertas antes, porque senão pode danificar tudo o que está. Acessar por fora também é muito complexo, porque estamos falando de uma montanha que pode desabar e tudo ser perdido”, observa Stella. “É precipitado dizer que a Nefertiti está ali, mas é certeza que há algo.”

 

 

“Se fosse confirmado, seria outra tumba real em contexto intacto”, afirma Seehausen, que aponta também para outra teoria do egiptólogo Zahi Hawass de que Nefertiti teria sido ressepultada em outra tumba no Vale dos Reis.

Esse e outros mistérios ainda pairam sobre a vida do rei-menino mesmo hoje, um século após a descoberta da tumba. “Por que apagaram o nome dele da história?”, questiona Thomas Stella sobre a ausência de Tut em registros oficiais. “É a pergunta mais importante. Quem assumiu o trono depois foi o general do Tutancâmon, responsável por estabilizar o país após um período de trevas, mas ele foi o último faraó daquela dinastia com linhagem sanguínea”, continua. “O Egito é uma caixa de surpresas”, resume o arqueólogo.

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