Se o Brasil quase havia vencido a Copa de 1950, perdendo por detalhe, sem dúvida a glória chegaria quatro anos mais tarde. Era o que pensava a torcida brasileira sobre a campanha a ser cumprida na Suíça. Ainda mais que, dois anos depois do Maracanazzo, o selecionado nacional tinha sido campeão pela primeira vez em uma competição no exterior, o Campeonato Pan-americano de 1952, no Chile. Foi a base daquele time que viajou para a Europa.
O regulamento era para lá de esdrúxulo. As seleções foram divididas em grupos de quatro, mas só jogavam contra dois adversários – algo sem nenhum sentido. O Brasil venceu o México por goleada na estreia, empatou com a Iugoslávia e classificou-se em primeiro lugar na chave. A França, a outra componente, ficou em terceiro lugar, desclassificada com os mexicanos.
A Hungria, que havia vencido os alemães ocidentais por 8 x 3 na primeira fase, terminou em segundo no grupo, conforme as aberrações regulamentares, mesmo com duas vitórias. Assim, iria enfrentar o Brasil nas quartas. A seleção brasileira tremeu – e os húngaros venceram por 4 x 2. Era um timaço, o que não impediu a nossa delegação de atacar a arbitragem. A coisa foi feia, o inglês Arthur Ellis escapou por pouco.
Nos corredores dos vestiários, o brasileiro Mário Vianna, da equipe de árbitros daquela Copa, perdeu os pudores e saiu dando sopapos. Foi eliminado da Fifa e, tempos depois, inaugurou a função de comentarista de arbitragem, tendo como bordão “Mário Vianna com dois enes”. Nunca entendi que tipo de diferencial os dois “enes” poderia acrescentar à credibilidade do ex-apitador, mas era assim mesmo. Da cabine de transmissão ele vaticinava; ‘Gol legal’. E estávamos conversados.
Não foi só isso. Nosso treinador, Zezé Moreira, munido de uma chuteira, acertou o ministro dos esportes húngaro. Um completo vexame.
Hungria e Alemanha Ocidental voltaram a se encontrar na final. O mundo já saudava os húngaros como campeões mundiais, graças à força do time, recheado de craques. Mas, outra vez, deixaram de combinar com os deuses da bola. Depois de saírem perdendo por 2 x 0, os alemães buscaram o empate e, já no fim do jogo, o atacante Helmut Rahn (foto) marcou o gol da vitória. Foi o primeiro título dos quatro alcançados pelos alemães. Muito anos mais tarde, a epopeia virou filme, como o título de “O Milagre de Berna”.
A Alemanha, a propósito, é o país com mais configurações geográficas na história das Copas do Mundo. Em 1934 estava limitada aos limites acordados após a fim da guerra de 1914-1918. Quatro anos depois já trazia a Áustria no bornal. A partir de 1954, e até 1986, jogou como Alemanha Ocidental. E desde 1990, com a queda do Muro de Berlim, apresenta-se na versão unificada. Sem esquecer que em 1974 houve também a presença da Alemanha Oriental, vizinhos, porém adversários – e vencedores de uma partida entre ambos, muito suspeita. O que é assunto para outra coluna.
Com tudo isso, das 22 edições do Mundial a Alemanha esteve ausente em duas – 1930 e 1950 – mas participou com 21 seleções. São as esquisitices das Copas do Mundo.