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Copas do Mundo e suas esquisitices (III)

29/11/2022
garrincha

A seleção brasileira fez uma boa preparação para a Copa do Mundo da Suécia, em 1958. Houve tempo para concentração em estâncias hidrominerais, com os jogadores amparados, pela primeira vez, por uma comissão técnica completa, além de estrutura médica, odontológica e psicológica.

O time deslanchou a partir da última partida da fase de grupos, quando estrearam Pelé e Garricha. Esquisita foi a vitória contra a França, na semifinal. No fim do primeiro tempo, o atacante Vavá chocou-se com o zagueiro francês Jonquet – que deixou o campo com fratura na perna. Como não havia substituições, os franceses jogaram o segundo tempo com 10 jogadores, do que o Brasil se aproveitou para enfiar 5 x 2. Nossa única vitória contra eles em Copas.

O título veio com outra goleada pelo mesmo placar frente os anfitriões. Na noite anterior à partida choveu muito em Estocolmo, mas os suecos trataram de secar o gramado, à custa de baldes, panos e escovões.

Quatro anos mais tarde, o time era quase o mesmo para a Copa no Chile, exceto pela dupla de zaga: Mauro e Zózimo, reservas na Suécia, foram titulares. Pelé machucou-se no segundo jogo, o que não foi problema. Garrincha jogou por ele e por todos os outros. Fez gols de pé direito, esquerdo, cabeça e de falta. E deu passes para gols de seus companheiros. Além disso, foi expulso na semifinal, contra os donos da casa, mas autorizado a jogar a final. Houve que a principal testemunha do chute que ele deu no adversário chileno, o bandeirinha Esteban Marino, foi embarcado às pressas de volta para o Uruguai. Ele era muito amigo dos brasileiros: em anos anteriores, tinha sido árbitro da Federação Paulista. Sem a palavra dele, Garrincha foi absolvido.

Garrincha só não conseguiu segurar um cachorro que invadiu o campo no jogo contra a Inglaterra. O cãozinho driblou o craque da Copa.

A Copa de 62 não foi transmitida para o Brasil pela TV. Mas os jogos foram vistos no dia seguinte. Um avião da Varig saia toda as noites de Santiago com destino a São Paulo. Nos dias de jogos da seleção, o voo trazia o filme da partida, para ser revelado e distribuído no mesmo dia para as cidades em que havia emissoras de televisão: Rio, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Curitiba e Porto Alegre.

Assim, 24 horas depois a TV abria espaço para todo mundo ver o jogo da tarde anterior. Quem não tinha TV em casa – amigos e os então chamados “televizinhos” – aparecia para um café ou uma cerveja. Foi dessa forma que a conquista foi comemorada duas vezes: no domingo e na noite de segunda-feira. Quando terminou a exibição da final pela TV, rojões estouraram nos céus curitibanos e a criançada saiu comemorando pelas ruas. Parecia que o Brasil tinha sido campeão mais uma vez.

Depois de 1962 a Fifa acabou com uma das maiores bizarrices das Copas: o fato de um jogador que havia jogado por uma seleção defendesse outra nas edições seguintes. O brasileiro Mazzola, campeão em 1958, defendeu a Itália no Chile, assim como Puskas, da Hungria de 1954, passou a ser espanhol em 1962.

Por aqui, a euforia foi tão grande com a conquista do bicampeonato que durante o período anterior à Copa da Inglaterra que só se falava no tri. Mas a desastrosa preparação acabou com o sonho. Foram convocados 47 jogadores, times suficientes para que o Brasil jogasse duas vezes no mesmo dia, na preliminar e no jogo de fundo, contra seleções diferentes. Aconteceu no Maracanã, no dia 8 de junho de 1996. Um time venceu o Peru por 3 x 1 e outro ganhou da Polônia por 2 x 1.

Na Copa, o Brasil só passou pela Bulgária. Perdeu da Hungria e de Portugal e voltou rápido para casa. A Copa da Inglaterra foi a última sem substituições durante o jogo. Também graças a ela foram implantados os cartões amarelos e vermelhos nas Copas seguintes. A iniciativa veio por conta de um fato insólito: o capitão argentino Rattin, mesmo apontando sua braçadeira, não conseguiu se fazer entender pelo árbitro alemão Rudolf Kreitlen, que lhe advertiu e, em seguida, expulsou. O chefe de arbitragem da Fifa, Ken Aston, tempos depois, teve a ideia de criar os cartões, para que o entendimento entre árbitros e jogadores não precisasse ser verbal. A novidade começou a ser aplicada na Copa de 1970, no México.

Mas essa será assunto da próxima crônica.

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