Dez anos se passaram desde a abertura do mercado dos cafés em cápsulas no Brasil, que ocorreu após a queda de patentes da Nespresso – a marca, do grupo Nestlé, chegou ao País em 2006 e, por seis anos, dominou a tecnologia por aqui. De lá para cá, dezenas de cápsulas de marcas alternativas, compatíveis com as máquinas da pioneira, surgiram nas gôndolas. Pois pense que no primeiro teste realizado pelo Paladar, no comecinho de 2013, apenas cinco exemplares puderam ser degustados, incluindo o original (e três deles já não existem mais).
Em nova edição do teste às cegas, 11 marcas foram colocadas à prova – e a seleção foi árdua, já que essas amostras representam uma pequena parcela desse mercado, que hoje põe dentro das cápsulas todo tipo de grão de café torrado e moído.
A triagem procurou abranger as opções mais encontradas nas prateleiras dos supermercados – exceto a Nespresso, que só vende em lojas próprias -, independente da categoria do café (tradicional, gourmet ou especial). Afinal de contas, num exame voltado ao consumidor que busca pelo melhor custo-benefício, “o sabor deve falar mais alto”, segundo o especialista Ensei Neto.
Além dele, Alice Guedes, mixologista do Fechado, que é misto de café e bar, Boram Um, barista e sócio da Um Coffee Co., Mari Sciotti, chef do restaurante Quincho, e Tainá Luna, chef de bar da cafeteria Pato Rei, compuseram o júri, que elegeu o Sontuoso da L’Or, o Gourmet Clássico da Baggio e o Armonico da Lavazza como os melhores cafés em cápsulas do mercado.
No geral, o que os jurados encontraram na xícara foram cafés sem muito equilíbrio, com pouco aroma, pouca acidez e amargor discrepante – o que está longe do que especialistas esperam da bebida, mas que, por outro lado, reflete a preferência de um público que acabou se acostumando com esse padrão de bebida. Já não é mais segredo que a grande indústria costuma optar por cafés de torra mais intensa para esconder possíveis defeitos, causados pela baixa qualidade da matéria-prima ou pela falta de cuidado e rigor no processo produtivo.
É também consenso entre os jurados que a maioria dos consumidores de cafés em cápsulas dá de ombros para essas e outras questões, como a da sustentabilidade por exemplo – só para a realização desse teste 55 cápsulas (algumas de alumínio, outras de material biodegradável e algumas sabe-se lá do que são feitas) foram utilizadas. O que fala mais alto é a praticidade e o padrão que essa tecnologia oferece: café expresso extraído em dose única ao simples toque de um botão.
Confira a seguir o ranking com os melhores cafés em cápsulas do mercado
1º L’Or, Sontuoso
(R$ 26,99, 10 cápsulas, no St. Marche)
Com corpo sedoso e espuma cremosa, o café (em cápsula de alumínio) foi o preferido dos jurados por conta da elegância – a bebida apresentou equilíbrio entre doçura, amargor e acidez. Tem aroma de frutas frescas e, no sabor, os jurados destacaram notas de açúcar queimado e doce de leite. “Tem gostinho de quero mais”, brincou um dos jurados.
2º Baggio, Gourmet Clássico
(R$ 21,49, 10 cápsulas, no Pão de Açúcar)
O corpo sedoso e aveludado (com crema persistente), além do equilíbrio entre doçura, acidez e amargor (leve) apresentado por este café, conquistaram os jurados. Entre as notas percebidas, destacaram-se as de nozes e de chocolate ao leite. Pecou ao apresentar vestígios de oxidação e, por isso, não conquistou o primeiro lugar.
3º Lavazza, Armonico
(R$ 24,90, 10 cápsulas, no St. Marche)
A famosa marca italiana apresentou um café cremoso, equilibrado, com doçura e acidez presentes, além de um agradável amargor. Entre as notas percebidas, destaque para as de nozes e de caramelo. Só perdeu pontos pela finalização seca.
4º Melitta, Marcatto
(R$ 19,99, 10 cápsulas, no Pão de Açúcar)
A embalagem promete um café (em cápsula biodegradável e compostável) com notas de cacau torrado e frutas secas e, de fato, entrega. Os jurados também perceberam caramelo, nozes e um leve amadeirado. O final muito amargo e seco, porém, fez a amostra perder alguns pontos.
5º Pilão, Tradicional
(R$ 20,99, 10 cápsulas, no Bergamini)
Não houve consenso entre os jurados: enquanto uns se incomodaram bastante com o amargor acentuado deste café (embalado em cápsulas de alumínio), outros o consideram equilibrado, com leve acidez e doçura. Considerando a preferência do público (e o preço nas gôndolas), é um “café para todos os dias e todas as horas”, definiu um dos jurados.
6º Illy, Intenso
(R$ 26,49, 10 cápsulas, no St. Marche)
Também em cápsulas de alumínio, o café da marca italiana chamou a atenção dos jurados logo de cara, por apresentar uma crema de respeito (persistente e cremosa). Com corpo médio/baixo, a bebida apresentou notas de caramelo, nozes e chocolate ao leite. Perdeu pontos pela falta de acidez e pela finalização amarga e seca.
7º Nespresso, Arpeggio
(R$ 28, 10 cápsulas, em lojas da Nespresso)
O café da marca pioneira no método de extração em cápsulas saiu-se acima da média na análise sensorial, mas não conquistou o pódio. Isso porque, apesar da cremosidade e das notas de amêndoas e caramelo no aroma, os jurados reclamaram de um amargor persistente e de certa adstringência.
8º 3 Corações, Mogiana Paulista
(R$ 15,99, 10 cápsulas, no Bergamini)
A cápsula de alumínio acomoda café torrado e moído de grãos cultivados na região localizada ao norte do estado, que é famosa pela produção cafeeira. Na análise sensorial, porém, a bebida não ficou entre as melhores por conta da crema menos densa e pela falta de personalidade no corpo (médio/baixo), no aroma, no sabor e na finalização que “desaparece rápido da boca”.
9º Orfeu, Intenso
(R$ 25,79, 10 cápsulas, no Pão de Açúcar)
Apesar do corpo cremoso e da acidez (baixa) e da doçura (média) presentes, o café especial (em cápsulas biodegradáveis e compostáveis) cultivado na fazenda Sertãozinho, no sul de Minas Gerais, perdeu muitos pontos pelo amargor intenso e desagradável, que “lembra queimado”. Outro jurado mostrou-se incomodado com um sabor químico.
10º Starbucks, House Blend
(R$ 27,55, 10 cápsulas, no Pão de Açúcar)
O amargor intenso (e desagradável) e a adstringência apresentada por este café (em cápsulas de alumínio) dificultaram a sua colocação no ranking. “Chega a ser agressivo.” Apesar disso, um dos jurados até conseguiu encontrar a nota de toffee prometida pela embalagem.
11º Santa Mônica, Orgânico
(R$ 25,69, 10 cápsulas, no St. Marche)
As notas medicinais percebidas na boca tiraram do páreo o café produzido na fazenda homônima, localizada no sul de Minas Gerais A bebida ainda apresentou corpo baixo, ausência de doçura e de acidez, além da finalização amarga e seca. “Parece bem oxidado”, cravaram alguns jurados.
Os jurados
Alice Guedes (@b_alice)
Bartender, comanda a barra do Fechado, que é misto de café e bar “Passei a estudar cafés para incorporar a bebida na mixologia”, conta.
Boram Um (@boramum)
Premiado barista, está à frente da cafeteria Um Coffe e Co., que cuida de seus cafés do plantio dos grãos à xícara.
Ensei Neto (@enseineto)
Especialista em cafés, atua como consultor em bebidas e alimentos. É também autor do blog Um café para dividir, publicado pelo Paladar.
Mari Sciotti (@marisciotti)
Chef do restaurante vegetariano Quinco, na Vila Madalena, e “cafezeira” confessa. “Consumo todos os tipos de cafés, sem preconceitos.”
Tainá Luna (@tainalunaa)
É barista há seis anos e chef de bar da cafeteria Pato Rei. Passa o expediente às voltas com ótimos cafés especiais – e adora bater papo sobre esse assunto.
Para mais notícias acesse HojePR.com
(Foto: John Schnobrich/ Unsplash)
estadão conteúdo