Principal vitrine da produção autoral e independente contemporânea do cinema brasileiro, a Mostra Aurora ocorre no quadro da Mostra Tiradentes, com que a mineira Universo Produção abre a primeira de seus três vitoriosos eventos distribuídos ao longo do ano. Após a Mostra de Tiradentes, encerrada aos primeiros minutos do domingo, 29, virão a Mostra Cine OP, dedicada à preservação de filmes, em junho, e a Mostra Cine BH, em setembro/outubro, dedicada à produção contemporânea internacional.
A par da excelência dos três filmes premiados pelos diferentes júris – o oficial, da Mostra Aurora, escolheu As Linhas da Minha Mão, de João Dumans; o júri universitário outorgou a O Canto das Amapolas, de Paula Gaitábn, o prêmio Carlos Reichenbach, como melhor filme da Mostra Olhos Livres; e o júri popular consagrou A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes, exibido no Cinema da Praça -, a edição de 2023 foi histórica por ter sediado o Fórum que redigiu a Carta de Tiradentes, a ser encaminhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à titular do Ministério da Cultura, Margareth Menezes.
O Fórum começou a ser gestado no fim do ano passado, na Mostra Cine BH, quando se iniciaram as discussões sobre o desmantelamento das estruturas de produção pelo então Governo Federal. Como diz uma das organizadoras dos eventos de cinema da Universo, Raquel Hallak, “não sabíamos qual seria o resultado da eleição, se poderíamos sonhar com um novo renascimento do cinema, ou se teríamos mais quatro anos de dura luta pela sobrevivência”.
Formaram-se cinco grupos de trabalho que foram coordenados por Alfredo Manevy para discutir a realidade do setor e propor soluções. A vitória de Lula e o novo conceito da União e Reconstrução vieram somar-se ao foco no Cinema Mutirão que pautou a Mostra de Tiradentes deste ano.
Os grupos de trabalho, integrados por 70 profissionais da área, não necessariamente representantes de associações classistas, reuniram-se transversalmente. Discutiram a realidade de cada setor, levando as conclusões e propostas ao grupo todo, e voltando para considerações finais no seu grupo inicial. Dessa forma foi redigida a Carta de Tiradentes. Raquel Hallak espera que o documento avance nas tratativas com o novo Governo Federal, estimulando o diálogo – e as soluções – já no quadro da Mostra Cine OP, no meio do ano.
A discussão sempre fez parte das iniciativas da Universo, e a Mostra de Tiradentes, em especial, firma-se, na voz de Raquel, como ‘o maior evento de cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão de filmes.”
A presença da ministra Cármen Lúcia, do STF, na abertura, foi revigorante. Ela foi a Tiradentes para confirmar o compromisso do Tribunal com ordem institucional e para destacar a importância da arte. Mais que celebrar a liberdade, deve ser libertadora. Depois de duas edições online, Tiradentes voltou a ser presencial, marcada por reencontros e afetos. Os filmes vencedores estavam todos nessa vibe.
Os filmes premiados
Dumans, parceiro de Affonso Uchoa – de A Vizinhança do Tigre e Arábia -, fez de uma série de encontros com a atriz Viviane de Cássia Ferreira a matéria-prima para uma investigação sobre arte e loucura, nas bordas do documentário e da ficção. Paula Gaitán usou a voz da mãe que partiu para evocar paisagens históricas e afetivas. “É meu filme com melhor resposta de público. Muita gente veio falar comigo. Todo mundo tem mãe e os diálogos se comunicam bem com as pessoas.” Diógenes parte de outro encontro/reencontro.
A filha vem passar uma semana com o pai humorista, e transformista. Tudo os separa, mas a difícil convivência será transformadora para ambos. Como já ocorria antes da pandemia, a Mostra de Tiradentes terá uma itinerância em São Paulo, no CineSesc, entre 23 e 29 de março. Fique atento.
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(Foto: Mostra Tiradentes)
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