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Por que compartilhar importa?

28/02/2023
titton

Em nosso primeiro encontro nessa coluna, dei a conhecer a minha visão do que é a arte. Falo da importância de compartilhar verdades essenciais, para quem cria. Então, vamos conversar um pouco sobre essa importante necessidade natural do ser humano – comunicar-se – ou seja, dar-se a conhecer.

 

Como é ridícula essa vossa necessidade de comunicar! Por que vos parece tão importante que pelo menos uma pessoa tenha visto o interior de vossa vida?

– Dag Hammarskjöld*

 

Cada um de nós é um ser único nesse nosso planeta terra, salvo existam clones!

 

Demoramos bastante para descobri isso, ou para acreditar nas nossas potencialidades. Ao nascer vamos “nos virando” para comunicar nossas necessidades de sobrevivência. Mais tarde, nossos desejos se manifestam, já na adolescência, em busca de afirmação – queremos ser iguais aos outros, pertencer ao grupo, ser aceitos. No caminho do crescimento, às vezes ficamos encalhados, estagnados nesse lugar, consciente ou inconscientemente, pelos motivos os mais diversos. É nesse momento da adolescência que passamos a ser os maiores críticos de nós mesmos e é quando começamos a perder a espontaneidade. Deixamos de desenhar, pois nossas habilidades nesse campo, por não serem valorizadas pelas nossas escolas, não seguimos desenvolvendo esse valioso e rico processo de comunicação. O desenho não é um talento raro, é uma técnica que se aprende por meio de exercícios para o olhar. Portanto, todas as pessoas que são capazes de escrever poderiam também desenhar corretamente aquilo que veem. Como não o fazemos, perdemos uma grande oportunidade de compartilhar, ou seja, de nos comunicamos dessa forma rica, importante e, sobretudo, universal.

 

Como posso compreender o outro a fim de me comunicar, se tenho dificuldade em me conhecer? O conhecimento do nosso pensamento se dá por meio da fala, ao expressarmos nosso pensamento, passamos a conhecê-lo. Da mesma forma, as outras formas de expressão. Como disse em coluna anterior “o artista expõe a obra e a obra expõe o artista” porque é no momento em que se coloca no mundo por meio de sua expressão escrita, falada, cantada, etc., é que se realiza no mundo, que passa a existir como aquele ser único de quem falamos acima. Pensem na riqueza da escritura de uma partitura musical. É uma maneira de escrever que permite que milhões de pessoas de culturas diferentes, de países distantes, com línguas diferentes, se reúnam, sem jamais se terem visto antes, e toquem juntas, compartilhando o mesmo entendimento e a mesma emoção da música, essa arte que alimenta a nossa alma, nossas paixões e nosso sonhos. Compartilhar é ser humano.

 

*Citação de Louise Berman, em “Novas prioridades para o currículo”.

Crédito da ilustração: Johann Sebastian Bach, Fuga 1, 24 Prelúdios e Fugas. Paris, Richault (1828?)

 

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