Recentemente, um vídeo que gerou indignação viralizou nas redes sociais. Nele, 3 estudantes de biomedicina recriminam uma mulher por cursar uma faculdade aos 40 anos. Diante de acontecimentos como este, o etarismo e a discriminação que envolve a idade das mulheres, emergiram como assuntos de extrema importância, compreendendo a dificuldade de lidar com o fato de que dia após dia estamos envelhecendo. Inesperadamente, os que mais se preocupam com a velhice não são os mais velhos, são sobretudo os jovens. Além disso, sinalizar para uma mulher que a mesma aparenta ter menos idade tornou-se ao longo dos tempos um elogio, reforçando que a sociedade frequentemente venera mulheres mais jovens e desvaloriza as que possuem cabelos brancos.
Dados mostram que sociedades ocidentais, como o Brasil, por exemplo, apresentam sinais de preconceito etário no cerne familiar, no sistema de saúde, em órgãos governamentais, inserido no mercado de trabalho e mídia. Isso ocorre quando o uso da idade cronológica é utilizado para negar recursos e oportunidades, determinando através dela as competências sociais e cognitivas da mulher. Este comportamento legitima atitudes e crenças arraigadas em nossa cultura, implicando em danos para a qualidade de vida, reduzindo a chance da sociedade se beneficiar de contribuições e conhecimento dessa parcela da população.
Enquanto comentários desrespeitosos forem tratados com brandura, como o das 3 estudantes, ou como o ditado: homens envelhecem como vinho e mulheres como o leite; a juventude continuará sendo propagada como um valor. Cabe a nós mulheres, modificarmos essas crenças reconhecendo primeiramente que o preconceito etário é um problema e por consequência, utilizar educação e mudança de atitudes como método. Falar com mais frequência sobre o assunto; naturalizar os fios brancos; não mentir quando perguntam a idade; explicar para quem utiliza o aspecto jovem como um elogio, que existem maneiras melhores de enaltecer alguém, exaltando a simpatia, profissionalismo, ou a capacidade de exercer tantos papéis ao mesmo tempo; interromper o uso de filtros nas redes sociais e mostrar para outras mulheres que marcas de expressão são comuns a todas nós; frequentar lugares que se gosta, mesmo que lá tenham pessoas de outras idades; fazer uma faculdade mesmo que já tenha passado muito tempo longe da sala de aula; escolher ser mãe, independente que digam que não haverá disposição para cuidar de uma criança, ou que parecerá avó dela. Desconstruir crenças é um caminho árduo, mas imprescindível para que haja a mudança que tanto desejamos e a valorização de quem realmente somos.
Referências:
Redação Terra. Universitárias debocham de colega de classe de 40 anos: “Era para estar aposentada”, 13 mar 2023. Disponível aqui. Acesso em 22 mar 2023.
Goldani, Ana Maria. Desafios do “preconceito etário”no Brasil. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 111, p. 411-434, abr.-jun. 2010. Disponível aqui. Acesso em 22 mar 2023.
Couto, M. C. P. de P., Koller, S. H., Novo, R., & Soares, P. S.. (2009). Avaliação de discriminação contra idosos em contexto brasileiro – ageismo. Psicologia: Teoria E Pesquisa, 25(Psic.: Teor. e Pesq., 2009 25(4)), 509–518. Disponível aqui. Acesso em 22 mar 2023.
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