Quando a tecnologia nos leva ao inimaginável.
À noite, sem vontade de me afundar em alguma série, zapeando pelo youtube em busca de inspiração musical, resolvi, por curiosidade, clicar, no “ Le concours des castrats”, acreditando ser um concurso entre os cantores dessa categoria, o que não ocorreu. Descobri que essa palavra é usada para definir composições clássicas de concursos nos conservatórios de música, como se fossem peças de confronto, clássicos dentro dos repertórios oficiais. Não imaginava poder desfrutar de tanta beleza sem sair de casa, apenas diante da minha nova TV de tela grande, à qual, aliás, demorei a me render.
Hoje, é com muita alegria que convido vocês a viajarem comigo ao Palácio de Versailles para desfrutar dessa obra prima, não apenas de música, mas de beleza total!
Voltando ao título do programa, devo dizer que fiquei curiosa quanto ao termo “Castrats”. De volta à tecnologia, fui buscar informação sobre o termo, já que sabemos que não se castra mais pessoas (ao menos no ocidente). Segundo a Wikipédia, castrato (plural castrati) em italiano, seria um cantor cuja extensão vocal corresponde em pleno à das vozes femininas, seja soprano, mezzo-soprano ou contralto. Isso ocorre porque o cantor, quando criança, foi submetido à castração, para preservar a voz aguda. Em 1913, Alessandro Moreschi (1859-1922) se aposentou do coral da Capela Sistina e é considerado o último “castrato” da história. Fiquei então me indagando quem seriam os intérpretes, hoje, dessas maravilhosas composições da época, tais como as de Handel, Pourcell, entre outros. São os contra-tenores, ou mesmo, vozes femininas.
As imagens de indescritível beleza nos levam do jardim à sala dos espelhos do palácio. Por entre esculturas e lustres de cristal seguimos os cantores até o grupo de instrumentistas da Orquestra da Ópera Real, dispostos em círculo, uma formação pouco usual, com seus lindos instrumentos que, sob a regência do violinista Stefan Plewniak, interpretam composições de Ariosti, Hasse, Handel,Porpora, Pourcell e Vincia Monteverdi.
Aos poucos, cada um dos intérpretes vocais entra no círculo e apresenta seu solo. Primeiro, o contralto Filippo Mineccia, depois Valter Sabadus, mezzo-soprano, e por fim Samuel Mariño, soprano. A interpretação é magnífica! Sem contar que cada um de nós se torna espectador único, podendo apreciar de ângulos inéditos todo o espetáculo. É como estar no paraíso! Em seguida, formam duos ou trios vocais. Eles mesmos, todos aliás, desfrutam de enorme prazer e alegria ao fazer música.
Toda essa experiência me levou a buscar mais informações sobre a música do período e um pouco de sua história. Segui então, por indicação da própria internet, em busca do filme sobre o mais famoso “Castrato” da história, Farinelli (Carlo Maria Michelangelo Nicola Broschi). Viveu no século XVIII e foi o mais popular e bem pago cantor de ópera da Europa (Wikipédia). Nasceu em 24 de janeiro de 1705, na Itália ,onde faleceu aos 77 anos, em 1782. O belo filme de Gérard Corbiau (1994) “Farinelli”, o castrado, nos traz outras igualmente sensíveis experiências estéticas. Aconselho assistir.
Ainda no youtube, busquei ouvir e compartilhar a bela voz e interpretação do nosso querido conterrâneo, o contra-tenor Paulo Mestre, a quem temos a feliz oportunidade de assistir, pessoalmente, em suas apresentações junto à Camerata Antiqua de Curitiba, muitas vezes no espaço da Sala de concertos da Capela Santa Maria. Encontrei a apresentação que aconteceu no Rio de Janeiro, em 2010, na capela barroca da ordem Terceira de São Francisco, interpretando, de Pergolesi “Sabat Mater”, com nossa Marília Vargas e Felipe Prazeres (violino solo.
Encerro aqui essa estranha coluna, cheia de indicações, mas sobretudo com a alegria de poder oferece os caminhos para toda essa riqueza e encantamento! Aproveitem! Vivam momentos de inesquecível emoção!
Imagem: Galeria dos Espelhos no Palácio de Versailles – Myrabella/ Wikimedia Commons/ CC BY-AS
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