Na segunda coluna de “puxando a sardinha para o meu lado”, vou falar sobre outro lugar inóspito que produz vinhos em Portugal: o Alentejo.
Quente e seco, pouca água para irrigar videiras e oliveiras, um ambiente hostil e alvo de grandes demandas históricas. O Alentejo, que já foi região dos Romanos e Mouros, foi também lar das mais tradicionais famílias portuguesas, que de lá foram expulsas por Salazar. Suas terras férteis foram entregues para colonos e trabalhadores locais, que nada ou pouco fizeram de produtivo por lá. As cooperativas do passado foram falindo, e ao longo dos anos, eles foram vendendo aquilo que nunca foi seu de verdade. Os antigos donos e seus descendentes acabaram comprando o que lhes foi expropriado pelo estado.
Ruínas romanas de Évora
Hoje o Alentejo retomou o brilho do passado. Talvez seja a mais intrigante e sedutora região produtora de vinhos de Portugal. Muita coisa boa sai de lá, com bom preço e também aqueles TOP de Gama que fazem qualquer um sair do sério. Évora é o berço disso tudo. As ruínas romanas da cidade talvez sejam o DNA dos vinhos do Alentejo. Quem sabe a verdade? O importante é usar a imaginação e experimentar muitos vinhos de uma belíssima região portuguesa.
O lendário Pera-Manca
Um dos ícones internacionais do mundo do vinho vem do Alentejo. Pera-Manca. O tinto passa fácil no Brasil dos R$ 3.200,00 e o Branco dos R$ 600,00. Ele é produzido pela Fundação Eugênio de Almeida, uma entidade sem fins lucrativos que administra 400 hectares da mais fina flor da vinicultura portuguesa. A Fundação produz ainda dois vinhos bastante conhecido dos brasileiros, o Cartuxa e o EA. Com a marca EA você também encontra um azeite nos principais mercados do país.
Tive o privilégio de percorrer por diversas vezes a região, e cada vez é uma descoberta diferente, um novo vinho, uma novo lugar para chamar de seu.
Do solo seco do Alentejo saem os melhores vinhos de Portugal
Quinta do Paral. Esse é um dos lugares para chamar de seu. Maria é a gerente do projeto. Fruto do amor de um alemão e de uma brasileira. Uma vinícola antiga, que estava muito descuidada, com alguns hectares de vinhas velhas e outras áreas largadas ao Deus dará. Ao lado de um enólogo, Luís Leão, Maria mudou a cara do Alentejo.
Vinho de extrema qualidade. Ganhador de prêmios. Com estratégia de marketing e comunicação eficientes. Hoje ele custa X, mas daqui alguns anos com certeza vai estar na casa dos 10 X. Agora é a hora. O Alentejo está a nos exigir presença. Da Quinta do Paral gosto dos brancos, dos tintos e das Vinhas Velhas. Tudo é bom por lá. Uma Quinta que conta ainda com 21 suítes de um hotel cinco estrelas.
Na vinicola Ervideira você pode produzir o teu próprio vinho através de um blend de uvas
O vinho do Alentejo talvez seja a cara do brasileiro: somos fortes, resistimos à diversidade, estamos abertos ao novo, e sempre prontos para desafios.
Dicas da semana
1 – Coutada Velha Signature. Tinto Alentejano produzido pela Monte da Ravasqueira Safra 2020. Blend das uvas Aragones, Trincadeira e Cabernet Sauvignon. R$ 88,00 no site da Sonoma Brasil
2 – Quinta do Paral. Tinto Alentejano. Blend das uvas Touriga França, Petit Verdot, Touriga Nacional e Petit Syrah. Safra 2018. 13% de teor alcoólico. R$ 193,00 no site da Wine Brasil
Eu, Maria e Luis
Leia outras colunas do Alexandre Teixeira aqui.
Crónica muito boa, porém há que esclarecer que quem expulsou as famílias tradicionais do Alentejo em Portugal foram os comunistas durante o Período Revolucionário Em Curso (PREC) depois do golpe militar do 25 de abril de 1974, que derrubou o regime autoritário de Marcelo Caetano, sucessor de Oliveira Salazar, que morreu em 1970, depois de longa doença. De resto, parabéns, excelente viagem ao bom Alentejo.
Parabéns