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17/05/2024

Dia dos namorados

dia

Hoje pela manhã, procurando entre meus já amarelados livros um poema para compartilhar aqui, por ocasião dessa data em que se comemora o “dia dos namorados”, tive um pouco de dificuldade, pois segundo consta, esse dia é um dia alegre quando os casais comprometidos pelos mesmos sentimentos se encontram, comemoram e se presenteiam.

 

Qual não foi a minha surpresa, quando mergulhada nos conhecidos e aclamados poetas do amor, percebi serem, em sua grande maioria, levados por um sentimento de desconforto, usando para traduzir esse sentir, palavras e expressões de dor, de dúvida e de perda! Seria o amor fonte de sofrimento?

 

Segue aqui o que encontrei de menos doloroso, de Tagore, em “O jardineiro”:

 

O meu coração ave do deserto, encontrou o céu nos teus olhos.

Eles são o berço das madrugadas e o reino das estrelas.

Os seus abismos devoram os meus cânticos.

Deixa-me pairar nesse céu imenso e solitário. Deixa-me varar as suas nuvens e desdobrar as minhas asas ao sol.

 

Mesmo nesse pequeno poema, um pouco mais abstrato que carnal, encontramos a percepção da solidão dos abismos e do deserto.

 

Fiquei divagando entre os conceitos de namoro, amor e paixão. Como não sou filósofa, busquei algumas definições, sendo as mais comuns as de que o namoro é uma fase de curiosidade, de busca de conhecimento, cheia de “boa vontade” para com o outro. Já o amor, sempre com “A” maiúsculo, evoca entrega, doação, um sentimento mais perene e construído, que tenta manter a chama ardente da paixão enclausurada na redoma do equilíbrio. A paixão, no haicai de Alice Ruiz:

 

Paixão

Xama

Paixão

 

A paixão, esse sentimento livre e desvairado, ignora as regras dos bons costumes e da retidão. É nesse mar, enfurecido, de ondas gigantescas, de dualidades, euforia e dor que se encontram a maioria dos cantos de amor. Com essa breve descrição deixo aqui, para sua meditação, “Eu e Você” de Paul Géraldy, na obra “Expansões”:

 

Eu gosto de você!

Compreende? Eu tenho por você uma doidice…

Falo, falo, nem sei o quê,

mas gosto, gosto de você

Você ouviu bem o que eu disse?…

Você ri? Eu pareço um louco?

Mas que fazer para explicar isso direito, para que você sinta?… O que digo é tão oco!

Eu procuro, procuro um jeito…

Não é exato que o beijo só pode bastar.

Qualquer cousa que me afoga, entre soluços e ais.

É preciso exprimir, traduzir, explicar…

Ninguém sente senão o que soube falar.

Vive-se de palavra e nada mais.

Mas é preciso que eu consiga essas palavras e que eu diga, e você saiba… Mas, o quê?

Se eu soubesse falar como um poeta que sente, __diga! __diria eu mais do que quando tomo entre as mãos essa cabeça linda e cem, mil vezes, loucamente, digo e repito e torno a repetir ainda:

Você! Você! Você! Você!…

 

Depois de tanto amor e dor, tantos eu e você, o nós, pronome que expressa o encontro vai ficando para mais tarde, para muito tempo depois do dia dos namorados, “Para o tempo da delicadeza”, como propõe Chico Buarque.

(Imagem: Obra desta colunista “Prá esperar o amor”, 1997. – Fotografia de Sergio Sade)

 

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

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