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ARTIGO

Maestro Waltel Branco, um ilustre parnanguara

07/07/2023
waltel

Por Manoel Medeiros Machado

 

Na primavera de 1929 um casal resolve passar um final de semana em Paranaguá e eis que o inusitado acontece. A jovem estava grávida de sete meses e dá à luz a um menino prematuro. Nasce o grande gênio da música brasileira, Maestro Waltel Branco.

 

Quem foi esse maestro afinal? Nada mais, nada menos que o criador do tema de “A Pantera Cor de Rosa”.

 

Bem, este ilustre parnanguara, neto de alemães, teve como primeiro professor de música e alias muito cedo seu próprio pai que era saxofonista e clarinetista. Ainda muito jovem participou de uma gravação nos estúdios da Odeon onde conheceu o Maestro Radamés Gnatalli que claramente notou sua genialidade musical e o convocou para tocar com ele. Mais tarde teve como mentores musicais, dentre outros, dois importantíssimos maestros brasileiros, Mario Tavares que foi um dos maiores interpretes de Villa Lobos e do curitibano Alceo Bocchino, um dos fundadores da Orquestra Sinfônica Nacional.

 

Ávido por conhecimento musical e disposto a novos desafios parte ainda muito jovem para os Estados Unidos onde tem aulas com Sal Salvador, notório guitarrista e músico que tocava com Nat King Cole. Nessa época Waltel para financiar seus estudos de jazz laborava dando aulas de violão clássico. Waltel mais tarde toca com Nat King Cole, e produz o álbum de seu irmão Fred Cole e de Natalie Cole, filha de Nat. Viveu também em Cuba onde ajudou a criar um estilo chamado “Jazz Fusion” que é uma mistura de jazz, música cubana e brasileira.

 

O tempo vai passando e Waltel vai ampliando seu conhecimento musical e conquistando o respeito dos músicos norte americanos e acaba por conhecer a esposa do Maestro Quincy Jones, a cantora Peggy Lipton que o apresenta a sua irmã e futura esposa, Lede Saint-Clair.

 

Genialidades musicais latentes e grande empatia, Quincy Jones e Waltel Branco tocam e fazem muito jazz, muita música clássica e surfam no holograma musical esbanjando muito talento e com isso acaba por conhecer o famoso Maestro Henry Mancini por quem é contratado e nesse movimento torna-se o arranjador de uma das maiores trilhas sonoras mundiais, “A Pantera cor de Rosa”

 

As décadas de 50 e 60 foram anos de grandes criações e produções musicais mundo a fora e nesse período Waltel retorna ao Brasil e no Rio de Janeiro vive o início da Bossa Nova onde faz os arranjos de João Gilberto no álbum Chega de Saudades, integra o Sexteto “Os Cobras” com grandes nomes como Chaim (Piano), Moacyr Silva (Sax tenor), Ed Maciel (Trombone), Julinho Barbosa (Pistom), Paulo Fernando de Magalhães (Bateria) e Waltel Branco (Guitarra) e também grava dois álbuns tendo como parceiro nada mais, nada menos que Baden Powell.

 

Waltel viajou pelo mundo em busca de conhecimento musical. Teve pequenas passagens pela Europa e Ásia, viveu nos Estados Unidos, Cuba e Espanha. Certa vez Fidel Castro desapontou-se com o Buena Vista Social Club e Waltel Branco é convidado para recuperar a autenticidade da música Cubana. Mais tarde Waltel vence um concurso de música da Rádio Difusora Francesa e seu prêmio foi estudar na Espanha com o Maior Violinista Clássico do século, Andrés Segóvia. Rapidamente ele deixa de ser aluno e passa a tocar com Andrés.

 

Outra curiosidade foi que em 1963 o Maestro Waltel Branco conheceu nos Estados Unidos o Jornalista Roberto Marinho e a convite passa a ser crítico musical do jornal O Globo e com a criação da TV Globo foi contratado e dirigiu as trilhas sonoras de O Bem Amado, Morte e Vida Severina, Roque Santeiro, dentre outras.

 

Em 2012 recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFPR. Waltel só retornou a Paranaguá no início do ano 2000 por conta de um documentário e em 2016 aos 86 anos de idade o Consagrado Maestro é homenageado nos 368 anos da cidade onde apresentou-se no Teatro Rachel Costa. Ele exibia um cabelo Black Power e vez por outra era indagado se havia nascido na Bahia e respondia o seguinte… Sou baiano da baía de Paranaguá.

 

Waltel Branco foi um dos músicos brasileiros mais completos, ou seja, foi compositor, multi-instrumentista, maestro e arranjador. Trabalhou com inúmeros nomes da música brasileira e internacional além de ser considerado uma pessoa extraordinária por quem com ele convivia. Lamentavelmente seu trabalho, sua obra e sua genialidade são de pouco conhecimento pela maioria dos brasileiros. Nasceu em 22 de novembro (dia do músico) de 1929 em Paranaguá e faleceu em 28 de novembro de 2018 no Rio de Janeiro aos 89 anos de idade.

 

Existe muito a dizer e muito para aprender com a obra do Maestro Waltel Branco e a forma mais genuína para entender sua música, sua sensibilidade e sua genialidade é ouvi-la.

16 comentários em “Maestro Waltel Branco, um ilustre parnanguara”

  1. Manoel Medeiros Machado

    A pedido de Thomaz Korontai
    Além do excelente texto, muito bem escrito, o oportuno conteúdo, já que eu conhecia um pouco da obra de Waltel, mas desconhecia a vida tao rica ainda que resumida, deste gênio.
    Obrigado por nos brindar com tal conhecimento e continuem, vocês dois, Manoel e Débora, a resgatar as joias da música universal.
    Abraço fraterno, tríplice!

  2. Parabéns ao meu amado! Por seu intelecto na arte , música e entre tantos conhecimentos.
    É satisfatório saber que nos tempos de hoje possamos resgatar um pouco da cultura e arte brasileira que por si é muito rica. Não podemos deixar morrer no esquecimento nossos artistas locais que fazem da música regional a mais pura e encantadora arte. Obrigada amado por nos prestigiar com este artigo memorável,sobre um ilustre músico paranaense nosso conterrâneo. Que orgulho, Waltel Branco revivendo neste momento ímpar. Viva a arte e a música brasileira
    Parabéns!!! 👏

    1. Manoel Medeiros Machado

      Minha amada, agradeço muito suas palavras e também por ser tão parceira nessa jornada de resgate da música, dentre outros elementos ligados as artes e a cultura. O legado cultural não somente de Waltel Branco, mas também de grandes nomes de nossa música devem ser redescobertos e divulgados pois são verdadeiros tesouros. Obrigado por seu amor por mim, pela música e pela cultura. ❤️

  3. Giovanna Cervelli Machado

    Texto incrível e extremamente bem escrito! A música da “Pantera cor de rosa” foi um ícone marcante da minha infância. Muito gostoso e nostálgico conhecer a história! Muito obrigada por nos proporcionar essa leitura maravilhosa! Muito orgulho do escritor e da rica cultura que nos transmite!

    1. Manoel Medeiros Machado

      Minha filha que tanto me orgulho, muito obrigado. Certa vez você pediu para seu aniversário que eu comprasse a música da Pantera Cor de Rosa. Assim o fiz e foi a festinha inteira com o álbum tema. Te amooooo minha filha. ❤️

  4. No momento em que andamos tão carentes das belas artes, somos premiados com uma linda narrativa de Manoel sobre um ícone da música nacional e internacional. Waltel, para gostos refinados 👏🏽🇧🇷

    1. Manoel Medeiros Machado

      Prezado Dr. Roberto, muito me honra vosso comentário. Precisamos marcar uma bela audição 🤝😊🎵

  5. Parabenizo o autor, Manoel Medeiros Machado, pela excelente matéria sobre o ilustre parnanguara, Maestro Waltel Branco. Sua escrita detalhada e envolvente nos transportou para a vida e trajetória brilhante desse grande músico brasileiro. Foi um prazer conhecer mais sobre a genialidade e as conquistas do Maestro Waltel Branco por meio do seu artigo. Obrigado por compartilhar essa história inspiradora conosco!

    1. Manoel Medeiros Machado

      Ilustre Felipe Malucelli, agradeço as bem colocadas palavras e sinto-me feliz por colaborar com a multiplicação desse nome precioso da música e musicalidade brasileira. 😊

  6. Fiquei muito contente com a matéria de hoje do nosso amigo Manoel Medeiros Machado, desconhecia até então a história do Maestro Waltel Branco, de tão nobre relevância para nossa história. Parabéns pela matéria!

    1. Manoel Medeiros Machado

      Muito obrigado amigo Fabiano 🙏 Este artigo é apenas um pequenino resumo da genialidade de Walter Branco

  7. Um novo saber para mim que amo esta música, e não por acaso, é o toque de chamada do meu celular.
    Excelente artigo, que vem com informação e valorização do potencial da riquíssima musicalidade brasileira.

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