Ainda lembro que assisti no dia 26 de setembro de 1999 um dos shows mais memoráveis de minha vida. Aproveitando a passagem de Marky Ramone por São Paulo, a mítica casa de shows Hangar 110 conseguiu organizar uma jam session especial. Marky tocou com a banda paulistana Forgotten Boys (dois garotos com menos de 18 anos) um repertório só de clássicos dos Ramones. Duas cenas me marcaram: a entrada de Marky no Hangar 110, carregado pelos braços do público até o palco, e meu filho Felipe, então com 13 anos, dançando extasiado seu primeiro pogo.
Marky Ramone, nome artístico de Marc Steven Bell (Nova York, 15 de julho de 1952), foi baterista da banda de punk rock Ramones, de maio de 1978 a fevereiro de 1983, e de agosto de 1987 a agosto de 1996. Também tocou em outras bandas notáveis: Dust, Estus, Richard Hell and The Voidoids e Misfits.
Em 2015, Marky lançou sua autobiografia “Punk Rock Blitzkrieg: My Life as a Ramone”. O livro tem passagens divertidas como na vez em que entrou em um bar e sentou na mesa com simplesmente Jim Morrison, do The Doors, e Jimi Hendrix. Hoje mora em Brooklyn Heights – NY com sua esposa, Marion Flynn, eterna namorada desde a adolescência.
Ele acaba de confirmar a passagem de sua “Tour Blitzkrieg” este ano pela América do Sul. Serão quatro apresentações no Brasil: a primeira está agendada para 10 de outubro no Bar Opinião, em Porto Alegre; no dia seguinte o compromisso será no Tork N’Roll de Curitiba; no dia 14 de outubro a turnê chega ao CK Eventos de Londrina-PR; enquanto que o último show da série será realizado no Carioca Club, em São Paulo, no dia 15 de outubro. Marky Ramone promete uma noite histórica com os maiores clássicos da banda que popularizou o estilo punk com música, conceito, atitude e moda irreverente. Vai aproveitar pra celebrar os 50 anos do CBGB´s, berço do Punk Rock, em Nova York. Foi onde conheceu Dee Dee Ramone, que o convidou pra entrar na banda.
“Assistir a um show de Marky Ramone Blitzkrieg é como transportar-se para uma apresentação dos Ramones no CBGB´s ou em outro lugar do mundo, vivenciar toda a energia crua do mais puro rock n roll e fazer parte da história, mesmo que você tenha nascido depois do fim da banda e não tenha tido a oportunidade de vê-los ao vivo”, diz o material de divulgação da turnê. Clássicos como “Pet Sematary”, “Sheena is a Punk Rocker”, “Blitzkrieg Bop” e “Do You Wanna Dance” entre outros sucessos poderão ser dançados novamente. HEY HO! LET´S GO!
Marky Ramone foi o baterista que mais tempo permaneceu nos Ramones, fez mais de 1.700 shows e gravou oito discos de estúdio com o grupo entre 1978 e 1983 e de 1987 até o fim, em 1996. Em 2001, Marky, junto aos membros remanescentes da banda (Johnny, Dee Dee e Tommy), foram imortalizados no Rock ‘N’ Roll Hall of Fame. No mesmo ano, Bono Vox entregou o MTV’s Lifetime Achievement Awards a eles. Em fevereiro de 2010, os Ramones receberam o Grammy Lifetime Achievement Award que premia o artista por toda a sua obra. Foi o primeiro Grammy para os pioneiros do Punk Rock.
Mas antes de entrar no Ramones, Marky tocou com outra lenda do punk americano: Richard Hell, um de meus maiores ídolos. Foi na banda Richard Hell and the Voidoids formada em Nova York, em 1976, e aqui cabe um parêntesis para falar um pouco sobre o líder do grupo.
Richard Meyers, o verdadeiro nome de Hell, nasceu em Kentucky e mudou-se para Nova York depois de abandonar o ensino médio em 1966, aspirando a se tornar um poeta. Ele e seu melhor amigo do colégio, Tom Miller, fundaram a banda de rock Neon Boys , que se tornou o idolatrado Television em 1973. A dupla adotou nomes artísticos; Miller chamou a si mesmo de Verlaine em homenagem a Paul Verlaine , o poeta francês que ele admirava, e Meyers se tornou Richard Hell porque, como ele disse, descrevia sua condição.
O grupo foi a primeira banda de rock a tocar no clube CBGB’s , que logo se tornou um terreno fértil para o início da cena punk rock de Nova York. Hell tinha uma presença de palco enérgica e usava roupas rasgadas presas com alfinetes de segurança e seu cabelo espetado, que seria influente na moda punk. Em 1975, após um contrato fracassado com o New York Dolls, o empresário Malcolm McLaren afirmou ter trazido essas ideias de volta com ele para a Inglaterra e eventualmente as incorporou à imagem dos Sex Pistols . Uma afirmação que o vocalista dos Sex Pistols, John Lydon/Johnny Rotten contesta, citando seu próprio uso de alfinetes de segurança e cabelo espetado (tingido de verde) antes de ingressar no Pistols. Disputas com Verlaine levaram à saída de Hell do Television em abril de 1975, e ele co-fundou os Heartbreakers com o guitarrista do New York Dolls, Johnny Thunders, outro mito da época . O inferno não durou muito com essa banda, e ele começou a recrutar membros para uma nova no início de 1976. Para guitarristas, Hell encontrou Robert Quine e Ivan Julian. Quine havia trabalhado em uma livraria com Hell, e Julian respondeu a um anúncio no The Village Voice . Eles levaram o baterista Marc Bell , mais tarde Marky Ramone, de Wayne County . A banda foi batizada de “The Voidoids” em homenagem a um romance que Hell estava escrevendo. Richard havia escrito a música ” Blank Generation ” enquanto ainda estava no Television e mais tarde lançou um EP Blank Generation com The Voidoids em 1976 pela Ork Records, incluindo “Blank Generation”, “Another World” e “You Gotta Lose”. Ouça aqui: https://www.youtube.com/watch?v=v9FkQLjOSZ8
A capa do disco foi feita pela ex-namorada de Hell, Roberta Bayley, retratando-o de peito nu com um zíper de jeans aberto. Ele sempre gostou de provocar através do seu visual – teve uma época que andava com uma camiseta escrita: “MATE-ME POR FAVOR!”, botando lenha na fogueira da Cena. Formando bandas, rabiscando poemas, tomando picos de heroína, tentando tacar veneno na caixa d’água da cultura americana, Richard Hell carregava estampada no peito aquele queer slogan, Please Kill Me, que depois se tornaria o nome de um dos mais clássicos livros que conta “A História Sem Censura Do Punk” (história oral organizada por Legs McNeil e Gillian McCain).
O som que Hell fazia com os Doidoids remetia muito à urgência, à fúria e ao debochado humor dos Ramones, dos Undertones e dos Heartbreakers. Essa mistura de sofisticação lírica e ataque sônico furioso demonstrava que a poesia podia ser cool e que o punk podia ser veículo para uma literatura das ruas. Em suma: não há como falar em poesia marginal no punk sem dedicar bons capítulos à figura de Richard Hell – que também foi um vocalista criativo, irreverente, inspiração para vertentes lúdicas do punk que se manifestariam em bandas até da longínqua Curitiba, como o Beijo AA Força. Apesar de ter sido tão pioneiro, até hoje a obra de Richard Hell permanece cult, desconhecida demais do grande público, uma injustiça perante um artista de tamanha relevância na constituição do raw power propugnado pelo punk na década do prog e da discow.
Fechado este longo e merecido parêntesis, voltemos ao show do dia 11 de outubro: Marky Ramone em Curitiba. Para deixar a noite com a cara da cidade, a Zero Five, produtora da turnê do artista no país, promove um concurso para escolher a banda local que abrirá o show. Para participar, as bandas interessadas deverão se inscrever no site da produtora até o dia 15 de agosto. Os inscritos serão avaliados e três bandas de cada cidade serão escolhidas para passar por uma votação pública nas redes sociais da Zero Five a partir do dia 20 do mesmo mês. O resultado será divulgado no dia 1º de outubro.
Em Curitiba, Marky Ramone se apresenta no Tork N’ Roll. Os ingressos já estão à venda via Clube do Ingresso, a partir de R$ 180.
SERVIÇO – MARKY RAMONE EM CURITIBA
Quando: 11 de outubro de 2023 (quarta-feira)
Onde: Tork N’ Roll (Av. Mal. Floriano Peixoto, 1695)
Horário: 20h30
Ingressos: a partir de R$ 180
Vendas: Clube do Ingresso
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Imperdível, estaremos lá movimentando as cadeiras.