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A moda é ser sustentável, mas não na indústria da moda

21/09/2023
moda

Os brasileiros vão consumir aproximadamente seis bilhões de peças de roupas neste ano. Na outra ponta, 170 mil toneladas de resíduos têxteis devem ser descartadas no País. Deste total, apenas 20% das peças serão reaproveitadas. O restante vai abastecer lixões e aterros sanitários, isso se não for parar em rios, córregos ou terrenos baldios. Somente no bairro do Brás, maior polo têxtil do Brasil, localizado na capital paulista, 16 caminhões são carregados diariamente com sobras da produção de vestuário. No mundo, segundo a organização Global Fashion Agenda, 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados em anos recentes e a projeção é de um aumento de 60%, ou mais de 140 milhões de toneladas nos próximos oito anos. A maior parte do descarte não é biodegradável e aí reside o problema. Os tecidos sintéticos, os mais usados na cadeia da costura, podem levar até 400 anos para se decompor. Estes dados mostram o tamanho do desafio da indústria da moda para se enquadrar nos parâmetros ambientais e sociais aceitáveis de práticas ESG, e entrar como um todo na moda da sustentabilidade. Estratégias de logística reversa e economia circular ajudam, mas não resolvem. A reciclagem de tecidos é um processo difícil e tem alguns prós e vários contras. O principal deles é o alto consumo de energia para gerar subprodutos de baixa qualidade, quando usado o processo mecânico de separação de fibras. Pelo método químico, sobram resíduos que podem ser tão poluentes quanto o pano que é processado.

 

Poluição fast fashion

A indústria da moda é uma das que mais consomem recursos naturais e está entre as que mais poluem o mundo. Um levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que a cadeia produtiva do setor é responsável por até 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e por 20% do desperdício de água no mundo. Há um excesso de produção e consumo estimulados pelo chamado fast fashion, que é formado por marcas globais que estimulam a rápida troca de tendências e estilos, produzem muito e com baixa qualidade.

 

Depósitos de roupa velha

Em razão das facilidades de compra via e-commerce, o mercado de peças de vestuário aumentou significativamente no mundo inteiro nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, americanos, europeus e asiáticos ganharam programas de conscientização para evitar o descarte incorreto de roupas em seus territórios, mas a destinação é questionável. Grande parte do refugo vai parar no Chile, sob argumento de doação para reuso. Só que 60% do que chega ao porto de Iquique acabam em alguma montanha de panos e calçados no deserto do Atacama. Gana é outro depósito de roupa velha.

 

Construção verde (I)

A construção civil é outro setor tradicional que dá com enorme contribuição para as emissões globais de gases de efeito estufa. Assim como no mundo da moda, trata-se de um segmento com dificuldades de descarbonização. Para reduzir o impacto negativo do processo construtivo, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a Universidade de Yale e a Aliança Global para Edifícios e Construção (GlobalABC) propõem novas condutas para a cadeia no relatório Materiais de construção e clima: construindo um novo futuro.

 

Construção verde (II)

O relatório tem três linhas básicas: evitar, mudar e aprimorar. Assim, o estudo trata da redução do desperdício e reaproveitamento das estruturas de edifícios já existentes. De acordo com documento, a readequação de construções mais antigas emite de 50% a 75% menos gases do que novas obras. Outra sugestão é o uso de menos quantidade de materiais ou aplicação de insumos menos poluentes ou fáceis de serem reutilizados, como madeira, bambu e biomassa.

 

Construção verde (III)

Com relação a materiais de difícil substituição, como concreto, aço, alumínio, vidro e tijolos, o relatório indica a necessidade de alguma espécie de compensação de emissões. Para isso, sugere a mudança da matriz energética nestes segmentos, com a utilização de fontes renováveis para a geração da energia necessária para a produção de matérias-primas que não podem ser trocadas.

 

Brasil solar (I)

O Brasil está entre os 10 países com maior capacidade de geração de energia solar do mundo. A fonte já responde por 5% da potência nacional. A geração distribuída soma 23,4 GW e as usinas solares centralizadas chegaram em agosto a 10,4 GW de capacidade instalada. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), somente no mês passado 15 usinas fotovoltaicas entraram em operação, com 744,7 MW de capacidade.

 

Brasil solar (II)

Se há crescimento na oferta, a demanda é incerta. Segundo especialistas do setor, o Brasil poderia incluir mais 200 gigawatts de energia solar no sistema elétrico nacional, mas apenas 20% disso seria utilizado no País. A questão envolve preço, que torna a energia renovável ainda cara para consumidor residencial ou industrial. Outra situação reclamada pelo setor são os subsídios ainda existentes para o uso de outras fontes, como as termelétricas.

(Foto: Burgess Milner/Unsplash)

 

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